Biomassa está pronta para gerar mais energia elétrica
Maurício Corrêa, de Brasília —
Em 2010, a fonte biomassa teve um recorde de acréscimo de capacidade instalada, com 1.750 MW (equivalente a uma excelente usina hidrelétrica de grande porte), como resultado de decisões de investimentos planejados antes de 2008, quando o cenário era estimulante à expansão do setor sucroenergético. Da mesma forma que o País em geral, hoje o setor está mergulhado em incertezas, devido à magnitude da crise macroeconômica, mas dispõe de experiência para rapidamente se adaptar aos novos tempos, desde que as regras do jogo sejam mais compatíveis com um bom ambiente de negócios.
Essa é a opinião do economista Zilmar José de Souza, responsável pela área de Bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única). Ele explicou que “a bioeletricidade é um produto importante no portfólio do setor sucroenergético. Juntamente com o etanol e o açúcar, forma o tripé de sustentação do negócio. E tem potencial para crescer, juntamente com o açúcar e o etanol. O volume de bioeletricidade oferecida ao Sistema interligado Nacional pode aumentar em até oito vezes até 2024, tendo por base 2014. Alavancar os produtos energéticos como etanol e a bioeletricidade significa promover produtos que proporcionam ao país uma posição positiva de destaque na discussão mundial sobre sustentabilidade”, opinou.
O executivo da Única disse que, em 2014, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), existiam 177 unidades sucroenergéticas exportando excedentes de bioeletricidade para a rede, de um universo de 355 unidades produtoras, conforme os dados da Única. Assim, a outra metade de usinas sucroenergéticas, com a biomassa já existente nos canaviais, pode passar por um processo de reforma (“retrofit”), além de aproveitarem plenamente o bagaço, a palha e o biogás da vinhaça, tornando-se grandes geradoras de bioeletricidade para a rede.
Por enquanto, a fonte biomassa integra o pessimismo que assola o País. Já chegou a representar 32% do crescimento da capacidade instalada, mas tem previsão de participar em 2016 com apenas 7% da expansão anual da capacidade instalada no Brasil, índice que poderá cair para incríveis 2% em 2020.
No entendimento de Zilmar de Souza, uma das formas para otimizar a geração elétrica gerada pela cana-de-açúcar é a garantia de inserção das usinas nos leilões organizados pelo Governo. “Neste ano, por exemplo, talvez tenhamos somente um leilão (A-5) para participar e que deve ter baixo nível de contratação, já que o Leilão A-3 poderá não ocorrer devido à queda da demanda por energia. Em 2016, o leilão que deve mais contratar supõe-se ser o Leilão de Energia de Reserva, mas que será destinado apenas a eólica e/ou a fonte solar, com tem sido nos últimos anos”, argumentou.
Conforme explicou, desde 2011, a biomassa não tem sido convidada a participar dos Leilões de Energia de Reserva. A expectativa da Única é que a fonte biomassa seja também convidada para participar do leilão de reserva deste ano. “E esperamos que, daqui para frente, a biomassa não seja esquecida nos leilões de energia nova e de reserva futuros. Não convidar a biomassa para participar dos leilões de reserva é uma péssima sinalização”, declarou o executivo.
O Brasil, de fato, historicamente tem sido conhecido como um país que desperdiça muito. Mas, no campo da energia, não dá mais para brincar, considerando os impactos ao meio ambiente. Em outras palavras, há um enorme potencial de expansão da geração elétrica a partir da biomassa que simplesmente não pode ser jogado fora. Zilmar de Souza calcula — os números estão sendo fechados — que, em termos de energia exportada para a rede, em 2015, a biomassa representou em torno de 5% do consumo nacional na rede. Em 2024, este fonte poderia representar 24% do consumo nacional na rede. No consolidado, a bioeletricidade tem é aumentado o total de geração para a rede, geralmente, em índice bem superior ao crescimento da moagem de cana. Entre 2013 e 2014, as usinas aumentaram a geração para a rede em mais de 20%. Entre 2012 e 2013, em 32%.
Para a Única, um campo decisivo é a área de regulação, que deveria estimular o aproveitamento do potencial desta fonte renovável de geração. Na opinião do gerente de Bioeletricidade, “para que isto ocorra, há um desafio posto a agentes, sobretudo aos formuladores de políticas públicas: construir um marco institucional contendo um ordenamento regulatório que reconheça os benefícios da bioeletricidade e do etanol e garanta um ambiente econômico estável, seguro e estimulante para os empreendedores, definindo-se o papel desses produtos, no longo prazo, na matriz de energia do Brasil”.
Nas contas da Única, 67 companhias do setor sucroenergético estão em processo de recuperação judicial. Contudo, várias dessas empresas foram adquiridas por concorrentes próximas, que incorporaram a plantação e assumiram o processamento da cana. Segundo Zilmar, diante disto, com relação à bioeletricidade ofertada para a rede, em linhas gerais, “não houve comprometimento na entrega de energia, até porque, geralmente, a usina que exporta energia, normalmente, consegue ter um portfólio de receita mais estável – devido aos contratos de longo prazo de energia – o que pode ajudar a ter indicadores econômico-financeiros mais adequados e distanciá-la da recuperação judicial”.
Para o executivo, isto mostra como é importante uma política pública arrojada dedicada à contratação de bioeletricidade para o setor sucroenergético como um todo, que inclui a produção de etanol, outro importante produto que o Brasil terá que estimular sua expansão na matriz de energia, objetivando garantir o cumprimento dos compromissos ambientais assumidos na Conferência do Clima (COP21), ocorrida em Paris, em dezembro de 2015.