O nosso pobre capitão
Maurício Corrêa, de Brasília —
O hesitante — às vezes delirante — presidente Bolsonaro deveria olhar para algumas pessoas do seu próprio Governo para governar de forma mais objetiva e eficiente.
É verdade que o Governo Bolsonaro não é lá uma Brastemp, mas tem alguns ministros que fazem um bom trabalho.
Por exemplo: tem o ministro Tarcísio, da Infra-Estrutura; tem o almirante Bento, de Minas e Energia; a deputada Tereza Cristina, da Pasta da Agricultura. Obviamente, tem o ministro Paulo Guedes.
Os ministros militares agrupados em torno do presidente têm sido bons destaques: ministro da Defesa, general Fernando; ministro do Gabinete Institucional, general Heleno, e o general Santos Cruz, que tem sido alvo praticamente diário, de palavrões proferidos por pessoas próximas ao presidente.
Nesse contexto, o ministro Moro, talvez por falta de experiência ou timidez, ainda não revelou todo o seu potencial, embora seja uma pessoa querida e admirada.
Quatro meses depois de iniciar a sua gestão, está claro que o presidente Bolsonaro não estava preparado para governar. É verdade que, como candidato, soube capitalizar o enorme descontentamento de larga faixa da população que não queria ver novamente o PT no Governo e que queria, sim, continuar a ver o crustáceo corrupto curtindo a sua cela especial em Curitiba.
Só que governar é muito mais do que isso, é muito mais do que entender como funcionam as redes sociais e os impactos entre os eleitores.
Coitado do Brasil. O País tem tido experiências muito medíocres com os seus presidentes mais recentes. Lula camuflou sob a sua enorme popularidade uma articulação sutil para montar a quadrilha que assaltou a Petrobras em benefício do seu partido, como organização, e de alguns que não resistiram e acabaram metendo a mão. Era muita grana, fácil, e ficou difícil resistir.
Sua sucessora diz que não roubou. Se não o fez, com certeza fechou os olhos e deixou que roubassem. Dilma até hoje ainda é aquela mocinha de Belo Horizonte que se tornou stalinista. Ela acredita que os fins justificam os meios e, nessa maneira meio torta de ver o mundo, assaltar o Estado é um pecadilho que deva ser perdoado aos companheiros preocupados com a justiça social. Além de confusa é absurdamente incompetente, para quem se diz possuidora de um título de doutor em Economia.
Michel Temer poderia ter passado à História como um presidente que restaurou a dignidade no cargo. Mas foi cedo abatido por um esquema primário de corrupção por ele montado, que funcionou enquanto era uma figura menor da República.
Ao virar presidente, o constitucionalista engomado virou vidraça e não resistiu a uma semana de investigação da grande mídia. Como se trata de um quase octogenário, provavelmente passará o resto dos seus dias fugindo do alcance da lei, junto com o seu fiel amigo e laranja coronel Lima, que provavelmente vai morrer sem incriminar o ex-presidente.
Nesse contexto, Bolsonaro chegou a representar uma esperança. Entretanto, a experiência histórica já mostrou que não basta ser uma espécie de Jânio Quadros para ser eleito e governar o Brasil. É preciso ter conteúdo.
Infelizmente, Bolsonaro não tem conteúdo para ser presidente da República. É um pobre coitado. Despreparado intelectualmente, incapaz de entender como funciona a sociedade. Tem uma visão limitadíssima da História, ao contrário dos seus ministros-generais, que sabem o que estão fazendo no Governo.
Essa é uma situação curiosa, que nem todos os civis entendem. Bolsonaro e os seus generais estudaram juntos. São praticamente da mesma turma na Academia Militar de Agulhas Negras. Por que Bolsonaro é tão limitado, enquanto os seus ministros-gerais são tão capacitados? É fácil explicar.
Bolsonaro deixou a vida ativa do Exército quando tinha 30 e poucos anos de idade e era um simples capitão de Artilharia. Depois de se formar na Aman e começar a vida como profissional de uma unidade militar qualquer, o jovem oficial não estuda nada, a não ser manuais operacionais de instrução. Bolsonaro estudou então os manuais sobre centrais de tiro de Artilharia, sobre o comando de pequenas unidades de Artilharia, provavelmente sobre guerra na selva, etc. São os cursos que os oficiais até capitão fazem.
Como capitão, ele se envolveu com o sindicalismo militar, foi punido pelo comando do Exército. É provável que tenha sido dada a ele uma saída honrosa: pedir demissão do serviço ativo para não ser expulso. O fato é que ele pediu demissão. Depois seguiu a carreira política, sem qualquer apreço pelos partidos. Tanto que passou por vários. Nunca mais estudou, no que tem muita afinidade com o ex-presidente Lula.
Seus colegas de farda, entretanto, seguiram a carreira militar e estudaram bastante, como majores, coronéis e generais. O Exército pode ter vários defeitos, mas só se chega ao ponto mais elevado da carreira através do mérito. Quem não estuda, não chega lá.
Essa é a diferença fundamental entre os ministros-generais (inclusive o vice Hamilton Mourão) e o pobre coitado do presidente Bolsonaro. Enquanto os generais estudaram, viajaram e passaram a ter uma outra compreensão a respeito do Brasil, Bolsonaro adquiriu aquela simpática arrogância dos parlamentares, que acham que sabem tudo e não sabem absolutamente nada.
É muito difícil imaginar que o presidente Bolsonaro possa chegar ao final do seu mandato. Não que este site esteja pregando um golpe, nada disso. O que ocorre simplesmente é que Bolsonaro não tem gás para chegar lá. Vai cair sozinho, pela sua incapacidade de articulação, pela sua miopia gerencial e pelo apego a ideias sem pé e sem cabeça que a extrema direita espalha por aí.
Voltando ao início deste texto, Bolsonaro poderia conversar mais com o seu ministro de Minas e Energia, almirante Bento. É um servidor público afável, que não deixa de ter as suas convicções. É disciplinado, mas ouve a sua equipe. Tem autoridade, sem ser autoritário. Não se envolve com fuxicos e com as intrigas de Brasília. Simplesmente toca a sua Pasta. Ninguém nunca ouviu uma história de baixo nível envolvendo o ministro de Minas e Energia e alguma confusão das mídias sociais. Ele não perde tempo com isso.
E principalmente entrega o serviço com razoável competência e condições de diálogo com os agentes envolvidos.
Essa eficiência é que está faltando ao presidente-capitão. Sob certas condições, parece uma criança, gastando enorme quantidade de energia pessoal com uma bobagem chamada redes sociais. Não consegue entender que essas redes podem, sim, contribuir para ajudar a se fazer um bom governo. Mas, por si só, não representam absolutamente nada.
O capitão, que tem uma visão equivocada de País, não consegue entender essas sutilezas. Ele deveria estar lá na China, corrigindo as asneiras que fez com o nosso principal parceiro comercial. Só que, na hora da conversa entre os cachorros grandes, preferiu delegar a responsabilidade ao vice Hamilton Mourão, este, sim, um craque que está mais do que preparado para o Poder.
Em vez de olhar os chineses na cara, que foram hostilizados desnecessariamente por falta de visão da História por parte do presidente-capitão, Bolsonaro preferiu receber um prêmio chinfrim, nos Estados Unidos, que não tinha qualquer importância.
Personalidades como Bolsonaro parecem ser estranhamente possuidoras de uma visão maniqueísta da História, do tipo “quanto pior, melhor”. Só que isso enseja algumas preocupações, quando o principal mandatário do País vê o mundo dessa forma delirante.
O enorme capital político conquistado pelo presidente, nas eleições, não está totalmente perdido, mas grande parte já virou fumaça, como indicam as pesquisas de opinião. É possível que essas contas sejam feitas de forma mais dramática no segundo semestre deste ano, pois aparentemente o presidente-capitão não tem muito o que mostrar além do que já mostrou. Na política não existem fórmulas mágicas.
É possível que sejam encontradas outras maneiras de se encontrar algumas soluções para o País, pois o modelo estressado pelo atual presidente não leva a lugar algum. Pode ser que se busque um modelo que, sem abandonar o antipetismo, tenha foco na eficiência e não na porralouquice bolsonariana.
A sociedade, enfim, quer mais governo e menos blá-blá-blá.