Kaputt
“Kaputt” é uma palavra alemã que pode ser traduzida por quebrado, acabado ou destruído. Algo que se partiu e não tem mais conserto. A palavra também é o título de um extraordinário livro do escritor italiano Curzio Malaparte, que assim designou as atrocidades que ele, na condição de correspondente de guerra, testemunhou na frente russa, quando a Alemanha nazista já caminhava em direção ao fim. Não é um exagero aplicar o conceito de “kaputt”, por analogia, ao momento atual do Brasil.
Na “Opinião do Editor” anterior, este site assinalou que o Brasil se comporta, no campo econômico, como uma espécie de ônibus que desce a ladeira em alta velocidade e o motorista está embriagado. Agora, o site disponibilizou em manchete a matéria “Uma Belo Monte à espera de comprador”, elaborada pela Agência Estado — de quem compra os direitos autorais — mostrando que, hoje, existem à venda, no Brasil, 11.233 MW de energia, na forma de usinas hidrelétricas, parques eólicos, linhas de transmissão e, inclusive, comercializadoras. Ou seja, alguns agentes do setor elétrico estão jogando a toalha, pois o mundo real da economia é desanimador. Se as coisas fossem boas, ninguém estaria vendendo nada. É uma notícia não apenas preocupante, mas, sobretudo, triste.
De acordo com o mesmo texto, o cenário é terrível, caracterizado pela fragilidade econômica e pelo elevado custo das operações de crédito, o que impele muitas empresas a simplesmente sair do negócio. É verdade que o Brasil, hoje, está muito barato, com o dólar em torno de R$ 4,00. Embora o mundo lá fora não esteja grande coisa, ainda assim circula uma enorme quantidade de dinheiro no planeta, em busca de pouso suave em lugares que tenham oportunidades atraentes. O Brasil, apesar de todas as dificuldades geradas pela ineficiência, pela burocracia, pela política e pela economia, ainda assim é considerado um lugar razoável para aportar capitais, embora com algum risco. Nesse contexto, as empresas à venda podem encontrar compradores e o mundo vai seguir o seu caminho.
O fato concreto é que o Brasil está andando de ré. Em 2014, a economia ficou estagnada, com uma expansão do PIB de apenas 0,1%. No ano passado, o número acaba de sair, o PIB caiu 3,8%. E as perspectivas para 2016 são igualmente tenebrosas, falando-se em nova queda, algo entre 3% e 4%. O País tem os piores resultados econômicos nos últimos 25 anos e o único setor que ainda consegue alguma coisa positiva é o agroindustrial.
Quem acompanhou o noticiário dos últimos dias observou claramente que não se aposta mais um tostão furado na continuidade do atual Governo. Os especialistas da política deixaram claro que não existe apenas o esgotamento de um modelo econômico, mas o fim do próprio Governo, pois este tem sido absolutamente incapaz de aplicar medidas que façam girar novamente as rodas da economia. Perdido no meio do tiroteio da corrupção e da absoluta falta de credibilidade, o Governo simplesmente deixou de funcionar. Já não se especula mais se o atual Governo vai deixar ou não de existir. As perguntas que se faz agora é quando isso vai acontecer, de que forma ocorrerá (impeachment ou renúncia) e o que virá depois.
Em qualquer país, quando explode uma crise a bolsa cai e o dólar sobe. Aqui tem sido diferente. Mesmo com o aprofundamento da crise política e econômica, todos os dias a bolsa sobe e o dólar cai. Isso acontece não porque o Brasil é o país do carnaval, mas porque os agentes simplesmente já precificaram que a queda do Governo vai ocorrer e que haverá uma substancial melhora do ambiente econômico logo depois. Tem muita especulação nessa maneira de ver o mundo, mas também tem uma lógica que não se pode desprezar.
Este site torce para que o desenlace seja rápido, pois o País já está sofrendo muito com a crise atual, principalmente os milhões de trabalhadores que estão sem emprego. Temos um setor elétrico bem estruturado, apesar da crise e dos equívocos cometidos a partir de 2003. Se as previsões dos especialistas estiverem certas e de fato houver uma mudança de Governo, será necessário fazer ajustes não apenas no setor elétrico, mas em toda a área de energia. De qualquer modo, não será o fim do mundo e, sim, apenas mais um recomeço. Que venha rápido.