Nova política do GN, ano zero
A nova política governamental voltada para o desenvolvimento do mercado de gás natural está na praça. Evidente que ela não é algo acabado. Enganam-se o que pensam que, de repente, tudo vai se transformar da água para o vinho, num passe de mágica. Ao contrário, agora é que a confusão só está começando, pois há muito serviço pela frente.
Se o turbulento governo Bolsonaro tivesse terminado nesta terça-feira, 23 de julho, só a nova política do gás natural já teria justificado a sua existência, a despeito de qualquer outra polêmica que o presidente tenha criado através de suas agendas paralelas, que tiram o foco de coisas mais relevantes que estão acontecendo no seu governo.
As mudanças anunciadas na área do gás natural fazem parte dessas contradições. Justamente no momento em que o Governo deveria se envolver de corpo e alma para mostrar à população o que significa esse conjunto de decisões, o presidente da República prefere gastar a sua energia pessoal com polêmicas envolvendo os nordestinos.
Ou então a controvertida indicação do filho Eduardo para a embaixada do Brasil em Washington. Realmente, é um governo que não tem apenas um norte. Tem vários, o que acaba tirando a força das coisas positivas que estão acontecendo por aí. Bom, é o presidente Bolsonaro e, de certa forma, os brasileiros já se acostumaram com o seu modo peculiar de tocar a administração pública.
Como disse a este site Paulo Pedrosa, ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia e atual presidente da associação dos grandes consumidores industriais de energia, a Abrace, o programa do gás natural é uma das mais espetaculares propostas introduzidas na economia brasileira nos últimos 15 anos. Mesmo que alguns brasileiros nem tenham essa percepção.
Pedrosa sabe sobre o que está falando, pois tem sido há longo tempo um entusiasta do aumento da participação do gás natural na matriz energética brasileira, como meio de aumentar a competitividade da indústria. O programa anunciado pelo governo, nesta terça-feira, 23 de julho, sem dúvida tem uma beiradinha contendo a impressão digital de Paulo Pedrosa, que há anos dorme, sonha, respira e se alimenta pensando na relevância do gás natural para a economia nacional. Este site lhe presta uma justa homenagem.
Esse programa do gás anunciado pelos ministros Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e Paulo Guedes, da Economia, com aval do presidente Jair Bolsonaro, coincide com alguns milagres. O primeiro deles é que a raiz de tudo isso está no governo Temer, que foi uma temeridade sob vários ângulos.
Foi justamente na gestão de Temer, afinal, que o MME iniciou uma corajosa correção de rumo na política energética, com vários avanços que ficaram estancados durante o caos autoritário, demagógico e ineficiente do petismo e dos seus parceiros do PMDB/MDB. O ex-presidente Temer, que era o dono desse mesmo PMDB/MDB, jamais percebeu que durante dois anos o MME foi a melhor expressão da sua gestão. Nunca teve capacidade para entender esse pequeno detalhe.
Como todo populista, ele preferiu entregar o MME, nos meses finais do seu governo, às correntes mais destrutivas do seu partido e quase conseguiu destruir tudo o que havia sido feito desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff até a troca do ministro Fernando Coelho Filho por Wellington Moreira Franco, um dos caciques populistas do PMDB/MDB.
Já no governo Bolsonaro aconteceu um segundo milagre, que foi a total interação entre os ministros Bento Albuquerque e Paulo Guedes na busca por um novo modelo de comercialização do gás natural. Essa aliança é que permitiu chegar à solenidade de 23 de julho no Palácio do Planalto. Esses dois ministros têm feito um trabalho muito relevante e, nessa questão do GN, também estão de parabéns. O Brasil agradece o empenho de ambos.
Ainda há muitas dificuldades a se enfrentar, pois existem muitos adversários do novo modelo. Entre essas figuras encontram-se forças poderosas da política brasileira, que estão encasteladas nas administrações estaduais. Ao contrário da energia elétrica, cuja regulação é federal, no gás natural a regulação é de responsabilidade dos estados, o que acaba gerando enorme instabilidade em tudo o que se tenta fazer para se avançar na política do GN.
Este site tem uma visão positiva e acredita que será possível encontrar um entendimento comum, de modo que a política do gás natural possa seguir em frente, beneficiando agentes e consumidores. O Brasil está aos poucos aprendendo a conviver com o GN e o avanço que já se conseguiu, desde o fim da gestão petista, é algo extraordinário.
Oxalá o País, em termos de gás natural, consiga manter o terreno que já foi conquistado, não retroceda e sempre vá em frente.