O papel das associações empresariais do SEB
Maurício Corrêa, de Brasília —
Este site já fez comentários sobre o papel desempenhado pelas associações empresariais do setor elétrico. Está na hora de voltar ao tema, pois não se pode culpar apenas o Governo por eventuais problemas que afetam os diversos segmentos do SEB.
De modo geral, as associações cumprem o seu papel institucional. Sofrem algumas limitações (da política interna, de insuficiência dos recursos humanos e financeiros, etc), mas ainda assim na maioria das vezes conseguem entregar um bom trabalho aos associados que as controlam.
Existem situações, entretanto, que são específicas das próprias associações, razão pela qual não se pode apenas dizer que o Governo ou a mídia são culpados de determinadas coisas. Está enganado quem pensa que é fácil trabalhar nas associações. Não é, devido à dificuldade diária de se equilibrar as legítimas aspirações dos associados e o poder de decisão das autoridades. Mas existem outros fatores que nem sempre são comentados.
Por exemplo: uma grande associação durante anos insistiu em manter a sua sede em São Paulo, junto aos seus associados, quando o jogo há muito tempo estava sendo jogado no Planalto Central, junto ao MME, na Aneel ou no Congresso Nacional. Demorou um pouco a entender a situação, mas acabou corrigindo um problema que a associação mesmo criava.
Uma outra organização resolveu ser a elite do setor elétrico e no seu próprio Estatuto Social definiu que só aceitava associados de determinado porte. É um direito que lhe cabe, pois não se trata de serviço público e você só chama para o clube aqueles com os quais tem afinidade. Durante algum tempo, correu tudo certo, mas a associação foi aumentando as suas atividades e ao mesmo tempo perdeu associados. Resultado: hoje o seu orçamento está no osso e para qualquer coisa que escapa do feijão com arroz há um mundo de dificuldades, pois o dinheiro é sempre curto. Nem sempre as empresas que integram associações gostam de ver o chapéu passando na sua frente para cobrir buracos de orçamento.
Com uma outra associação aconteceu o contrário. Ela flexibilizou de maneira tal a sua composição de associados, que hoje é integrada por dezenas de pequenas empresas que pagam uns trocados por mês à organização. Agora, boa parte do tempo de trabalho da associação é direcionado à cobrança mensal dos associados.
Não se pode esquecer que ainda há aquela associação que inesperadamente denunciou um próprio associado na Aneel, por práticas comerciais indevidas. A Aneel absolveu o tal associado, o qual ameaçou a associação com um processo judicial caso ela não se retratasse pública e formalmente. A exigência foi atendida e todos continuaram coexistindo pacificamente, como se nada tivesse acontecido. Exatamente como em alguns casamentos, quando as denominadas traições são absorvidas e jogadas para baixo do tapete.
Um outro caso interessante é de um organização empresarial que tinha alguma expressão política, mas o seu ambiente interno se deteriorou, até que houve uma cisão interna devido a desentendimentos estratégicos e isso acabou gerando uma associação filhote. Hoje, o segmento conta com duas associações absolutamente iguais, que batalham exatamente pelas mesmas coisas, contam com estruturas semelhantes, só que a força política, que era razoável, foi naturalmente diluída. Resultado: a circunstância atual, de divisão, dificulta enormemente a conquista dos objetivos pretendidos pelo segmento.
No dia que os egos que mandam nessas duas associações passarem por uma boa terapia, verão que não há razões objetivas para manter a divisão e que tudo não passa de um gigantesco mal-entendido. Os grupos poderão se unificar e os associados com certeza vão parar de culpar o governo por todas as dificuldades que impactam esse segmento.
Esse mundo de bastidores das associações empresariais tem muitas histórias para serem contadas. Aliás, nem todas podem ser contadas, pois revelariam ineficiências e desperdícios que nem sempre podem ser provados. De qualquer forma, há um caminho a percorrer dentro dos próprios segmentos, envolvendo as respectivas representações institucionais, pois nem sempre o governo é o principal inimigo. Às vezes, o inimigo dorme dentro da própria casa.