CPI no Paraguai investiga acordo sobre Itaipu
O Paraguai anunciou na sexta-feira, 02 de agosto, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do presidente Mario Abdo Benítez e do vice-presidente Hugo Velázquez no acordo assinado em maio com o governo brasileiro para a renegociação da venda de energia paraguaia vinda de Itaipu, anulado na quinta-feira.
O pacto previa um aumento gradual do valor pago pelos paraguaios A CPI investigará se houve de fato traição à pátria e afronta à soberania paraguaia, acusações feitas pela oposição.
Os nomes dos cinco senadores que compõem a mesa foram divulgados ontem. Dois são integrantes do Partido Colorado (ANR), governista, enquanto outros dois fazem parte do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), principal opositor de Abdo Benítez. A composição do restante do grupo, de cinco deputados, deve ser anunciada na segunda-feira.
“Haverá uma disputa política muito forte, porque estão representados todos os setores, incluindo aqueles que sustentam de maneira clara que existem elementos para abrir um processo político”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o sociólogo e analista político paraguaio Camilo Soares.
Embora a função da comissão não seja encaminhar um processo de impeachment contra Benítez ou Velázquez, ela poderia encontrar informações relevantes que mostrem que houve um ato de corrupção “Se isso acontecer, o pedido de impeachment dos deputados certamente ganhará força”, avalia Soares.
O presidente e o vice seguem na mira de um pedido de impeachment Apesar do cancelamento do acordo com o Brasil ter sido visto como uma medida para manter Benítez no poder, o PLRA deve apresentar na Câmara um pedido de julgamento político contra o presidente e seu vice. Os 30 deputados do partido ainda precisam de mais apoio para compor os 53 votos necessários para a aprovação do pedido em plenário.
Apesar de, inicialmente, o Partido Colorado ter se manifestado a favor do impeachment, a vertente ligada ao ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes (2013-2018), decidiu apoiar o presidente. O PLRA não deve ceder, já que metade do partido segue a ala ligada ao presidente do partido, Efraín Alegre, derrotado por Benítez em 2018.
Escândalo
A imprensa do Paraguai divulgou ontem novas mensagens de celular atribuídas a Pedro Ferreira, ex-presidente da estatal elétrica paraguaia Ande, e ao advogado José Rodríguez González, assessor jurídico da vice-presidência do Paraguai.
Elas indicam o envio de uma carta de intenções ao empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), mencionando a possibilidade de compra de energia da Ande. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Giordano disse que não se recorda da carta e voltou a negar qualquer relação da sua ida ao Paraguai com a retirada de uma cláusula do acordo bilateral que permitiria a venda de energia a pessoas jurídicas sem autorização da Eletrobrás. “Isso deve ser uma briga política deles. Não tenho nenhuma relação com esse acordo. A Léros me chamou e eu fui lá escutar a proposta da Ande sobre venda de energia. Existe uma licitação aberta, que é pública. Eu não comprei nada. A própria Léros não assinou nada”, afirmou.
Giordano também negou ter se apresentado como senador e usado o nome do presidente Jair Bolsonaro na reunião com diretores da Ande. Filiado ao PSL, ele é dono de empresas de mineração, terraplenagem e instalação de materiais metálicos usados em torres de energia e se diz fornecedor da Léros, que é geradora e comercializadora de energia no Brasil. A reportagem tentou contato com Kléber Ferreira, sócio da Léros, mas ele não atendeu as ligações.
De acordo com o canal de TV paraguaio NPY, no começo de maio, González abordou Ferreira usando o nome do vice-presidente Hugo Velázquez e da família de Bolsonaro para conseguir uma reunião entre a Ande e um enviado da Léros.
Em 17 de maio, uma semana antes da assinatura da ata sobre Itaipu, González revelou ao presidente da Ande o interesse da Léros em contratar energia paraguaia. O acordo vigente proibia a venda de energia excedente de Itaipu para pessoas jurídicas sem autorização da Eletrobrás. Segundo González, a flexibilização desta proibição chegou a ser discutida, mas não avançou a pedido de Velázquez, o vice-presidente paraguaio.