Ser ou não ser Governo
O mundo da política tem mostrado, nos últimos dias, que realmente não é para amadores e nem para quem tem o sangue quente. No início de dezembro do ano passado, quando a presidente Dilma Rousseff estava em uma situação política ainda forte e tudo indicava que daria a volta por cima com facilidade na história do impeachment, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, saiu de uma reunião no Palácio do Planalto e deu o tom do discurso para grande parte do PMDB: o partido não tinha tradição de se envolver em golpes (palavras do ministro) e ele cerrava fileiras em apoio à presidente da República. Naquele momento, só uns poucos políticos de expressão dentro do PMDB ousavam em insistir na tese do impeachment.
Só que em pouco mais de três meses o cenário da política brasileira mudou radicalmente e agora tem gente, dentro do PMDB, que se lembra da ênfase como o ministro Braga saiu em defesa da presidente. Foi lembrado também que, na convenção nacional realizada no início de março, em Brasília — quando o Governo Federal foi extremamente hostilizado e muitos ministros ficaram estranhamente em silêncio — aprovou-se uma moção dando poderes ao Diretório Nacional para providenciar o desembarque do partido da enorme coalizão de apoio ao Governo, o que provavelmente vai se configurar nos próximos dias
Eduardo Braga, nos últimos dias, está visivelmente mergulhado e provavelmente pensando na sua vida partidária. Ele continua trabalhando normalmente, mas a sua agenda deu uma reduzida, como, aliás, ocorre com o resto do País. Diante disso, colegas do seu próprio partido estão curiosos quanto ao ministro:
- o que é que ele hoje pensa exatamente em relação ao Governo Dilma?
- para o ministro de Minas e Energia, a maioria do PMDB, que agora quer o impeachment — Michel Temer à frente — é golpista?
- o ministro continua bem relacionado com a cúpula do Partido ou ficou alguma sequela por causa da sua declaração de 08 de dezembro?
- se o PMDB desembarcar do Governo, qual será o posicionamento pessoal de Braga: simplesmente entregará a Pasta e permanecerá fiel ao Partido ou copiará a atitude do seu colega George Hilton, dos Esportes, que trocou o PRB pelo Pros para continuar ministro, depois que o PRB abandonou o barco? É uma decisão a ser tomada nos próximos dias.
Sob o ângulo técnico — que é algo que o MME precisava há muitos anos — o ministro tem feito bom trabalho e tem se esforçado para colocar as coisas nos eixos, mas não tem como, no momento atual, não ser contaminado pelas implicações da política. Os desdobramentos da política, nas próximas semanas, seguramente darão as respostas aos que acompanham as atividades do ministro Braga.