Eletrobras desmente pressão do governo
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, rechaçou a informação de que tenha havido qualquer pressão do governo para capitalizar a estatal, por meio da operação do aumento de capital anunciada na terça-feira, 15 de outubro, para gerar recursos à União por meio do pagamento de dividendos, para o fechamento das contas do ano. “Houve total independência da companhia na proposição para o Conselho de Administração e na aprovação pelo Conselho”, disse o executivo, durante teleconferência com analistas e investidores.
Ele defendeu que, se o governo efetivamente quisesse os recursos da Eletrobras, seria mais fácil realizar diretamente a capitalização dos cerca de R$ 4 bilhões de Adiantamentos para Futuro Aumento de Capital (AFACs) e com esse recurso pagar os dividendos, alternativa em que a União receberia um volume maior de recursos.
“Vamos limpar o balanço, é uma obrigação pendente há muito tempo, em um momento que precisa ser feita, dada a decisão de privatização”, disse, referindo-se à obrigação de capitalizar os AFACs transferidos para a Eletrobras até 2016 e dos custos que envolvem a manutenção do passivo. Além disso, ele destacou que a oportunidade para avaliar pagamento da reserva especial de dividendos, de R$ 2,3 bilhões, refere-se a 2020.
Ferreira Junior também negou informações que circularam na imprensa de que a União tenha desistido de injetar recursos na Eletrobras, tendo em vista a caducidade da Medida Provisória 879, que não foi votada pela Câmara e resolvia um imbróglio sobre créditos originalmente detidos pelas distribuidoras privatizadas e que foram repassados à holding para viabilizar a venda dos ativos.
Segundo o executivo, a companhia faz jus ao crédito, conforme previsto na lei 13.299. “A expectativa é que essa questão seja tratada no projeto de lei da privatização”, comentou.
Recálculo de valor por ação
O presidente da Eletrobras ainda afirmou que a companhia não vai recalcular o valor por ação proposto na operação de aumento de capital anunciada pela companhia. O preço indicado para a emissão de novas ações é de R$ 35,72 por ação ordinária e R$ 37,50 por ação preferencial classe “B”, o que tem sido questionado por analistas e investidores.
A companhia justificou que o valor foi definido com base em uma média ponderada das respectivas cotações das ações de emissão da Companhia verificadas no fechamento dos últimos 30 pregões da B3 anteriores à 7 de outubro de 2019 (inclusive), em relação ao preço médio ponderado pelo volume de ações negociadas no período, e considerando-se o deságio aplicado de 15%.
Ferreira Junior salientou que notícias sobre resistência à privatização e outras também negativas para a empresa pesaram nos papéis desde meados de setembro, e comentou que algumas medidas positivas para a companhia ainda não tinham sido devidamente precificadas pelo mercado, como o novo plano de demissão consensual (PDC), que tem economia estimada de R$ 510 milhões por ano, o acordo sobre o desligamento de terceirizados de Furnas, com economia estimada de R$ 280 milhões anuais, e recentes avanços em projetos da companhia.
O presidente da Eletrobras destacou que somente o Termo de Liberação Definitiva dos bipolos 1 e 2 do Complexo do Madeira adicionará receita anual de R$ 71 milhões por ano. “Esse aumento vira diretamente Ebitda”, comentou. Além disso, ele salientou que, entre o terceiro e quarto trimestres, entram em operação novos projetos que agregarão cerca de R$ 3,16 bilhões por ano, com impacto nos resultados a partir do ano que vem. Dentre esses projetos estão as hidrelétricas de Belo Monte, Sinop, o projeto eólico de Fortim, o empreendimento de transmissão Mata de Santa Genebra, entre outros.
Ele também comentou que a companhia deve divulgar o balanço do terceiro trimestre antes da assembleia de acionistas que avaliará a operação, marcada para o dia 14. Isso, segundo Ferreira, também deve contribuir para a melhor avaliação da operação.