Cogen e Única querem biomassa em leilões
Da Redação, de Brasília (com apoio da Cogen) —
O setor de cogeração a biomassa, especialmente o sucroenergético, defende a inclusão da bioenergia nos Leilões de Energia Existente A-4 e A-5 de 2020, ambos agendados para o dia 31 de março. A demanda é da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) e da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), que esperam sensibilizar o Ministério de Minas e Energia (MME) a rever a posição.
De acordo com as diretrizes anunciadas no dia 16 de outubro pelo MME, os certames contemplam a contratação de energia proveniente de usinas termelétricas movidas a somente duas fontes: gás natural e a carvão mineral. Os leilões visam a recomposição de contratos das empresas de distribuição decorrentes dos leilões de energia nova realizados em 2005, 2006 e 2007, bem como contratos remanescentes do Programa Prioritário de Termeletricidade.
Para o diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen, Leonardo Caio Filho, é fundamental que o MME reavalie o assunto, permitindo que as usinas de biomassa possam participar dos leilões. “Esperamos que o MME possa reconsiderar o assunto. Um dos objetivos do leilão é o de substituir térmicas a óleo, mais caras e poluentes, por tecnologias mais eficientes. E, no nosso entendimento, as usinas movidas a biomassa podem substituir perfeitamente as térmicas a óleo porque podem garantir de forma confiável, o suprimento firme de energia
elétrica. Além do mais, são renováveis”, diz Leonardo Caio.
“As usinas movidas a biomassa vêm demonstrando ampla capacidade de responder às necessidades do Setor Elétrico Brasileiro com eficiência energética e confiabilidade — especialmente no período mais seco do ano, entre os meses de abril e novembro. O setor sucroenergético contribui para poupar, em média,15 pontos percentuais do nível de água
dos reservatórios das hidrelétricas do sistema Sudeste/Centro-Oeste. Isso significa que, se não fosse a contribuição das usinas de biomassa de cana-de-açúcar, o nível da água teria chegado a 4% em 2018, o que causaria racionamento”, exemplifica o diretor da Cogen.
Para gerente de Bioeletricidade da Única, Zilmar de Souza, incluir a biomassa é importante até mesmo para aumentar a concorrência do certame. “Nos leilões de energia nova, a biomassa tem concorrido com carvão mineral e o gás natural. Até por uma coerência de política setorial, seria uma sinalização importante que o MME incluísse a biomassa. Na verdade, nem defendemos que a biomassa concorra na mesma modalidade com carvão e gás – somos favoráveis à criação de uma modalidade separada. Mas, dada a importância desses leilões, queremos participar e concorrer. Essa visão é importante não só do ponto de vista do gerador e do investidor, mas também pelo
consumidor final, que acaba se beneficiando com a competição do certame”, afirma Zilmar de Souza.
Descontratação em 2023
Uma das preocupações da Cogen e da Única é com o vencimento, em 2023, de muitos contratos de usinas de biomassa no ambiente regulado. “São mais de 2 GW que terão seus contratos vencendo a partir de 2024. E esse momento casa exatamente com o período de início de entrega desses leilões A-4 e A-5 de energia existente. A possibilidade de participar desses leilões seria um incentivo a mais para investimentos em retrofit, não só das usinas
que contribuem para o Sistema Interligado Nacional, mas também das que ainda não exportam energia”, afirma Leonardo Caio Filho.
Para o diretor da Cogen, o MME deve considerar o incremento de produção das usinas de biomassa com advento do Programa de RenovaBio. “O Programa RenovaBio deve elevar a produção de etanol de 30 para 50 bilhões de litros anuais, entre 2030 e 2050, ampliando em 200 milhões de toneladas o uso de cana por safra. Nos nossos cálculos, esse excedente a adicionar pelo menos mais 4 GW de energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN).”
“O planejamento energético deve considerar esse potencial de crescimento de bioenergia que as usinas de cana-de-açúcar irão entregar nessa próxima década, estimulando políticas de contratação de energia que valorizem os atributos ambientais, de forma coerente com os objetivos do Programa RenovaBio. Nos cálculos da Única, a
bioeletricidade sucroenergética para a rede tem potencial para crescer mais de 50% até 2027, saindo de 21,5 mil GWh em 2018 para 33,2 mil GWh”, completa Zilmar de Souza.