MME: políticos de olho grande
Um dos grandes méritos do presidente Jair Bolsonaro foi deixar o Ministério de Minas e Energia sob uma gestão tecnocrática, tendo o almirante Bento Albuquerque à frente da Pasta.
O MME sempre foi considerado uma espécie de feudo da classe política. Já pertenceu ao antigo PFL (hoje DEM), já foi do PMDB (hoje MDB). Os governos petistas usaram e abusaram do MME, não apenas em negócios às vezes obscuros, mas, também, implantando políticas setoriais absolutamente incompetentes. Foi o caso, por exemplo, da famigerada MP 579, durante o Governo da presidente Dilma, que quebrou o SEB.
Na gestão Temer, o MME sofreu uma “limpa” e conseguiu não apenas retomar um conjunto de ideias mais compatíveis com a modernidade, como foi além. Um jovem deputado, pertencente à elite política do Nordeste, nesse período ficou à frente da Pasta a maior parte do tempo (depois da velharia do MDB retomou o controle), mas a parte executiva coube a jovens tecnocratas apartidários, que com muita competência, sob o comando do então secretário-executivo, Paulo Pedrosa, imprimiram nova dinâmica ao MME.
Não sendo da área e tendo herdado quadros das gestões passadas do MME, o ministro Bento tem se esforçado para realizar uma gestão correta, embora escorregando de vez em quando. Patinou, por exemplo, com essa proposta mirabolante de modernização do setor elétrico, que, se concretizada, conseguirá modernizar o SEB por volta de 2.050. Simplesmente, não foi feita para modernizar nada. Bento poderia apenas pegar os resultados da CP 33 e mandar bala, mas ouviu a burocracia histórica do MME e aqueles burocratas são terríveis. Extremamente ineficientes e possuidores de verdadeiro horror para mudar qualquer coisa. Apesar dessas dificuldades, Bento Albuquerque é um bom ministro e manteve a classe política à distância.
Mas a classe política, como todos sabemos, é manhosa e sabe mostrar as garras na hora certa. Nunca perdeu a perspectiva de retomar o controle do MME e fica ali, no Senado e na Câmara dos Deputados, cozinhando o galo, leia-se ministro Bento. Este site apurou que senadores e deputados de expressão estão envolvidos numa espécie de conspiração silenciosa para detonar o ministro tão logo seja possível, entregando a Pasta a um deputado que tem certo prestígio no SEB. Esse congressista está totalmente picado pela mosca azul e bem interessado em bater ponto no bloco U da Esplanada dos Ministérios.
O presidente Jair Bolsonaro já demonstrou várias vezes que não tem muitos apegos e se descarta de auxiliares com relativa facilidade. Haja vista o que aconteceu com alguns dos seus generais da reserva, que o apoiaram desde o primeiro instante em que ele decidiu ser candidato e que foram para o ostracismo num piscar de olhos. Para fazer a mesma coisa com um almirante provavelmente não será dificil. Bolsonaro tem know-how nesse tipo de situação.
Se vai acontecer ou não, impossível saber. É um processo e como tudo que ocorre na vida política o que pode ser verdade absoluta hoje não tem qualquer significado amanhã. De qualquer modo, vale a pena acompanhar os desdobramentos da intriga que rola solta no Congresso contra a permanência de Albuquerque no MME.