Bento por um fio?
Maurício Corrêa, de Brasília —
Há uma conexão direta entre os parlamentares que sabotam a proposta de privatização da Eletrobras e o grupo formado por políticos e dirigentes do setor elétrico que sonha em ejetar o ministro Bento Albuquerque da Pasta de Minas e Energia, substituindo-o por um filhinho de papai que nasceu no berço esplêndido de uma família vinculada a empréstimos subsidiados e tapinhas na costa.
Militar de carreira, o ministro toca a sua agenda, indiferente à fofoca e à ambição que nasceu no Congresso Nacional e passa por dirigentes de algumas associações empresariais. Hoje, ele cumpre uma agenda fora do País. Ele sabe que, se cair, isso acontecerá basicamente pelas suas qualidades do que pelos seus defeitos. Há um ano, ele luta como um leão para manter a porteira do MME fechada para a classe política, que, como todos sabemos, adora transformar tudo o que vê pela frente num balcão de negócios. Com Albuquerque, a classe política se limita a chupar os dedos.
É verdade que o ministro cometeu alguns erros, sérios, principalmente na formação da sua equipe direta. Não tendo intimidade com o setor elétrico, indicou nomes inadequados para auxiliá-lo no ministério. Acreditou nas sugestões feitas por amigos do Rio de Janeiro e dançou feio. Escolheu mal alguns nomes que são estratégicos na condução diária do MME. Agora, chegou a fatura.
Nos últimos dias, alguns dirigentes do setor elétrico têm espalhado que o ministro gosta de viajar para o exterior ou então que não gosta de receber ninguém em seu gabinete. É uma bobagem. Todo ministro tem compromissos no exterior e isso faz parte do trabalho ministerial. Além disso, este site acompanha diariamente a agenda do ministro e dela constam sempre nomes de executivos de empresas e responsáveis por associações. Espalhar essas pequenas intrigas faz parte do jogo e ajuda a minar a resistência do adversário, preparando a cadeira ministerial para quem sabe muito bem dar um sorriso profissional, pois isto está na genética familiar.
O site Paranoá Energia já viu este filme muitas vezes e sabe como vai terminar. É provável que o ministro também saiba. É possível até que caia para cima, como já se especula na Esplanada dos Ministérios. É uma pena, pois todo mundo também sabe que o presidente Jair Bolsonaro tem resistido ao conluio fortemente organizado entre congressistas e representantes de algumas associações para derrubar o ministro. Como precisa de votos no Congresso, tudo indica que o presidente oferecerá a cabeça do seu ministro de Minas e Energia numa bandeja de prata, quando ele retornar dos compromissos de Governo na Europa. Até mesmo o capitão tem dificuldades para resistir às tais hienas da política.