PLD, a bruxaria moderna
Para quem acredita em bruxaria, o tal do PLD é realmente uma excelente diversão. Neste mês de dezembro, que se caracteriza por muita chuva no Sudeste, o PLD deu continuidade ao seu caráter errático, segundo as conclusões dos gênios da matemática que o calculam todas as semanas. Para tudo quanto é canto que se vá no Sudeste, está descendo água. Mas não é assim que os técnicos do ONS enxergam.
Na semana de 30 de novembro a 06 de dezembro, já em pleno período chuvoso no Sudeste, quando o preço deveria estar subindo, o PLD caiu 26% e passou de R$ 317,33 o MWh para R$ 234,99.
Duas semanas depois, na semana de 14 a 20 de dezembro, teve uma ligeira alta, de 4%, normal para o período, e passou de R$ 217,57 para R$ 226,59.
Na semana seguinte, de 21 a 27 de dezembro, o PLD começou a matar algumas pessoas do coração. Quando também deveria estar subindo, o preço caiu espetacularmente 14% e passou de R$ 226,59 para R$ 195,13.
Quem acreditou nessa queda se deu mal, pois, na semana de 28 de dezembro a 03 de janeiro, o PLD subiu como um foguete e pulou 49%, passando de R$ 195,13 para R$ 290,33. De repente, as chuvas sumiram, na visão do ONS.
Curiosamente, quando se olha para os dados do próprio ONS a respeito da energia armazenada nos reservatórios do Sudeste, talvez existam razões para que o PLD suba. Focando apenas nas três principais bacias do subsistema, por exemplo, observa-se que a bacia do rio Paranaíba é responsável por 38,65% do subsistema, enquanto a bacia do rio Grande é de 25,44% e a do rio Tocantins de 17,17%.
Entretanto, hoje, a energia armazenada em todo o Sistema Sudeste-Centro/Oeste (nessas três bacias e nas demais que o compõem) é de 20,19%. Sem dúvida, haveria razões técnicas para que o valor do PLD cresça. Mas como se explica que tenha caído 14% na semana de 21 a 27 de dezembro e 26% na semana de 30 de novembro a 06 de dezembro? Como a diminuição no valor do PLD pressupõe pouca água armazenada ou baixa previsão de água a ser armazenada, os gênios dos programas computacionais estão com a palavra.
Este site se solidariza com todos aqueles que, por razão de ofício, são obrigados a acompanhar o PLD e a tomar decisões empresariais com base nas suas estranhas oscilações. O Governo, através do MME, deveria liberar gratuitamente doses de medicamentos relaxantes, pois neste caso eles são indispensáveis. O risco de um infarto é muito elevado.
As razões dessas oscilações do PLD são as mesmas de sempre, na visão dos gênios da matemática que controlam os programas computacionais que, por sua vez, calculam o valor do PLD. Na falta de explicações lógicas, ou é previsão de muita água nas hidrelétricas ou é previsão de pouca água. Os gênios têm explicação para tudo.
E quando a matemática não resolve o problema, o jeito é apelar para as indefinições da velha e boa natureza. Talvez sairia mais barato para o sistema se o PLD fosse calculado por pajés, pela Bruxinha Onilda ou com base na leitura dos búzios feita pelo Pai Elias.
O jeito é rir para não chorar. E quem ainda acredita nesse tal de PLD, que corra os riscos para não se ferrar na primeira semana seguinte. É bom caprichar numa apólice de seguro, para não deixar a família passando necessidade por culpa única e exclusiva do PLD.
Fala-se tanto em modernização do setor elétrico brasileiro. Por mais paradoxal que possa parecer, a primeira medida da modernização poderia ser talvez muitos passos atrás na história, ignorar os gênios matemáticos e seus computadores ultra-hiper-modernos e adotar o preço por oferta, comprando e vendendo energia elétrica da mesma forma como se faz com a soja, o milho, o algodão ou o câmbio. O preço seria livremente negociado entre as partes vendedora e compradora, sem a interferência de programas computacionais.
Quanto aos gênios matemáticos, sugere-se dar de presente para cada um o último modelo de celular, para que eles possam brincar sem incomodar ninguém. E sem mandar inocentes para os cemitérios.