Na briga da GD, sobrou para Bento
Maurício Corrêa, de Brasília —
A semana termina com uma avaliação de especialistas extremamente negativa em relação ao papel desempenhado pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, quanto às recentes pressões feitas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a diretoria da Aneel para manter subsídios na geração distribuída.
O presidente simplesmente chamou diretores da Aneel ao Palácio para exigir determinado posicionamento e ninguém conhece qual a opinião do seu ministro de Minas e Energia a respeito desse inusitado acontecimento.
É verdade que, em qualquer circunstância, a ida de diretor da Aneel ao presidente da República não se justifica, pois não existe uma relação de dependência funcional entre um e outro. O Executivo não pode peitar a Aneel, mas é razoável que em algum momento o ministro setorial se entenda com o diretor-geral da agência reguladora, pois o Brasil não é a Inglaterra.
Bento tem sido muito criticado pelo setor privado, nos últimos meses, pela forma como conduz o ministério. Muitas pessoas até destacam a seriedade e honradez do ministro, frisando até que é melhor tê-lo como ministro do que entregar a Pasta a algum político que possa transformá-la num balcão de negócios. Já aconteceu no passado e repetir isso, agora, seria muito fácil de ocorrer, pois os políticos não se emendam.
Ao mesmo tempo, critica-se também o posicionamento de Bento como ministro de Minas e Energia, sob o argumento que, no MME, ele continua a agir como um almirante. Além de ter montado uma espécie de estrutura militar no MME, o próprio ministro parece agir como se estivesse ainda em função de oficial superior da Marinha. Sua agenda tem sido repleta, desde o início da atividade, há um ano, de compromissos na área militar, especialmente na Marinha.
Nesta sexta-feira, 10 de janeiro, um especialista do setor elétrico lembrou ao site “Paranoá Energia” que um empresário que representa um grupo estrangeiro com dezenas de bilhões de reais de investimentos no Brasil só conseguiu ser recebido por Albuquerque depois que o Ministério das Relações Exteriores entrou em campo.
Apesar dessas dificuldades de agenda, o ministro de Minas e Energia contava com uma certa simpatia da parte do empresariado. O episódio Bolsonaro/Aneel acabou impactando a imagem do ministro, pois na área empresarial o comentário é que ele se omitiu em todo o processo e poderia ter tido um diálogo prévio com a Aneel, há bastante tempo, para evitar que a situação chegasse ao ponto em que chegou.
Nesse contexto, teria faltando sensibilidade ao ministro. Se Albuquerque tivesse entrado em campo há mais tempo, poderia ter evitado a desmoralização da agência reguladora, dos seus diretores e até do próprio Poder Executivo, que se intrometeu em uma área que não lhe dizia respeito.