Michel Temer e o setor energético
Considerando que a disputa no Senado Federal, em torno do impeachment da presidente Dilma, poderá ser mais uma formalidade, já que as oposições estão com a faca nos dentes e se preparam para vencer também essa etapa, já se pode entrar então projetar um futuro Governo Temer.
A primeira ideia que surge é que Michel Temer é e será por algum tempo um enigma a ser decifrado. Nesse sentido, especialistas que acompanham mais de perto o trabalho do atual vice arriscam dizer que o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, tem grande probabilidade de permanecer na função, embora tenha feito a aposta errada, optando pelo apoio à presidente Dilma até agora.
Há algumas razões para pensar nessa hipótese. A primeira delas é que, no Senado, através da suplente, (Braga é um senador licenciado), o ministro garante um voto para o PMDB. A segunda é que o PMDB tem uma tradição de divergências que depois se reconciliam. Então, nada impede que isso que se repita agora com o ministro de Minas e Energia e o alto escalão do partido.
O terceiro argumento é que talvez não interesse muito a Temer mexer agora com o setor elétrico. Então, deixa do jeito que está, o ministro vai tocando o barco e lá na frente se vê como fica. Além disso, no retrospecto, Braga não tem sido um ministro ineficiente. Ao contrário, abriu uma boa condição de diálogo com os agentes, que eles fazem questão absoluta de preservar.
O fato é que a agenda setorial “energia elétrica” não deve ser prioridade nos primeiros momentos do Governo Temer, pois a agenda fiscal vai se impor sobre todas as demais, se Michel Temer quiser ganhar um mínimo de credibilidade até a metade dos seus 100 primeiros dias.
Uma fonte credenciada lembrou a este site que, no período, há uma concentração significativa de rolagens de títulos do Tesouro até agosto e o apetite ao risco Brasil está muito baixo, o que significa que sem um ajuste fiscal para valer o Tesouro Nacional vai ter que pagar prêmios de risco muito acima dos 2,3% a.a. reais que de fato a atual taxa Selic mostra. O mesmo raciocínio valeria para a área de óleo e gás, face à anacrônica governança corporativa da Petrobras e o nível absurdo de endividamento daquela que já foi a joia da coroa da economia brasileira.
Tudo isso, obviamente, ainda passa pelo campo das hipóteses de trabalho. As oposições precisarão primeiramente vencer duas votações com maioria simples em uma comissão e uma terceira com maioria de dois terços no plenário do Senado Federal. As duas primeiras são relativamente fáceis e a última é um pouco mais difícil, embora não seja impossível. Vai depender muito se nos três primeiros meses de gestão Michel Temer de fato passar credibilidade para a sociedade brasileira e mostrar-se capaz de tirar o País do atoleiro.