Impactos do Covid-19 no SEB
Os impactos operacionais do Coronavírus no setor elétrico brasileiro já estão sendo discutidos em conjunto entre as empresas, por meio de suas associações representativas, e as autoridades setoriais, conforme mostra a manchete desta quinta-feira, 14 de dezembro, do site “Paranoá Energia”.
Mas existem outros impactos, que ainda não foram dimensionados, mas a respeito dos quais os executivos e técnicos começam a falar em “sotto voce”, pois todo mundo tem medo do que pode vir pela frente.
Por enquanto, os traumas gerados pelo Covid-19 ainda são muito recentes e giram basicamente em torno das pessoas infectadas, do número elevadíssimo das mortes em decorrência e da enorme queda da demanda por energia elétrica, face à paralisação das atividades econômicas.
No entanto, quando se olha para o médio e longo prazo, é possível que não fique pedra sobre pedra. Primeiramente, porque o Covid-19 não veio para fazer um estrago de 120 dias e depois vai desaparecer. É provável que o vírus fique por aí ainda durante muito tempo, dando as cartas, tirando o sono das pessoas e desestabilizando as empresas e governos.
Cortar custos, a partir de agora, será muito mais do que uma simples estratégia para reposicionar alguma coisa num determinado período. Será uma necessidade absoluta, pois as empresas estão quebradas e os custos nacionais de combate à pandemia estão sendo cobertos por endividamento do Estado. Uma conta que será paga lá na frente. O ajuste precisa ser iniciado já e não daqui a um ou dois anos, se ainda desejamos viver em um País chamado Brasil.
Assim, sob o ponto de vista institucional, é possível que finalmente avance uma antiga tese defendida por este site, de fusão dos organismos institucionais do SEB vinculados ao Ministério de Minas e Energia. As agências Aneel e ANP poderiam se juntar e o mesmo poderia acontecer entre a CCEE e o ONS.
Isso poderia ser uma decisão racional, que significaria corte monumental de despesas do Estado, sem considerar que esses organismos, que são importantes, em muitos casos fazem coisas que são efetuados pelos outros. Há uma nítida superposição de atividades e o mesmo trabalho que hoje é executado pela CCEE, Aneel, ONS e ANP continuaria a ser efetuado, mediante ajustes, por equipes mais enxutas e mais baratas. É natural que a agência consolidada que surgirá nesse novo modelo, bem como o organismo que poderá juntar CCEE e ONS, fiquem situados em Brasília.
Esses quatro organismos se transformaram em monstros burocráticos e a hora para torná-los mais compatíveis para um País como o Brasil, de economia cheia de altos e baixos, é agora, quando o Estado caminha a passos largos para um volume de dívida pública da ordem de 95% do PIB.
Além disso, aproveitando uma distorção total de responsabilidade da gestão petista, que localizou a EPE no Rio de Janeiro, sem que jamais tenha sido dado uma justificativa plausível, está na hora de trazer a EPE para Brasília. A Rádio Corredor costuma dizer que a EPE ficou no Rio apenas para que um determinado dirigente ficasse mais perto de suas atividades rotineiras. Obviamente, isso não passa de fofoca e não corresponde à verdade.
O modelo atual do setor elétrico surgiu no final dos anos 90 e mais tarde recebeu a EPE. Não é preciso extinguir as atividades desses organismos, até porque todos eles têm demonstrado relevância. Só é preciso dar mais racionalidade. O que se critica é o custo elevado para o SEB. Todo mundo tem receio de entrar nesse problema, mas é algo que está aí há anos e agora foi finalmente exposto pela pandemia e suas conseqüências sobre a economia brasileira.
As empresas também precisarão se ajustar e muito fortemente. A queda da demanda é brutal e a pandemia vai impor uma desaceleração na economia incapaz de ser medida no momento atual. Só como comparação, o setor aéreo acredita que mundialmente vai recuperar o nível anterior à pandemia só em 2024.
Quebrando as empresas, é natural que elas olhem para as quase 30 associações empresariais que bancam, hoje, no setor elétrico. É possível que algumas associações simplesmente sejam deixadas de lado e desapareçam. O que as empresas associadas finalmente vão entender é que não há mais como bancar altos salários, aluguéis, viagens, consultorias, etc, etc, em um contexto que provavelmente passará a ser bem diferente daquele que foi praticado até os dias atuais.
Não cabe a este site fazer um desenho sobre como será esse novo modelo das associações. Mas algumas pessoas já estão conversando informalmente sobre o assunto e ninguém se espantará se, por exemplo, surgir uma associação para representar o consumo, agrupando as atuais associações Abraceel, Abrace, Anace e até mesmo a Abiape, que surgiu de uma costela da Abrace, do mesmo modo que a Anace surgiu não de uma dissidência, mas dos interesses específicos de um segmento que existia dentro da Abraceel.
A atual Abradee provavelmente será pouco afetada, pois reina absoluta no segmento. Há uma outra associação de distribuidores, sem expressão. Da mesma forma, as transmissoras estão todas dentro da mesma associação, a Abrate.
As maiores mudanças se darão provavelmente no campo das associações representativas da geração, onde existem associações para todos os gostos: grandes geradores hidrelétricos, pequenos geradores hidrelétricos, geração nuclear, geradores independentes, geradores de biomassa, geradores térmicos, geradores eólicos e geradores solares. É um verdadeiro pandemônio de associações de geradores, que hoje olham com preocupação para a pandemia.
Também existem associações que agrupam empresas que estão interessadas em armazenamento de energia, indústria do carvão mineral e distribuição de gás canalizado. Enfim, é um show room de associações, cada uma com uma gorda planilha de custos.
Curiosamente, há empresas que atuam simultaneamente em várias associações. Esta é uma herança do modelo antigo do setor elétrico, quando os custos eram todos empurrados para cima dos consumidores sem muita consideração. Como reconheceu a este site, com certo desalento, um dirigente de associação, “custo é algo que só se pensa nele na hora de ser cortado. Esse modelo atual de associações já tem 20 anos. Chegou o momento de dar uma oxigenada”. Ou seja, pode vir chumbo grosso por aí.