Opep tenta atrair o Brasil para o cartel
Maurício Corrêa, de Brasília (com apoio do MME e Agência Estado) —
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) fez, nesta segunda-feira, 22 de junho, uma sutil manobra diplomática, visando a atrair o Brasil para integrar o cartel. O ministro Bento Albuquerque reuniu-se, por videoconferência, com o secretário-geral da Opep, o nigeriano Mohammad Barkindo. Este, no final, depois de elogiar o Brasil e agradecer pela realização do diálogo, disse que o Brasil é ator-chave no continente sul-americano, tanto como produtor de petróleo e gás natural quanto como consumidor de energia. E fez um convite ao ministro brasileiro para participar do 8º Seminário Internacional da Opep, que terá lugar em junho de 2021. Barkindo sabe qual é a pedra que está jogando nesse tabuleiro.
O ministro Albuquerque comprometeu-se a fazer o possível para participar do evento. Há algum tempo, a Opep tem manifestado interesse em ver o Brasil participando do cartel. A videoconferência desta segunda-feira foi uma iniciativa da Opep visando à troca de impressões bilaterais que o cartel vem mantendo com países que não pertencem à Organização.
Barkindo avaliou os efeitos das decisões de corte de produção recentemente tomadas na Organização sobre o mercado global de petróleo, à luz da pandemia de Covid-19, e fez menção à participação do Brasil na Reunião dos Ministros de Energia do G-20, em 10 de abril último. Em suas palavras, “a participação do Brasil nesta importante reunião (do G20) foi um claro sinal do envolvimento ativo e do apoio do Brasil ao diálogo e à cooperação global em energia”.
Bento Albuquerque, segundo um comunicado divulgado pelo MME, recordou-se da participação de Barkindo na passada reunião do G20 – agrupamento do qual o Brasil é membro pleno – e traçou um panorama da franca troca de ideias que o País vem mantendo com os Estados Unidos, a Arábia Saudita e a Agência Internacional de Energia no contexto do combate aos efeitos da pandemia sobre o mercado de petróleo. O ministro também fez menção à participação ativa do Brasil no Grupo Focal (Focus Group) criado no âmbito do G20.
Descreveu, em seguida, os esforços do Governo Federal no combate aos efeitos da crise e o trabalho do Comitê de Acompanhamento do Setor de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis coordenado pelo MME para que haja intensa interação entre os agentes do setor.
Albuquerque destacou a necessidade de garantir os serviços essenciais e o abastecimento de combustíveis, o monitoramento diário da cadeia de suprimento de petróleo, gás natural e biocombustíveis, a importância da manutenção dos níveis de produção onshore e offshore, a necessidade de investimentos em novos campos e a centralidade, para o Brasil, da estabilidade dos investimentos no País. Recordou que, para a balança comercial brasileira, as exportações de petróleo representam item essencial. A Petrobras tem ações em bolsa e toma decisões, por conseguinte, estritamente ligadas a sua estratégia de negócios, sem interferência governamental.
Esse namoro da Opep com o Brasil não depende apenas de decisão do ministro de Minas e Energia. Trata-se de um nível de decisão muito mais alto, envolvendo a geopolítica do Brasil e a sua política externa. Um especialista da área de petróleo lembrou ao site “Paranoá Energia” que, hoje, não existe muita identificação política entre o Brasil e os países que atualmente integram a Opep. “Provavelmente, durante a gestão do PT haveria mais identidade entre o Brasil e a Opep. Mas, hoje, olhando para a composição do cartel, não há muita aproximação diplomática entre a política traçada em Brasília e os países que fazem partem da Opep”, disse a mesma fonte.
Barkindo é um negociador hábil, que está no segundo mandato à frente da Secretaria-Geral da Opep. Hoje, além da Nigéria, o cartel é integrado pela Argélia, Angola, Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela. Quem dá as cartas na organização é a Arábia Saudita, país que tem alguma simpatia entre os formuladores da política externa brasileira, devido ao seu forte papel como investidor institucional.
Embora alguns atuais integrantes da Opep estejam com as suas economias em frangalhos (Irã, Iraque, Líbia ou Venezuela), o fato é que, hoje, os países-membros da Opep ainda controlam cerca de 80% das reservas medidas de óleo bruto em todo o mundo, enquanto os países produtores que não integram o cartel possuem os 20% restantes. O Brasil está nesse segundo grupo, junto com outros grandes produtores, como Estados Unidos, Canadá, Rússia, China, Inglaterra e Noruega. A Venezuela, que está quebrada e não tem condições de desenvolver a sua indústria, é o país-membro com a maior parcela das reservas (25,5% do total no âmbito da Opep), enquanto a Arábia Saudita tem 22,5%.
A fonte ouvida pelo “Paranoá Energia” explicou que a importância do Brasil cresceu muito no mercado internacional de petróleo e gás natural, nos últimos anos, e deverá aumentar mais ainda, face às descobertas e produção dos campos do pré-sal.
Uma matéria distribuída pela Agência Estado, a que este site teve acesso por força contratual, mostrou que a produção brasileira de petróleo equivalente alcançou um recorde de 4,041 milhões de barris diários em janeiro, quando se registrou também a produção de 3,168 milhões de barris por dia, naquele mês, o que significou um avanço de 1,99% em relação a dezembro de 2019. Na comparação com janeiro de 2019, a produção de petróleo cresceu 20,43% em janeiro de 2020. A partir daí, quando foram conhecidos os efeitos da pandemia, a indústria entrou em crise mundialmente, inclusive no Brasil, face à paralisação da economia.
O petróleo do tipo Brent, comercializado no mercado londrino, sofreu uma perda de 34,5% nos últimos 12 meses e, nesta segunda-feira, foi cotado a US$ 43,09 o barril, enquanto o petróleo do tipo WTI, comercializado em Nova York, foi vendido a US$ 40,67. O especialista ouvido pelo site explicou que o mercado internacional de petróleo, hoje, é balizado por duas questões principais: a forte queda nos estoques e os impactos do coronavírus na economia mundial, que ainda não estão suficientemente dimensionados. A política da Opep, um cartel que já teve mais importância geopolítica, principalmente nos anos 70 e 80, olha a cada minuto para esses fatores.