Setor elétrico não quer que MME vire Pasta da Infraestrutura
Maurício Corrêa, de Brasília —
Na reunião ordinária realizada em Brasília, nesta terça-feira, 26 de abril, os presidentes das associações empresariais do setor elétrico, que institucionalmente se abrigam no Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), discutiram alguns assuntos técnicos, como o forte contingenciamento do orçamento da Aneel e a sobrecontratação de energia elétrica por parte das distribuidoras. Mas grande parte do tempo, como não poderia deixar de ser, foi consumida pela sucessão presidencial e como poderão ser os impactos da futura gestão Temer no setor elétrico. Os dirigentes rejeitaram, por unanimidade, a ideia de eventual transformação do Ministério de Minas e Energia em uma futura Pasta da Infraestrutura.
A parte destinada à discussão política teria, a princípio, apenas meia-hora de tempo. Entretanto, os participantes ficaram cerca de uma hora falando sobre a política partidária, conforme este site apurou, devido ao forte interesse dos presidentes das associações empresariais do setor elétrico. Mário Luiz Menel da Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape) foi reeleito, por aclamação, para um novo mandato de um ano à frente do Fase. A confirmação se dará no dia 21 de junho.
A área de energia elétrica, vale lembrar, move-se sempre com muito cuidado. Às vezes, passa uma sensação de extrema lentidão, mas não é bem isso. Por ser um setor muito amplo, com centenas de empresas de geração, transmissão, distribuição, prestadores de serviços e comercialização, que contam com legítimos interesses estratégicos difusos no âmbito de cada segmento, é um setor de modo geral conservador e que olha para as mudanças com um pouco mais de atenção. Afinal, trata-se de um setor organizado há mais de 100 anos e que já testemunhou muita queda de governo e as substituições por outros salvadores da Pátria.
Não que não aprecie mudanças. Mas é um setor que se preocupa com a primazia da irracionalidade, da improvisação, da desorganização administrativa e do amadorismo. Qualquer coisa que possa parecer se enquadrar nessa linha do “eu acho que…”, sem estar devidamente amparado por fortes convicções técnicas, provavelmente não encontrará respaldo no setor elétrico.
Nesse contexto, os dirigentes que se reuniram nesta terça-feira, no Fase, deixaram claro que não querem a repetição do que ocorreu no Governo Collor, quando as Pastas de Transportes, Comunicações e Minas e Energia foram agrupadas repentinamente em uma única Pasta da Infraestrutura, sem que isso tivesse sido estudado com acuidade. Na visão dos participantes, seria injustiça relegar o setor elétrico a uma categoria inferior da administração pública federal
Um especialista lembrou a este site que é por isso que um eventual Governo Temer não poderá se equivocar em relação ao setor elétrico, que é uma área de governo em que sucessivos presidentes da Repúblicas vêm patinando com frequência. Voltando o relógio, não custa lembrar que o presidente Fernando Henrique teve um excelente ministro de Minas e Energia no primeiro mandato (Raymundo Brito) e um amador no segundo. É verdade que o ministro Rodolpho Tourinho não está mais entre os vivos para se defender, mas o fato é que ele era um corpo estranho na Pasta. Talvez teria sido um excelente secretário da Receita Federal ou dirigente de banco federal, mas a Pasta de Minas e Energia não era o seu forte. Acabou em racionamento.
Dilma Rousseff também pouco conhecia sobre o setor elétrico, quando virou ministra em 2003. Embora citada como uma espécie de “gerente” do setor, na verdade é um mito. Levou algum tempo para aprender o tamanho do problema que estava gerenciando e, quando começou a aprender, foi transferida para a Casa Civil. O ministro Edison Lobão também era apenas um político, que não conhecia nada. O MME foi tocado, no período, pela Secretaria-Executiva. Eduardo Braga rompeu essa história e foi um ministro de fato, que negociou e liderou. Talvez teria oferecido melhores resultados ao País se continuasse no MME, mas a política é cruel e ele, que havia feito uma aposta política errada, acabou perdendo o posto.
O nome de Aleluia foi lembrado, na reunião do Fase, como bastante razoável para ser ministro de Minas e Energia de um presidente do PMDB, embora pertença ao Democratas. Entretanto, os dirigentes das associações também lembraram que o PSDB começou a ensaiar uma espécie de dança em direção a Temer. Isso poderia levar a uma eventual indicação de Antônio Imbassahy, líder do partido na Câmara dos Deputados, para a Pasta do MME. Imbassahy também é um nome que seria bem recebido, até porque conhece bem o setor, da mesma forma que Aleluia.