Equinor aposta em energia limpa no Brasil
O Brasil é considerado área-chave na estratégia global da petroleira norueguesa Equinor para reduzir as emissões de carbono causadas pela sua operação, meta que vem sendo perseguida em diversas frentes pela petroleira, que lidera a transição energética do setor. A ideia da atual gestão da Equinor é transformá-la em uma empresa ampla de energia, e não apenas de petróleo, destinando globalmente até 20% dos seus investimentos para projetos de energia renovável até 2030.
“Talvez até a gente alcance isso antes de 2030, vai depender das oportunidades”, avalia a recém-empossada presidente interina da empresa no Brasil, Letícia Andrade, destacando que o País é considerado fundamental para as metas traçadas pela companhia. Nos próximos 10 anos, o foco é aumentar em 30 vezes os investimentos em energia renovável no mundo.
Há 11 anos na companhia, Letícia acumula a presidência interina com a vice-presidência de Estratégia e Portfólio. Após meses em home office e com operações reduzidas nas plataformas, a empresa começa gradualmente a retomar sua rotina, com planos de levar adiante mudanças operacionais com foco na produção sustentável. A companhia tem 600 empregados diretos e, se incluídos terceirizados, o dobro.
Medidas
O primeiro passo, já em andamento, será substituir o diesel, que alimenta suas plataformas, pelo gás natural no campo de Peregrino, na bacia de Campos. A iniciativa vai reduzir em 25% as emissões de CO2 (gás carbônico). Outra medida, ainda em estudo junto aos seus fornecedores, é ter embarcações de apoio que utilizem bateria, como já ocorre em suas operações no Mar do Norte. Outras ações estão sendo estudadas e devem significar, somadas, uma redução de emissões da ordem de 145 mil toneladas de CO2 por ano, o equivalente à emissão de 30 mil carros por ano
Desde 2001, quando chegou ao Brasil com o nome de Statoil, a empresa já investiu US$ 10 bilhões e pretende nos próximos dez anos investir mais US$ 15 bilhões. A Equinor construiu aqui seu primeiro parque solar no mundo, o complexo Apodi, no Ceará.
“Apodi, eu brinco, é a nossa menina dos olhos. A gente está abastecendo 200 mil famílias lá em Quixeré, um município do Ceará, e isso nos motiva”, afirma Letícia, que tem planos de crescer também nesse segmento.
Mas será no mega projeto de energia eólica offshore que a Equinor deve aplicar muitos milhões do seu orçamento no Brasil nos próximos anos. Ainda sem estimativa de um valor, o projeto aguarda o licenciamento ambiental do Ibama, que pode levar de um a três anos, segundo a executiva, devido ao tamanho do empreendimento.
Serão dois parques de 2 gigawatts (cada) construídos lado a lado no litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Isso é o suficiente para abastecer um Estado do porte do Ceará e corresponde a quase 70% de toda a instalação de eólicas offshore registrada no mundo no ano passado (6,1 GW).
Vocação
Para a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Energia, Fernanda Delgado, os planos da Equinor estão em linha tanto com a manutenção da atividade-fim da companhia, quanto com a vocação energética brasileira. “Melhor que isso, só se anunciasse investimentos em etanol e biodiesel”, avalia.
“Não consigo desassociar a transição energética da indústria do petróleo, tudo caminhará lado a lado e haverá espaço na matriz para todos os energéticos por um bom tempo”, afirma a pesquisadora. “É uma transição gradual e lenta, e que acontecerá de forma diferente em cada país. Não se trata de uma revolução abrupta. E o portfólio de negócio da Equinor é um exemplo disso”.