Kearney avalia balanços de 32 distribuidoras
Da Redação, de Brasília (com apoio da Kearney) —
Entre 2015 e 2019, 32 concessionárias brasileiras de distribuição de energia elétricas estudadas pela consultoria Kearney tiveram uma perda total com inadimplência e fraude de R$ 13,3 bilhões, significado R$ 165 por consumidor. A análise da Kearney aponta que a inadimplência e as fraudes continuam sendo um tema de forte preocupação entre os executivos do setor, principalmente por conta do alto impacto financeiro nas contas das companhias.
Uma das maiores consultorias globais de gestão de negócios, com mais de 95 anos de trajetória, a Kearney divulgou a 3ª edição do Utilities Performance Scan (2019), maior benchmark já realizado para o setor de distribuição de energia elétrica no Brasil. O estudo analisou os resultados de 32 distribuidoras nacionais entre 2015 e 2019, com mais de 80 indicadores-chave para os decisores de cada empresa e investidores, e traz dados relevantes sobre desempenho, inadimplência, perdas e eficiência dessas companhias no período.
Esse ano, o estudo foi compartilhado com mais de 300 executivos do setor. “O feedback dos executivos nos anteriores foi sensacional, o que nos motiva a continuamente realizar e reforçar esse estudo”, afirma Claudio Gonçalves, sócio da Kearney responsável pelo estudo.
Juntas, as empresas são responsáveis por levar energia a mais de 12,8 milhões de clientes. A análise indica, de maneira geral, uma recuperação do setor em 2019. Isso pode ser visto quando se considera que em 2015-16 o conjunto das distribuidoras realizava apenas entre 70% e 80% do Ebitda regulatório, ante 98% alcançados no ano passado. Apesar da melhor, no entanto, a situação continua desfavorável: 18 das 32 empresas analisadas ainda estão abaixo do valor regulatório, inclusive com três delas apresentando prejuízo no ano.Um dos dados trazidos pelo documento é que as distribuidoras de energia não conseguiram realizar o lucro líquido previsto em suas revisões tarifárias em 2019. “O cenário macroeconômico do País e as diversas alterações regulatórias continuaram afetando significativamente os resultados da maioria das concessionárias de energia elétrica”, analisa Gonçalves. De acordo com o levantamento, de forma agregada, a soma das Receitas Operacionais Líquidas reais compatíveis das distribuidoras ficou 10% acima das Receitas Requeridas Econômicas regulatórias que constam das Revisões Tarifárias dessas empresas.
Quando considerados os resultados financeiros registrados em 2019, o Ebitda real ficou 2% abaixo do valor regulatório estabelecido para o ano, e o lucro líquido real foi 28% menor. Gonçalves explica que, em termos de Ebitda, se verificou em 2019 uma melhoria importante para a maioria das empresas. Porém, como ainda existem empresas privadas com desafios maiores e as estatais continuam evidenciando uma grande diferença negativa entre Ebitda real e regulatório, o montante consolidado acaba diminuindo expressivamente.
O volume de energia vendida manteve-se quase inalterado entre 2018 e 2019, totalizando 305 TWh no ano – o valor é exatamente o mesmo da regulatória. Quando considerado o período de 2015 a 2019, identifica-se uma queda nesse volume, passando de 311 TWh (real) e 317 TWh (regulatória) para 305 TWh. Para os especialistas da Kearney, essa redução se deve à migração para o mercado livre, programas de eficiência energética, instalação de Geração Distribuída (GD) e das longas crises econômicas que o País tem enfrentado.
Segundo o levantamento, 20 das 32 distribuidoras analisadas apresentaram lucro líquido real abaixo do regulatório. Em boa parte, isso se deve ao fato de que diversas empresas registraram níveis de energia vendida abaixo da definida regulatoriamente. “Outras razões incluem a escalada da inadimplência e das fraudes”, afirma Gonçalves.
“Acreditamos que o setor está evoluindo numa direção importante de reforço de investimentos, introdução de novas tecnologias digitais, maior planejamento e controle analítico de suas operações”, avalia Gonçalves. “Porém, ainda existe muito espaço para melhorias capazes de reduzir perdas e inadimplências e otimizar custos.”Com o cenário macroeconômico para 2020, dificultado pela pandemia do Covid-19, é muito provável que a maioria dos gaps entre dados reais e limites regulatórios se agravem ainda mais, exigindo resposta rápida e eficaz dos executivos para não só assegurar uma trajetória mais alinhada às metas regulatórias, mas também preparar da melhor forma o futuro do setor elétrico.
Mas o especialista indica que o planejamento de longo prazo, o estabelecimento de critérios e normas de operação e manutenção eficientes, treinamentos, adoção de melhores práticas e a implementação de tecnologias de análises avançadas, digitalização e gestão de produtividade de equipes, entre outras, representam excelentes oportunidades para as empresas criarem valor ao negócio.
Segundo os autores do estudo, foi possível identificar as seguintes principais conclusões para reflexão:
• Resultados:
– Em termos de Ebitda, se verificou em 2019 uma melhoria importante para a maioria das empresas. Porém ainda existem empresas privadas com desafios ao nível de Ebitda e todas as empresas estatais continuam evidenciando um gap de Ebitda real vs. regulatório negativo.- Já ao nível do lucro líquido a situação se agrava para a grande maioria das empresas, com 20 das 32 Distribuidoras foco do estudo apresentando um gap de Lucro líquido real. vs. regulatório negativo, evidenciando oportunidades significativas de melhoria da rentabilidade das empresas para elevar a qualidade das suas operações através da realização dos investimentos necessários na sua rede.
• Parcela A (sem perdas):
– Se evidencia eventuais defasagens da parcela financeira de recomposição da neutralidade da Parcela A. Ao contrário de outros anos, 2018 e 2019 essas defasagens impactaram positivamente o resultado das Distribuidoras;
– Dado que o estudo se baseia em dados públicos dos relatórios anuais e das revisões tarifárias, pode ser que essas defasagens na prática tenham impactos distintos dos apresentados, não totalmente capturados nesses relatórios disponíveis.
• Perdas:
– As empresas em geral continuam evidenciando oportunidades de melhoria nessa frente no ano de 2019, mesmo tendo reduzido o gap em relação à 2018;
– Dado que o contexto macroeconômico em 2019 continuou difícil essa redução no gap médio das empresas representa um grande esforço de recuperação, apesar de ainda existirem muitas oportunidades.
• PMSO:
– Segundo a Kearney, é notável os esforços das empresas na otimização dos seus custos operacionais desde 2017, mas ainda é possível notar que existe um gap importante entre os níveis reais e regulatórios para muitas das empresas, não só nas estatais como também em algumas privadas;
– O gap acumulado no período já chega a R$ 7,9 Bi de reais na soma de todas as empresas, e a recuperação verificada em 2018/2019 tem grande parte devida ao reconhecimento pelo Regulador de despesas maiores do que vinha praticando anteriormente.
• Inadimplência:
– A inadimplência continua sendo um tema de forte preocupação entre os executivos do setor, dado a escala do impacto financeiro nas contas das empresas;
– Importante destacar, que se verificou uma melhoria dos gaps, pelo maior reconhecimento pelo Regulador das receitas irrecuperáveis, porém entre as empresas apenas 11 empresas conseguiram ter uma performance melhor do que a indicada pelo Regulador. Nas estatais ainda existe uma forte preocupação e no caso das privadas, algumas ações de parcelamento de dívidas podem estar criando “falsos” sentimentos de estabilização do problema;
– No ano de 2020, com o advento da pandemia do coronavírus Covid-19, essa situação deve se agravar substancialmente, e será necessário grande atenção dos executivos neste item.
“O ano de 2019 se mostrou ainda bastante desafiante para a maioria das Distribuidoras, com novos desafios em termos de energia vendida e perdas comerciais e manutenção do difícil cenário de gestão do PMSO, inadimplência e indicadores técnicos. As empresas têm direcionado esforços para reforço da capacidade de investimento, que sempre levam algum tempo para produzir resultados pelo que algumas outras ações quick-win precisam ser implementadas rapidamente para estabilizar a situação financeira”, diz Gonçalves.
A Kearney acredita que o setor está evoluindo numa direção importante de reforço de investimentos, introdução de novas tecnologias digitais, maior planejamento e controle analítico das suas operações e adoção de novas práticas de mercado. “Porém, é importante salientar que ainda existe muito espaço de melhoria ao nível de perdas, custos e inadimplência, tanto em empresas estatais quanto nas privadas, para fechar o gap entre dados reais e limites regulatórios”, analisa Gonçalves.