Oportunidades de PPA´s no Brasil
Mathieu Piccin (*)
Embora ainda seja algo pouco explorado, o Brasil tem grande potencial para o mercado de compra e venda de energia. Isso porque entre 60% e 70% da eletricidade no País é gerada por hidrelétricas. Dado que a energia hídrica é dependente da chuva (o que pode criar volatilidade nos preços), os recursos eólicos e solares se expandiram nos últimos anos e, atualmente, representam uma área de oportunidade para acréscimos sustentáveis e acessíveis à matriz energética do País.
Geralmente, os grandes compradores de energia no Brasil operam em ambiente de livre mercado. Esses consumidores podem adquirir eletricidade no atacado — e, assim, recorrem a estruturas de contratos de energia renovável, como os acordos de compra de energia (PPAs).
Estamos em um momento oportuno para grandes compradores de energia com carga no Brasil buscarem PPAs. Isso porque os desenvolvedores globais e experientes de energia renovável local têm um portfólio significativo de projetos eólicos e solares em andamento.
Para exemplificar o bom momento, nós temos a Vale, líder de mineração brasileira, e as multinacionais Dow Chemical e Anglo American assinando PPAs nesse mercado. Nessa linha, pela nossa base de clientes, observamos que o nível de interesse está crescendo significativamente.
Com vistas ao futuro, existem diferentes estruturas de PPA que podem ser implementadas no Brasil — a depender dos objetivos da organização e da tolerância ao risco. Oportunidades de energia eólica e solar, por exemplo, já estão disponíveis, com prazos que em geral variam entre 10 e 20 anos.
Sujeito a carga, crédito e outros fatores que compõem os gastos de uma organização, atualmente, estamos vendo uma economia de preço que varia de US$ 5 a US$ 15 por MWh. No entanto, é importante observar que um PPA está sujeito a riscos, incluindo risco financeiro. Portanto, as empresas devem considerar cuidadosamente todos os aspectos antes de investir em um projeto desse tipo.
Muitos projetos em andamento estão no Nordeste. Se as operações de sua organização estão na parte sul do País, como é o caso de boa parte dos grandes compradores de energia, trabalhar com um consultor de confiança pode ajudá-lo a navegar pelos riscos de submercado envolvidos. Principalmente, quando a localização do projeto e o consumo ocorrem em locais diferentes.
Para explorar as oportunidades de PPA da melhor maneira possível, as estratégias precisam considerar as datas de metas ambientais de cada organização. O cronograma deve ser comparado aos objetivos exclusivos de cada empresa.
Para organizações que ainda não estão prontas para os PPAs, estamos vendo uma oferta crescente de International REC Standard (I-RECs), sistema global que possibilita o comércio de certificados de energia renovável — outro mecanismo para atender às metas de sustentabilidade. O Brasil também é rico em oportunidades de compensação de carbono — que constitui uma alternativa para diversas companhias.
Nesse sentido, considerando que sustentabilidade é conceito que conquista cada vez mais força dentro das empresas, a gestão de energia também deve ganhar mais atenção. O Brasil tem ampliado seus projetos de energia limpa e renovável, e, com isso, vem aumentando as oportunidades para as empresas. Agora, é preciso que as organizações planejem e desenvolvam ações que explorem esse mercado em crescimento.
(*) Mathieu Piccin é diretor de Serviços de Energia e Sustentabilidade da Schneider Electric para América do Sul