O apagão de Bolsonaro 2
Este site já disponibilizou aos seus eleitores dezenas de opiniões do seu editor. Hoje, pela primeira vez, vai repetir um título, devido à importância do caso. Até agora, estava disponível a opinião “O apagão de Bolsonaro”. O título do texto de hoje é “O apagão de Bolsonaro 2”. As lambanças praticadas em relação ao ocorrido no Amapá justificam esta segunda opinião sobre o mesmo assunto.
A propósito, o site “Paranoá Energia” abre o seu espaço com satisfação para cumprimentar o jornal “Valor Econômico”, em especial o repórter Rafael Bitencourt, pelo excelente furo jornalístico, publicado nesta sexta-feira, 13 de novembro, dando conta que há dois anos o Ministério de Minas e Energia, o Operador Nacional do Sistema e a Agência Nacional de Energia Elétrica sabiam das péssimas condições em que operava a subestação que pegou fogo no Amapá. Isso é jornalismo da melhor qualidade.
Essa matéria do “Valor Econômico” mostra muito bem, para aqueles que não sabem como funciona o mundo jornalístico, como a mídia profissional é diferente das chamadas mídias sociais. Em vez do disse-me-disse irresponsável e inconseqüente que caracteriza essas novas mídias, o jornal contrapõe uma reportagem ao velho estilo, com começo, meio e fim, matando a cobra e mostrando o pau. Para este editor, representante da velha guarda do jornalismo na cobertura diária do setor elétrico, é extremamente gratificante ver um relativamente jovem repórter, como Bitencourt, mostrar que o Governo sabia e não fez absolutamente nada para resolver o problema do Amapá.
O Amapá não merece passar por isso. O descaso observado em relação ao que aconteceu ao estado não passa de uma atitude mesquinha e preconceituosa das autoridades de Brasília em relação a uma região periférica do país, despovoada, carente, distante do Poder Central e sobretudo dotada de uma classe política, que, com poucas exceções, gosta de puxar o saco dos poderosos na Esplanada dos Ministérios para emplacar um ou outro correligionário em um cargo federal de quinto escalão.
O furo jornalístico do “Valor Econômico” é inquestionável. Documentos do MME, do ONS e da Aneel revelam que a subestação incendiada operava no limite da capacidade, há cerca de dois anos, e sem condições de religar imediatamente a rede se dependesse de um transformador sobressalente, de “backup”, com indisponibilidade reportada ao ONS há 11 meses. É isso mesmo que vocês leram: 11 meses. Não são 11 dias. São 11 meses. Praticamente um ano.
O sistema de abastecimento provisório em rodízio a que é submetida a população do Amapá (e que motivou o incrível adiamento das eleições marcadas para este domingo) teria sido desnecessário. Mas como é o Amapá, lá naquele final do Brasil, não tem problema se os habitantes ficarem alguns dias ou algumas horas sem receber o suprimento regular de energia elétrica.
É impiedoso e imperdoável. Se o Brasil fosse um país sério, como se diz em centenas de piadas, cabeças rolariam.
O mais extraordinário de tudo é olhar com calma a foto utilizada na matéria do “Valor Econômico”, distribuída pelo próprio MME. Várias autoridades, todas bem vestidas naquele calor amazônico e portando máscaras, como manda o protocolo da Saúde para tempos de pandemia, discutindo o problema.
Peço menos, usam máscaras. Mas todos têm culpa no cartório em relação ao problema no Amapá. Mais uma vez, como tem sido comum no nosso país que não dá muita importância à prevenção, resolveram se preocupar com o problema depois que o leite estava derramado.
O diretor-geral da Aneel se apressou a abrir uma investigação para verificar o que aconteceu. Boa atitude. Perguntas que surgem:
- A fiscalização da Aneel fiscalizou de fato essa subestação no tempo hábil da programação de fiscalização da agência reguladora?
- Se fiscalizou, viu a situação de calamidade em que estava a subestação?
- Se viu produziu algum relatório?
- Se produziu, penalizou alguém?
São perguntas que a Aneel tem a obrigação de responder. É o mínimo de satisfação que a agência reguladora pode oferecer à população do Amapá, mesmo a posteriori.
E os responsáveis pelo MME, ONS e Aneel deveriam se desculpar publicamente com a opinião pública do Estado do Amapá. Um “desculpe a nossa falha” não é para envergonhar. Ao contrário, pedir desculpas engrandece as pessoas. Mesmo em um governo chefiado por um machão, que gosta de falar grosso e de falar besteira, ter um pouco de humildade não faz mal a ninguém.
Parabéns “Valor Econômico”. Parabéns Rafael Bitencourt. O jornalismo e os habitantes do Amapá agradecem.