Pedrosa, o motor das mudanças no MME
Maurício Corrêa —
Sob o ponto de vista institucional, 2020 foi um ano horroroso. Tudo devidamente impactado pela pandemia. Mais ou menos natural, embora tenha sido difícil suportar o negacionismo de alguns e a extrema má vontade de outros em se combater efetivamente o Covid-19. Foi duro constatar que há muita gente torcendo pelo vírus no Brasil.
O país até agora sequer conseguiu votar o orçamento para 2021. Mais uma vez, fomos salvos pelo agronegócio, que é um segmento que anda sozinho, se o governo não atrapalhar.
Os primeiros meses de 2021 serão dominados pela vacinação. Ao que parece só depois é que o país começará a se ajustar. A população agora parece compreender que não são os brasileiros que mandam no vírus e, sim, o vírus é que tem uma dinâmica própria e manda nos brasileiros.
Talvez seja arriscado e prematuro dizer, mas pelo visto o governo Bolsonaro já acabou. Vai ficar ciscando aqui e ali, implicando com alguma coisinha, mas, nas grandes linhas, o presidente Jair Bolsonaro tornou-se aquilo que nos Estados Unidos é conhecido como “lame duck”, ou seja, “pato manco”. Sua gestão ainda não acabou, mas não consegue realizar mais nada. Está apenas esperando o fim do seu mandato atual.
Afinal, 2022 será um ano de campanha. E os partidos que hoje estão no Centrão e oferecem apoio ao presidente, fiscalizam diariamente para onde sopra o vento da política, para saber se continuam na mesma posição ou mudam de lado e correm para outro candidato. Então, não há muito mais a se fazer.
E o que o setor elétrico tem a ver com isso? Absolutamente tudo. Afinal, Bolsonaro terá a rigor um ano de prazo para aprovar a modernização do setor elétrico e a privatização do Sistema Eletrobras. Na prática, até agora, com dois anos de governo, o presidente da República não demonstrou qualquer entusiasmo por nenhuma das duas propostas. Quando iniciou a sua gestão, ambas estavam prontas. Bolsonaro simplesmente mandou começar tudo de novo, que é a velha forma de se dar uma enrolada e deixar como está.
Dito isto, este site aproveita e rende as suas homenagens a Paulo Pedrosa, que, na condição de secretário-executivo do MME, durante o Governo Temer, deixou tudo pronto para que se aprovasse a modernização do SEB e a privatização do Sistema Eletrobras. Trabalhou como um leão. Comandou simultaneamente várias equipes multissetoriais integradas por técnicos competentes. Com energia, definiu responsabilidades e cobrou resultados. Trabalhou diariamente de 12 a 14 horas, praticamente acampando no prédio do MME. Pedrosa tem o mérito de saber formar equipes. Temer nunca teve a mínima percepção que a melhor Pasta na sua gestão foi o MME.
E o motor disso com certeza não foi um jovem ministro político criado na boa vida de uma família rica do Nordeste e, sim, Paulo Pedrosa. Este foi o verdadeiro trator de tudo o que aconteceu no MME no período. O ministro teve logicamente o bom senso de não prejudicar o andamento dos trabalhos e soube aparecer bem nas fotografias e imagens para a TV.
Na mudança do governo, Paulo Pedrosa quase virou titular do MME. Disputou a Pasta até os 90 minutos do segundo tempo. Seria um prêmio ao seu extraordinário trabalho como secretário-executivo. Disciplinado e elegante, foi um dos primeiros a cumprimentar o almirante Bento Albuquerque quando este foi indicado por Bolsonaro já nos acréscimos. Albuquerque é um homem público pragmático e deu continuidade às boas ideias que herdou na Pasta. Teria sido mais eficiente se não tivesse perdido tanto tempo na reavaliação das coisas que encontrou na gaveta.
Todas as mudanças surgidas na área de gás natural e no redimensionamento do papel da Petrobras saíram da gestão de Pedrosa. Foi a única coisa concreta que o atual governo conseguiu apresentar até agora. Menos mal.
Daqui a muitos anos, quando for contada a história do gás natural no Brasil, seguramente haverá uma classificação do tipo APP e DPP (antes e depois de Paulo Pedrosa). O antigo secretário-executivo, em tudo o que fez na vida profissional, sempre tentou enxergar na frente, pois, como poucos, é dotado de visão estratégica extremamente apurada.
Mais do que qualquer outro executivo brasileiro, ele entendeu, já em meados dos anos 90, que o futuro da economia brasileira passava pela diminuição do tamanho da Petrobras e pela modernização das relações de consumo no campo do gás natural. Empenhou-se com todo o seu entusiasmo e criatividade para que isso acontecesse. Não foi na sua gestão, mas pelo menos deixou tudo alinhavado.
O atual governo, que não é muito bom de serviço, poderia prestar uma homenagem a PP e a todos os que pensam como ele, batalhando com mais dedicação para, em 2021, modernizar o setor elétrico e privatizar o Sistema Eletrobras, duas heranças deixadas pelo executivo nas gavetas do MME.
A sociedade brasileira que paga impostos, trabalha, emprega pessoas e enfrenta um caminhão de dificuldades no dia a dia, agradece se o país for por aí.
Jair Bolsonaro, enfim, poderá dizer que fez alguma coisa útil para o país além de ficar reclamando do STF, implicando com vacinas e fazendo corpo mole em relação ao Covid-19.