Novo titular do MME não tem experiência na área
Maurício Corrêa, de Brasília —
A indicação do líder do PSB na Câmara dos Deputados, Fernando Bezerra Coelho Filho, de Pernambuco, para ocupar o Ministério de Minas e Energia mostrou que o presidente em exercício, Michel Temer, em relação à Pasta, decidiu-se pelo caminho mais fácil. Simplesmente, repetiu o mesmo critério aplicado por outros presidentes, que escolheram amigos ou empossaram os nomes indicados pelas bancadas partidárias, mesmo que de pessoas sem qualquer intimidade com os assuntos relacionados com o MME.
O deputado Fernando Bezerra Coelho Filho pertence ao clã dos Coelhos, de Pernambuco, e é filho do atual senador Fernando Bezerra Coelho, também do PSB. É bastante jovem: tem apenas 32 anos, mas já ocupa o terceiro mandato de deputado federal. Tem a seu favor o fato de ser um parlamentar bastante dinâmico. Também joga a favor do novo ministro o fato que a Câmara dos Deputados é uma espécie de universidade aberta e quem detém um mandato seguramente absorve muitos conhecimentos.
Entretanto, o seu histórico na Câmara dos Deputados mostra que, sendo graduado em Administração de Empresas, passou pelas comissões permanentes de Defesa do Consumidor, de Finanças e Tributação e da Agricultura, além de um período inferior a um ano na Comissão de Minas e Energia. Esta, aliás, é a única referência na sua biografia que tem relação com a complexa Pasta da qual agora é o titular.
Dirigentes do setor elétrico ouvidos por este site não gostaram da indicação de Bezerra Coelho, até porque tinham enorme expectativa em torno da escolha de um nome que poderia ser um político, mas que pelo menos fosse de alguém que conhecesse os problemas do setor. Como circularam nos últimos dias os nomes dos deputados José Carlos Aleluia e Antônio Imbassahy, respectivamente do Democratas e do PSDB da Bahia, os dirigentes do setor elétrico alimentavam a esperança que a escolha recaísse sobre um ser híbrido político/especialista. Afinal, de alguém com esse tipo de perfil.
Aleluia — além de diretor da Coelba e da Chesf — foi o poderoso relator das principais alterações efetuadas no modelo do setor elétrico nos anos 90, enquanto o seu colega tucano ocupou a presidência da holding estatal Eletrobras. Temer lavou as mãos e optou pela comodidade de empossar um nome que fosse indicado pelo PSB, dentro da composição de apoio partidário ao seu Governo.
O nome do jovem deputado pernambucano foi uma espécie de ducha fria para o setor elétrico, embora um dirigente tenha lembrado a este site que José Serra, mesmo sem ser médico, foi um excelente ministro da Saúde no Governo FHC, o que foi reconhecido inclusive pela própria oposição da época.
Basta um olhar rápido na lista de ex-ministros de Minas e Energia para se observar o pouco apreço de alguns presidentes da República pelas indicações que fazem para a Pasta, que é considerada fundamental na área de Infraestrutura.
O senador Edison Lobão, que nada entendia da área, foi titular do MME nas gestões Lula e Dilma, quando o ministério foi sempre tocado pelos secretários-executivos. O ex-senador José Jorge (indicado pelo presidente FHC), que também pouco entendia do assunto, ainda teve o azar de bater de frente com um racionamento. Simplesmente, foi atropelado pelo ministro da Casa Civil, Pedro Parente, que foi o verdadeiro ministro nos dias difíceis do racionamento, enquanto Jorge foi uma espécie de rainha da Inglaterra.
Ainda no Governo do presidente Fernando Henrique, outra escolha inadequada para o MME consistiu na indicação de Rodolpho Tourinho, que teria sido um ótimo presidente do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal, pois era um financista bastante habilidoso e competente, mas que pouco sabia sobre a área de Minas e Energia. A gestão desastrosa de Tourinho sem dúvida contribuiu para que o País chegasse ao racionamento de 2001. O presidente Itamar Franco também não resistiu e indicou como titular do MME o amigo de Juiz de Fora Alexis Stepanenko, um professor de Sociologia que tinha passado pela UFJF nos anos 60/70.
Voltando o relógio um pouco mais, o presidente José Sarney também indicou um amigo do Nordeste, Vicente Fialho, para ocupar o MME. Fialho sequer sabia a diferença entre etanol e metanol. Mais recentemente, a presidente Dilma indicou o senador Eduardo Braga, aceitando a recomendação da bancada do PMDB no Senado Federal. A diferença é que Braga, que foi um ministro elogiado, além de ter sido governador do Amazonas tem no seu currículo um curso de Engenharia Elétrica, o que já representa uma situação distinta em relação a outros indicados pelo campo político.
Na avaliação deste site, para uma Pasta por onde já passaram especialistas do naipe de Antônio Dias Leite, Costa Cavalcanti, Raimundo Brito e Aureliano Chaves, de fato não são boas lembranças alguns nomes que já ocuparam o MME. O novo ministro, agora, seguramente vai depender muito de quem será o seu secretário-executivo. Se for um especialista qualificado e com capacidade de trabalho, Bezerra Coelho poderá fazer a política e dormir tranquilo.
Se não for, precisará de muito tranquilizante quando começar a tratar de temas complexos como sobrecontratação de energia das concessionárias de distribuição, ampliação do mercado livre, geração distribuída, construção de usinas com reservatórios, linhas de transmissão, Petrobras, Eletrobras, autonomia da Aneel ou tributação do setor elétrico.