O estagiário do ONS voltou
Para quem estava com saudade dele, este site informa que o estagiário do ONS voltou à ativa. Depois de muita lambança nos áureos tempos do PLD, e quando já nem se sentia mais a sua falta, eis que a figura mitológica do ONS, o estagiário dos modelos matemáticos que gosta de errar na hora de fixar os valores da energia elétrica, voltou em grande estilo, agora nos tempos do preço horário.
Para quem não sabe e para que não pairem dúvidas, vale reafirmar que o site “Paranoá Energia” é filosoficamente contra a aplicação de modelos matemáticos na definição dos preços da energia elétrica. Prefere o olho no olho entre compradores e vendedores, embora essa preferência não consiga sensibilizar os sábios que dominam o SEB.
Bem, ao contrário dos mortais comuns e dos editores, os grandes matemáticos que atuam no SEB sabem tudo. Curiosamente, eles conseguem justificar tudo, até mesmo os erros infantis que existiam nos tempos do PLD e que continuam a existir com o preço horário.
Mesmo sendo contra, este site admite que os modelos matemáticos de formação de preços no setor elétrico estão em constante evolução, até porque os sistemas Newave e Decomp, que são ultrapassados há muitos anos, ainda estão por aí e precisam fazer muita força e demonstrar que são capazes de transmitir ao mercado a segurança quanto aos seus resultados. Nem sempre acontece.
Isso ocorre mesmo após centenas de reuniões de forças-tarefa e de diversas modificações, seja na formulação matemática ou na cadeia de informações e procedimentos. O mercado sempre fica com aquela desconfiança quanto a resultados que possam prejudicar ou beneficiar, involuntariamente é lógico, determinada classe de agentes em detrimento de outras.
É notório que as republicações de PLD fizeram parte de um longo período do passado recente, o que inclusive levou a formulação de regra (atualmente Resolução Aneel 483/2019) visando a não republicação do PLD, justamente com o objetivo de mitigar as incertezas em relação aos preços de energia.
Bom, aí veio o preço horário e pensava-se que essas coisas não iriam acontecer mais. Engano. Fontes ouvidas por este site informaram que o Dessem, o mais novo modelo, também já está mostrando a sua capacidade de agitar o mercado, haja vista a espantosa elevação de preços nos três primeiros dias deste mês de maio, para a região Sul, que equivocadamente ficaram próximos ao preço teto por algumas horas.
Foi extraordinário o que aconteceu. Com alta de mais 180% já nas primeiras horas do dia 03, por exemplo, o preço saiu de R$ 162,64 por MWh, às 6 horas, atingindo R$ 467,08 por MWh, às 8 horas, sem uma explicação plausível para essa disparada.
Este site apurou que, depois, constatou-se candidamente que o erro estava na formulação inadequada dos limites de intercâmbio de energia entre o Sul e o Sudeste. Não se tem notícia que o famoso estagiário tenha sido demitido por conta disso.
Não é possível saber ainda os impactos dessa inconformidade devido à complexidade das operações de cada tipo de agente (comercializador, gerador, consumidor, distribuidora), mas estima-se que tenha ocorrido uma diferença de R$ 300,00 por MWh no preço, mesmo que em poucas horas.
O fato é que um simples erro (um sinalzinho de menos colocado à frente da fórmula) pode resultar em milhões de reais a serem indevidamente transferidos entre os agentes na liquidação horária da CCEE.
Este site não é o dono da verdade. Mas também se dá ao direito de criticar uma gestão que conduz uma coisa fantasmagórica chamada (desculpem o palavrão) Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico, mais conhecida pelo apelido de Cpamp. A simples existência dessa comissão já é um absurdo e o nome nem fala. Tudo invenção de tecnocrata sem imaginação, mas ocupantes de altos cargos e possuidores de grandes salários.
Essa tal de Cpamp tem muitos pais e mães. Foi instituída pelo Ministério de Minas e Energia – MME, por determinação do Conselho Nacional de Política Energética – CNPE. Oficialmente, a criação da Cpamp foi motivada para garantir a coerência e a integração das metodologias e programas computacionais utilizados pelo MME, pela Empresa de Pesquisa Energética- EPE, pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE.
Na verdade, isso é apenas uma parcela pequena da justificativa. A Cpamp só surgiu porque houve muitas críticas aos modelos computacionais e os dirigentes institucionais, os servidores que conduzem o SEB, morrem de medo de aplicar, no Brasil, aquilo que já existe em grande parte do mundo civilizado, que é a definição do preço da energia elétrica com base nos interesses objetivos de compradores e vendedores. Compra-se por tanto, vende-se por tanto. Simples assim.
Não, isso é uma heresia conceitual. Isso não pode acontecer no Brasil. Aqui é preciso manter uma caríssima estrutura que passa pelo ONS, pela CCEE, pela Aneel, pela EPE, pelo MME e pelos próprios agentes, para que possa sobreviver um modelo envelhecido de definição de preços com base em fórmulas matemáticas, que são uma espécie de cloroquina do setor elétrico. É provável que alguém esteja se saindo bem nessa história, a começar pelos sábios matemáticos que formulam esses cálculos. Ninguém precisa reclamar, pois os idiotas dos consumidores nem sabem que pagam por isso.
Entretanto, este site lamenta esclarecer que a Cpamp, ou o ONS ou o Cepel, quem quer que seja, pode ajustar as fórmulas, os modelos podem ser corrigidos, mas não adianta. Os erros continuarão aparecendo. O fato concreto é que o estagiário do ONS é incansável. Compreende o seu papel na história do SEB e sempre está disposto a fazer o seu sacrifício para que tudo saia errado na hora de se fixar preços com base em modelos computacionais. Esse estagiário é incorrigível.