Uso de UTE´s na crise pode custar R$ 10 bi
Maurício Corrêa, de Brasília —
Não há qualquer risco, no momento, de desabastecimento na área de energia elétrica. Mas discretamente o Governo começou a se preparar para o pior e nesta sexta-feira, 04 de junho, pediu aos grandes consumidores industriais que apresentem uma proposta conjunta de redução voluntária da demanda. Ainda não é o racionamento, mas é o primeiro passo nessa direção, na forma de um plano de racionalização no uso da energia elétrica, pois existe uma preocupação concreta com o uso da energia térmica que será necessária utilizar para o volume que faltar de hidreletricidade. Segundo apurou o “Paranoá Energia” esse custo vai ser uma montanha de dinheiro, superior a R$ 10 bilhões, valor que será transferido aos consumidores.
Três presidentes de associações empresariais foram convidados a participar de uma reunião virtual com a secretária-executiva do MME, Marisete Pereira. Participaram Mário Menel da Cunha, da Abiape, Paulo Pedrosa, da Abrace, e Venílton Tadini, da Abidb. Pelo lado institucional, participaram André Pepitone, da Aneel, Luiz Carlos Ciocchi, do ONS, Rui Altieri, da CCEE, Thiago Barral da EPE, e assessores diretos da secretária Marisete.
Este site apurou que Tadini deu uma notícia que é muito boa para o País, mas é preocupante para o setor elétrico. O segmento da indústria de base (que produz máquinas para outros setores da indústria) está bombando. Ele confirmou que existe de fato uma forte tendência de expansão entre as empresas associadas à Abidb, pois a economia voltou a crescer.
Em reforço à informação dada pela Abidb e embora não seja da área dessa associação, mas, sim, da autoprodução, o governo foi informado que a CBA, que pertence ao Grupo Votorantim, já está operando 10% acima daquilo que normalmente produz no dia a dia.
Na próxima terça-feira, dia 08 de junho, Menel e Pedrosa vão se reunir para tentar desenhar uma proposta conjunta de redução voluntária da demanda solicitada pelo Governo. Essa proposta será construída durante o mês de junho, de modo que, no início de julho, o MME já esteja em condições de avançar em relação ao tema.
Desde o começo deste ano, já existe um marco legal que prevê a redução voluntária da demanda, mas não houve adesão por parte dos agentes. De certa forma, a situação por enquanto é confortável para o governo e para os agentes, considerando que a carga gira em torno de 68 mil MW, mas a capacidade instalada é de 160 mil. Prevê-se que a hidreletricidade ficará numa situação crítica nos meses de agosto, setembro e outubro, já que as primeiras chuvas deverão aliviar o sistema a partir de novembro.
Um dos assuntos discutidos na reunião virtual desta sexta-feira foi o deslocamento da ponta, ou seja, se existe uma indústria que produz a todo vapor no horário de 15 às 19 horas, por exemplo, o governo quer deslocar o consumo mais intenso para um horário mais tarde, quando as linhas entre oferta e demanda já seriam mais folgadas. Um dos participantes da reunião disse ao “Paranoá Energia” que o objetivo do MME, ao pedir a colaboração da Abiape e da Abrace, é avaliar os mecanismos disponíveis para diminuir a carga e aumentar a oferta de energia. “Mas nada impositivo. De forma voluntária”, esclareceu a fonte.
A situação, entretanto, é apenas aparentemente tranquila, pois há uma ficção no meio do caminho. Embora exista folga na capacidade instalada, muitas térmicas que eventualmente são chamadas a operar pelo ONS revelam que não estão em condições de gerar, por motivos diversos (máquinas em manutenção, etc). Por isso, o ONS decidiu passar um pente fino nesse parque térmico para se certificar das usinas com as quais realmente pode contar na hora que for preciso. Ninguém fala em racionamento por enquanto, mas o ONS não quer ficar com o mico na mão.
Os participantes da reunião organizada pelo MME apresentaram análises convergentes. Nâo há ameaças próximas para o abastecimento, mas todo mundo está antenado para o que poderá acontecer no segundo semestre, quando algumas situações pontuais poderão afetar a potência, não a energia. Entre os agentes, há um ponto adicional de convergência: é necessário melhorar o sinal de preços, mesmo não existindo clima para faltar energia.
Depois da reunião, o MME liberou um comunicado, informando sobre a realização do encontro virtual. O novo secretário de Energia Elétrica do MME, Christiano Vieira, fez uma apresentação sobre o acompanhamento das condições de atendimento ao Sistema Interligado Nacional – SIN, diante do regime de chuvas verificado, que se iniciou atrasado, em volumes inferiores e terminando mais cedo.
Vieira, segundo o MME, “informou sobre as ações que vêm sendo adotadas pelas instituições do setor elétrico desde outubro de 2020 a partir do acompanhamento das condições de atendimento ao Sistema Interligado Nacional – SIN. Apontou que, diante do regime desfavorável de chuvas verificado é necessária a implementação de estratégias para estocar mais água nos reservatórios desde já para que seja garantido adequado atendimento da carga no período de maior demanda, previsto para ocorrer em dezembro de 2021. Nesse aspecto, destacou que as ações não dependem exclusivamente da gestão setorial”.
Embora tenha sido uma reunião tranquila, este site apurou que existe uma certa tensão no ar, pois as condições de operação do setor elétrico são difíceis. A Agência Nacional de Águas (Ana) revelou há poucos dias que em sete hidrelétricas localizadas na região Sudeste o volume de água é muito baixo e as perspectivas são críticas, configurando um quadro de escassez até o final de novembro. Na região, sete usinas têm hoje o pior histórico de volume de água desde 1999: Nova Ponte, Emborcação e São Simão (no rio Paranaíba), Marimbondo e Água Vermelha (no rio Grande), Barra Bonita (no rio Tietê) e Chavantes (no rio Paranapanema).