Consumidor considera energia muito cara
Maurício Corrêa, de Brasília (com apoio da Abraceel) —
Pesquisa em nível nacional feita pelo Datafolha, sob encomenda da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), disponibilizada no site da organização, mostrou que os brasileiros continuam fortemente interessados em alterar a forma como a energia elétrica chega em suas residências, com indicação de necessidade de que sejam modernizadas as relações entre fornecedores e consumidores de energia elétrica.
No total, foram realizadas 2.081 entrevistas em todo o Brasil, no período entre 10 e 14 de maio, distribuídas em cerca de 130 municípios. A margem de erro máxima para o total da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%, o que empresta muita credibilidade à pesquisa realizada, a qual não difere muito de consultas semelhantes recentes realizadas pela Abraceel.
Segundo as conclusões da pesquisa, a energia elétrica é considerada cara ou muito cara pela grande maioria dos brasileiros (83%). A pesquisa leva a uma conclusão inevitável: se em cada 10 brasileiros, oito consideram o preço da energia elétrica elevadíssimo (48% muito caro e 35% caro, sendo que apenas 13% o consideram justo), está bastante evidente que a conta de luz poderá ter pesadas consequências nas próximas eleições.
Afinal, consumidores de energia elétrica também são eleitores. Se candidatos da Oposição tiverem habilidade para manejar esses números, o setor elétrico pode se transformar numa dificuldade adicional para quem pretende se reeleger no campo do Governo, não apenas no Poder Executivo, mas, também, nas forças congressuais que o apoiam.
A medição do Datafolha atingiu consumidores localizados em cidades do interior (59%) e das regiões metropolitanas (41%), o que confere bastante credibilidade aos resultados aferidos.
Os resultados da pesquisa mostram que aumentaram as menções a uma interferência excessiva do governo e ao desperdício de energia como razões para o alto custo, embora os impostos e a falta de concorrência ainda continuem sendo as duas principais justificativas. Isso revela que está muito claro que o consumidor de energia elétrica não é bobo e tem uma nítida percepção a respeito dos problemas básicos que afetam o preço pago pela energia elétrica.
A pesquisa também revelou que o apoio dos brasileiros à possibilidade de poder escolher a empresa que fornece a energia elétrica continua alto (81%), sendo o maior percentual da série histórica. “Atrelado a este apoio existe a percepção da maioria da população de que o preço da energia tende a diminuir caso isso ocorra. A intenção de trocar de operadora numa situação de livre escolha também atingiu o maior patamar da série histórica, com sete em cada dez brasileiros indicando que trocariam de empresa caso isso fosse possível”, diz a pesquisa, nas conclusões.
Ressalva, entretanto, que “embora o preço continue sendo o principal motivador para esta troca (64%), a procura por energia limpa manteve a tendência de crescimento verificada nas últimas ondas e se isolou como segunda razão para a troca com 20% das citações”.
Já entre os 30% que não trocariam de operadora, a confiança nas atuais concessionárias de distribuição cresceu 16 pontos percentuais em relação ao ano anterior, sendo a principal razão e ultrapassando a questão do preço que ficou na segunda posição. O desejo de gerar energia elétrica em casa se manteve acima de 90% da população pelo terceiro ano consecutivo, percentual abaixo deste índice apenas entre os brasileiros com 60 anos ou mais (87%), pessoas com apenas o ensino fundamental (87%) e pessoas das classes C/D (88%).
A pesquisa revela que cresceu sete pontos percentuais a disposição dos brasileiros em pagar um preço maior na conta de luz para incentivar a geração deste tipo de energia através de fontes renováveis, chegando próximo da metade da população (46%), contra 51% que não pagariam a mais por isso.
Por causa da pandemia de Covid-19, cerca de três em cada 10 brasileiros (29%) estão totalmente isolados ou saindo de casa apenas quando é inevitável. Desse modo, e inevitável que para a maioria dos brasileiros houve percepção sobre aumento do consumo e custo da energia elétrica durante a pandemia, além da redução na renda familiar.
O Datafolha indicou ainda que se por um lado o brasileiro viu o consumo aumentar, por outro isso despertou a necessidade de buscar economizar para tentar reduzir a conta de luz, pois os impactos nos bolsos dos consumidores têm sido elevados.