MP 579 impacta imagem dos distribuidores
Maurício Corrêa, de Brasília —
Ao apresentar os dados da 18ª edição da Pesquisa de Satisfação do Cliente Residencial, nesta terça-feira, 21 de junho, em Brasília, o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, reconheceu que a MP 579 — uma das mais infelizes decisões da presidente Dilma Rousseff na área de energia elétrica — impactou severamente as concessionárias de distribuição naquilo que há de mais precioso, ou seja, a imagem perante os consumidores. Entre 2005 e 2015, a pesquisa sempre apresentou taxas acima de 76% de satisfação, mas, neste ano, o índice ficou em 74,4%, contra 77,3% no ano passado. “A pesquisa teve influência do valor da conta, pois houve uma nítida correlação”, afirmou Leite, salientando que “dá para ver claramente que a percepção de preço contaminou a percepção de qualidade dos serviços”.
O levantamento foi realizado pela Abradee entre 13 de fevereiro e 18 de março, pela Innovare Pesquisa, participando 49 empresas de distribuição que, em conjunto, atendem a 98% dos consumidores de todo o País. Foram entrevistados 26.575 residências, em 870 municípios, em todas as regiões. “Na Abradee, entendemos que era preciso divulgar o resultado da pesquisa, mesmo com o dado em queda, para manter a credibilidade”, explicou o presidente. A pesquisa verificou a opinião dos consumidores em relação a itens como a conta, fornecimento, imagem, atendimento e informação e comunicação por parte das concessionárias.
Para Nelson Leite, a pesquisa de satisfação na versão 2016 sofreu ainda as consequências do que aconteceu em 2014, quando foram contraídos empréstimos pela CCEE, no mercado financeiro, repassando os recursos às distribuidoras, para cobrir o aumento dos gastos com a energia térmica. Entretanto, os custos finais foram bancados pelos consumidores. “Foi um ano de ilusão”, lembrou. Não mencionou isso, mas, de fato, foi um ano de eleição, quando o Governo jogou todo o seu peso para reduzir artificialmente as contas de luz, tendo em vista uma eleição futura.
Em 2015, chegou a hora de pagar a fatura e isso se refletiu diretamente na pesquisa, com a visão dos consumidores a respeito das distribuidoras, que estão na ponta do negócio. Afinal, o consumidor, quando olha para o setor elétrico, ele olha para a distribuidora, que é o fornecedor do serviço. “O consumidor vê quem entrega a energia para ele”, afirmou o presidente da Abradee. Leite, entretanto, acredita que é possível transformar o limão em uma limonada. Afinal, uma avaliação de 74,4% ainda assim é bastante positiva, pois três em cada quatro consumidores residenciais estão satisfeitos com o serviço de distribuição.
O resultado por região acompanha os índices de qualidade que a própria Aneel identifica nas concessionárias. No Sul, por exemplo, foi 83,9% no ano passado e 82,9% em 2016; no Sudeste, 78,1% contra 77,5%; no Nordeste, houve uma diferença maior, caindo de 77,3% para 73,1%. Entretanto, a maior diferença que a pesquisa de satisfação mostra foi percebida no Norte e Centro-Oeste, onde passou de 68,4% para 63,4%.
É verdade que, nos últimos anos, as distribuidoras têm sido espremidas nas suas tarifas e consequentemente nos seus resultados operacionais. Leite, contudo, afirmou que a associação tem se esforçado para mostrar ao MME, à classe política e ao regulador uma série de ações e interlocuções, porque a distribuição precisa ter condições favoráveis para atrair investimentos. Ele citou como exemplo a recente decisão do ministro Fernando Coelho Filho, que autorizou a distribuição a lançar debêntures incentivadas. “Este foi o primeiro passo para que possamos ter acesso a uma fonte de financiamento mais barata”, comentou.