MME e Itamaraty discutem saída para UTE Uruguaiana
Maurício Corrêa, de Brasília —
Os dias de agonia de um dos maiores micos do setor elétrico brasileiro, pois representou um investimento superior a US$ 300 milhões e não gera energia elétrica, podem estar chegando ao fim, com as negociações em curso na alta cúpula do Governo para resolver de forma definitiva o problema da usina termelétrica de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, pertencente ao Grupo AES.
Uma fonte confiável da empresa informou a este site que a solução que está sendo desenhada envolve muitos atores, mas é factível. A térmica — que está paralisada por falta de combustível — voltaria a receber gás natural da Argentina, mas a energia elétrica por ela gerada seria destinada exclusivamente ao mercado do país vizinho. A economia argentina está se reaquecendo e o país precisa de mais energia elétrica.
Os entendimentos já estão ocorrendo em alto nível, com participação do Ministérios de Minas e Energia e de Relações Exteriores do Brasil e seus congêneres argentinos, além, naturalmente, da empresa AES, que controla a usina. “É uma negociação que não é fácil, pois é preciso equacionar um longo contencioso que surgiu, mas acreditamos que as mudanças políticas no Brasil e na Argentina criaram condições para resolver o impasse”, afirmou a fonte.
De fato, a UHE Uruguaiana tem sido uma pedra no sapato no relacionamento bilateral Brasil-Argentina e só não se transformou em um problema diplomático de maior magnitude porque o Brasil não quis encrencar com o país vizinho devido à diplomacia gerada no âmbito do Mercosul. No caso da UHE, o Brasil tomou a mesma atitude que fez em relação à Bolívia, quando Evo Morales mandou o Exército tomar posse de propriedades da Petrobras: ficou quieto, em nome da diplomacia regional.
A térmica foi planejada para funcionar em Uruguaiana, na fronteira entre os dois países, operando com gás natural importado da Argentina. É uma grande térmica, com capacidade instalada de 600 MW, o que permite abastecer isoladamente uma cidade do tamanho de Porto Alegre.
A usina entrou em operação em dezembro de 2000, sendo a primeira em todo o País a operar com o gás natural como combustível. Ela começou a funcionar no momento exato. Era antevéspera do racionamento e o Rio Grande do Sul — um ponto crítico no abastecimento — teve um importante reforço na época.
Os problemas surgiram em 2005, quando a Argentina cortou o fornecimento de gás natural pela primeira vez. A interrupção total aconteceu em maio de 2008, quando a Yacimientos Petroliferos Fiscales (YPF) simplesmente deixou de honrar o contrato de entrega de gás, o que acabou em um processo de arbitragem, cuja conclusão está prevista para 2017.
Desde então, em alguns momentos excepcionais, a térmica de Uruguaiana chegou a gerar energia, mas envolvendo uma logística extremamente complexa, que passou pela importação de gás da Nigéria, através de uma subsidiária da Petrobras. O gás foi transportado de navio até a Argentina e, aí, foi injetado na rede de gasodutos até chegar a Uruguaiana. O preço, obviamente, foi proibitivo, mas necessário, pois o Brasil corria o risco de um apagão.
Tudo o que diz respeito à térmica de Uruguaiana é complexo. Afinal, ela está distante dos centros de consumo e não foi interligada ao gasoduto Bolívia-Brasil. Ficou totalmente dependente do humor argentino. No ano passado, circularam informações que davam conta que a usina seria desmontada e levada para outro lugar. Agora, as negociações diplomáticas foram reativadas e aparentemente surgiu uma luz no fim do túnel para ajudar a encontrar a cabeça de burro enterrada junto à usina, em Uruguaiana.