Comercializadores dizem não às propostas da Cpamp
No dia 16 de fevereiro, última quarta-feira, as empresas associadas à Abraceel se reuniram para discutir as propostas de mudança nos programas computacionais que definem o preço da energia elétrica. Essas propostas foram elaboradas pela Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico, um monstrengo tecnocrático controlado pelo Ministério de Minas e Energia, que também atende pelo nome de Cpamp.
Lá pelas tantas, durante a reunião, a Abraceel fez uma votação entre os associados, para saber o que eles pensavam sobre as mudanças, que vão afetar profundamente o seu trabalho. As respostas foram um vexame para a tal Cpamp, segundo apurou este site.
Para a pergunta “Você acha que a proposta da Cpamp está alinhada com a posição histórica da Abraceel?”, o resultado foi 40% sim e 60% não.
Depois a associação perguntou se a CRef 2022 (uma metodologia que será introduzida para calibrar o CVaR) é de boa qualidade. De novo, os comercializadores deram uma paulada na Cpamp. O resultado foi 28% sim e 66% não.
Finalmente, a associação perguntou aos comercializadores: “Você apoia os pares do CVaR (25,40)?”. Resultado: 26% sim e 74% não. Ou seja, para os comercializadores as propostas de mudanças que a Cpamp pretende introduzir, afetando o mercado como um todo, valem tanto quanto uma nota de sete reais produzida em Letícia, na Colômbia.
Essa rejeição à proposta da Cpamp tem uma explicação muito simples e quer dizer apenas uma coisa. Oficialmente, os agentes do setor elétrico tratam essa Cpamp com a maior cerimônia e educação, pois o SEB raramente chuta o balde e trabalha há décadas com a tradição de tentar ser diplomático e respeitar as autoridades. Até porque sabem muito bem que num país como o Brasil as autoridades do setor elétrico querem mandar em tudo e engessar tudo. A própria Cpamp é produto dessa excrescência.
Mas, nos bastidores, quando não precisam ficar cheios de nhem-nhem-nhem com os manda-chuvas do MME, os agentes estão se lixando para a Cpamp. Entre os comercializadores, então, não adianta muito tentar dourar a pílula, pois essa categoria de agentes historicamente se esforça para trabalhar com os preços os mais próximos possíveis da operação. As fórmulas matemáticas engendradas pela Cpamp e pelos gênios que operam os modelos computacionais só servem para tirar a credibilidade e a previsibilidade dos preços, pois elas sempre falham. E como falham.
Como se diz no interior de Minas, pode chover canivete que os comercializadores jamais morrerão de amores pela Cpamp e seus devaneios tecnocráticos. Por isso, o resultado dessa pesquisa interna interna da Abraceel não surpreende. Os agentes podem ficar ali, tratando todo mundo muito bem, jogando um charme, mas na essência ninguém leva a sério esses modelos computacionais produzidos pelos gênios matemáticos do setor elétrico brasileiro.