Cemig é acusada, fala grosso, faz exigências e fica por isso mesmo
Maurício Corrêa, de Brasília —
A geradora mineira Cemig aparentemente teria passado recibo na acusação que foi feita pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), que, em recurso protocolado na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no dia 07 de junho, escreveu que a empresa se beneficiou de informações privilegiadas obtidas irregularmente na operação do rio São Francisco, em atividades que envolvem a hidrelétrica de Três Marias. A Chesf também foi acusada pela associação no mesmo recurso relativamente à UHE Sobradinho.
No último dia 27, a Cemig enviou uma carta dura aos dirigentes da associação (Conselho de Administração e Presidência Executiva), com cópia para a Aneel, ONS e associados da Abraceel, rebatendo as acusações e garantindo que não fez nada de errado. Sentindo-se prejudicada na sua honra, imagem e reputação, a Cemig exigiu da Abraceel, no documento, uma imediata retratação pública, além de outras atitudes visando corrigir a acusação.
Até a noite desta sexta-feira, 1º de julho, não aconteceu nada, a não ser um total silêncio das partes envolvidas na confusão. A Abraceel não se retratou, como havia exigido a geradora. Ao que tudo indica o assunto morreu aí. Este site apurou que a única pedra movimentada nesse tabuleiro, no período, foi uma reunião que o presidente do Conselho de Administração da Abraceel, Oderval Duarte, solicitou imediatamente à Cemig, tão logo recebeu a carta que rebatia as acusações da associação.
A reunião foi realizada na noite do dia 29 de junho, quando Duarte foi recebido, em Belo Horizonte, pelo diretor comercial da geradora, Evandro Vasconcelos, que assinou a carta. Antes, durante e depois dessa reunião foi um silêncio total, constrangendo até mesmo associados da Abraceel que, em off, conversaram com este site.
Desde que a confusão veio à tona, o “Paranoá Energia” já tentou falar não só com a associação, mas, também, com a Cemig e a Chesf, através das respectivas áreas de atendimento à imprensa. Não houve sequer resposta aos pedidos de esclarecimentos enviados pelo site por meio eletrônico.
Depois da reunião de Belo Horizonte, o site também encaminhou por escrito um pedido de entrevista ao presidente do Conselho de Administração da Abraceel, que teve a gentileza de responder, mas informando que não queria se manifestar a respeito do assunto.
Na resposta, ele explicou que está sempre à disposição para “a discussão de qualquer tema relevante associado ao Setor Elétrico Nacional, o que, infelizmente, acredito não ser este o caso. Reginaldo (Medeiros, presidente executivo) e eu estamos pessoalmente empenhados em logo superar este obstáculo e voltar a concentrar todas as nossas atenções em discussões que realmente agreguem valor ao nosso mercado”, assinalou o principal dirigente da Abraceel.
O silêncio adotado pelas cúpulas das duas organizações tem provocado muitas dúvidas, levando algumas fontes a entender que teria sido costurado um acordo entre quem acusou e quem foi acusado. Dentro da Abraceel, alguns associados argumentaram que a associação pautou toda a sua história de mais de 15 anos com base na transparência e no tratamento isonômico das informações entre dirigentes e empresas associadas, mas que essa clareza não estaria ocorrendo agora.
Segundo garantiram três associados, desde a carta da Cemig ninguém dentro da associação tem informações, a não ser a cúpula dirigente, a quem, aliás, acusam de ter deflagrado a confusão e colocado a associação numa espécie de sinuca de bico, considerando que ainda está pendente até mesmo algum tipo de ação judicial por conta da Cemig. “Uma eventual retratação pública será enorme prejuízo de imagem para nós”, reconheceu uma fonte.
Havia, desde a manhã desta sexta-feira, uma enorme expectativa em relação ao relatório semanal que a Abraceel envia aos seus associados todo final de semana, no final da tarde/início da noite. Nesta sexta, entretanto, este site apurou que o relatório foi de fato distribuído, mas sem qualquer tipo de informação sobre as divergências com a Cemig — que, aliás, é uma empresa associada da Abraceel. Pelo menos um associado lembrou que “a nossa transparência, da qual tanto nos orgulhamos, já era. Não houve sequer uma vírgula sobre o assunto no relatório”.
Mesmo em um mercado que em larga escala é alimentado por boatos de vários tipos a cada dia, poucas pessoas dispõem de informação sobre o que está efetivamente acontecendo e em que bases teria sido a conversa ocorrida na noite do dia 29, em Belo Horizonte. Há quem especule que teria ocorrido algum tipo de acordo através do qual a Abraceel patentearia por escrito uma espécie de desculpas à Cemig pelo ocorrido e a geradora, por sua vez, recuaria um passo e não daria publicidade ao documento e desobrigaria a associação de ter que reconhecer isto publicamente.
Se for isto, vai agradar a alguns, mas, também, vai desagradar a muita gente. Dentro da Cemig, existem aqueles mais exaltados que não admitem a acusação imposta à empresa e entendem que, se não houver uma retratação pública da associação, a geradora estaria passando recibo por algo que não teria cometido. Por outro lado, dentro da associação existem empresas que ficaram extremamente descontentes com a forma como o assunto foi conduzido internamente, antes e depois do recurso. De acordo com essa visão, a imagem da associação saiu no prejuízo com o episódio “Cemig” e que será necessário um bom tempo para recompor essa parcela intangível do capital da associação.