Wilson acredita em consolidação no ML
Maurício Corrêa, de Brasília —
De Wilson Ferreira Junior, presidente da empresa de energia Vibra, pode-se falar o que quiser. Menos que não conhece o setor elétrico brasileiro. Ele conhece sim e muito. Há muitos anos é publicamente reconhecido como um dos principais executivos da área de energia no Brasil.
Tendo participado, no último dia 12, de uma reunião do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), quando analisou as mudanças que poderão ocorrer no mercado livre, em consequência da abertura para milhões de novos consumidores, Wilson não escondeu o que pensa. Ele deixou um rastro de preocupação para a maior parte dos associados.
Conforme este site apurou, ele disse que a extensão da portabilidade vai virar o mercado de cabeça prá baixo e o que existe hoje será completamente diferente do que vem pela frente. É uma situação que a maior parte dos associados da Abraceel, hoje, não está em condições de acompanhar.
Conforme argumentou, os agentes de comercialização precisarão enfrentar enormes desafios com a abertura do mercado, razão pela qual precisarão modernizar os seus procedimentos, investir fortemente em digitalização e em mecanismos de relacionamento com os consumidores, oferecendo novos produtos e serviços.
Nesse processo, mas não com estas palavras, deixou implícito que algumas empresas ficarão pelo caminho. No seu entendimento, o mercado experimentará uma forte consolidação, pois os agentes passarão a operar com volumes muito grandes, que se encarregarão naturalmente de expelir do mercado aquelas empresas que não estarão em condições de acompanhar as transformações que ocorrerão na medida em que as operações deixarem de ser com os poucos clientes atuais, para ser de milhões de consumidores. Daí a importância de se investir pesadamente em digitalização.
Wilson Ferreira Junior não duvida que os comercializadores passarão a operar com margens menores, em comparação com as que existem hoje. Passarão a ganhar com base no volume. Nesse novo contexto, quem sobrar no mercado necessariamente precisará contar com maior volume de capital de giro, garantias mais do que adequadas e estruturas operacionais que possam dar respostas às novas exigências empresariais.
Wilson Ferreira Junior está convencido que as comercializadoras precisarão investir muito na gestão de riscos, para que possam corresponder às exigências de segurança impostas pelo mercado. E isso, na sua visão, só poderá acontecer com estruturas financeiras robustas. Também não disse isso, mas a conclusão é óbvia: quem não possuir bala na agulha vai ficar fora do mercado.
Além disso, ele vaticinou que aqueles que não operam com fontes de energia limpa e renováveis terão um pouco mais de dificuldade para sobreviver no novo mercado livre brasileiro de energia elétrica. Produtos voltados para a economia de baixo carbono terão enorme significado nesse novo contexto do ML.
Os atributos de Ferreira Junior para dissertar sobre esses assuntos são indiscutíveis. Quando ele trocou a presidência da estatal federal Eletrobras pela Vibra, deu de cara com uma empresa que era apenas uma gigantesca distribuidora de derivados de petróleo, através de milhares de postos de serviço espalhados por todo o País.
A antiga subsidiária da Petrobras chamada BR Distribuidora havia sido privatizada em 2019 e tornou-se uma empresa de capital aberto. Logo de cara, Wilson comprou a comercializadora Targus e iniciou um processo que o mercado classifica como de uma plataforma multienergia. Ninguém entendeu muito bem essa guinada da Vibra, no início do processo, mas tudo ficou suficientemente claro, mais recentemente, quando em novo lance ousado ele comprou 50% de uma grande comercializadora de energia elétrica, a Comerc, e simplesmente criou a maior comercializadora do País.
Está mais ou menos claro que face à consolidação do mercado que deverá ocorrer, a Vibra fatalmente será um dos sobreviventes. Ninguém poderá dizer, portanto, que não prestou atenção no que ele disse durante a reunião da Abraceel.