Ex-homem forte da Eletrobras, amigo de Dilma, entra na Lava Jato
O engenheiro Valter Cardeal, diretor afastado da Eletrobras que foi alvo de mandado de condução coercitiva da Operação Pripyat, nega “veementemente” qualquer irregularidade no período em que exerceu suas funções na estatal. A informação é do advogado Ney Fayet Junior, sócio do escritório de advocacia responsável por sua defesa, no Rio Grande do Sul.
Cardeal prestou depoimento por uma hora nesta quarta-feira, 06 de julho, na sede da Polícia Federal em Porto Alegre. Ele não respondeu a nenhuma pergunta, seguindo uma orientação da defesa. “Como não tínhamos acesso às informações da investigação, entendemos que era melhor que ele se mantivesse em silêncio, até termos ciência do caso”, disse Fayet Junior à reportagem.
O advogado explicou que seu escritório não teve contato prévio com Cardeal e foi procurado nesta quarta-feira, em caráter de urgência, para acompanhá-lo à Superintendência da PF no Rio Grande do Sul. “Ingressamos hoje na investigação e fizemos o pedido de acesso aos autos. Precisamos ver todas as peças da investigação. Por enquanto não temos nada para transmitir”, explicou. “Só o que posso dizer é que ele repele veementemente que tenha havido qualquer irregularidade durante o tempo em que exerceu suas funções.”
De acordo com Fayet Junior, mais à frente a própria defesa, quando estiver a par da investigação, poderá formular uma solicitação para que Cardeal preste esclarecimentos às autoridades.
A Operação Pripyat, deflagrada nesta quarta-feira, aponta para um suposto esquema de propinas nas obras da Usina Nuclear Angra 3 com a participação de ex-dirigentes dos altos escalões da Eletronuclear. No Rio de Janeiro, a PF cumpriu mandados de prisão preventiva, de prisão temporária, de condução coercitiva e de busca e apreensão. A Pripyat é um desdobramento da 16º fase da Operação Lava Jato, denominada Radioatividade.
Em entrevista coletiva no Rio de Janeiro, o procurador da República Lauro Coelho Jr. afirmou que as investigações ainda não chegaram a uma conclusão sobre qual a função de Valter Cardeal no esquema relativo a Angra 3, mas há indícios que de ele estaria envolvido no pedido e no pagamento de propinas, tanto para os funcionários da Eletronuclear que recebiam recursos indevidos quanto para o “núcleo político”.
Em Porto Alegre, a Polícia Federal também cumpriu hoje um mandado de busca e apreensão num endereço residencial ligado a Cardeal. De acordo com a PF, foram recolhidos documentos impressos e computadores, além de três cartões de memória, cinco HDs externos e 200 pen drives. O material apreendido será encaminhado ao Rio de Janeiro, que concentra as investigações.
Valter Luiz Cardeal é próximo da presidente da República afastada, Dilma Rousseff. O engenheiro começou a carreira no setor energético na década de 1970, na Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE). Aproximou-se de Dilma quando ela foi secretária de Energia do RS no governo de Alceu Collares, entre 1993 e 1994. Cardeal chegou a Brasília depois que Dilma assumiu o Ministério de Minas e Energia no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
O engenheiro gaúcho integrou a diretoria da Eletrobras e está afastado desde 2015, quando seu nome surgiu pela primeira vez nas investigações da Lava Jato.