Radiografia de um modelo inútil
A CCEE realizou em São Paulo mais um seminário, nesta quarta-feira, 25 de maio, em São Paulo, para concluir o óbvio: que o mecanismo atual de formação de preços no setor elétrico brasileiro, baseado em modelos computacionais, é uma inutilidade absoluta, que só serve para criar uma enorme ilusão. Todo mundo sabe que o modelo é uma bobagem e isto é mais antigo do que o rascunho da Bíblia. É muito dinheiro jogado fora, encarece enormemente o custo da energia para os consumidores, mas serve aos interesses de alguns.
O mais curioso é que o setor elétrico como um todo, menos os consultores que ganham muito dinheiro com esse troço, sabe há muito tempo que esses modelos são ruins e não funcionam. E ninguém que tem autoridade para tomar decisões é corajoso o suficiente para dizer que a formação de preços no Brasil não vale nada e que está na hora de acabar com essa brincadeira, passando a praticar o preço por oferta.
É uma enrolação só e ninguém faz nada. Fica-se gastando uma grana com seminários, viagens, consultorias técnicas, um blá-blá-blá danado, apenas para se chegar à conclusão que o modelo não vale nada. E contrata-se novos estudos e faz-se novos seminários, entra ano e sai ano. Uma falta de objetividade descomunal.
Existe um processo de culpa coletiva, inclusive da mídia, que se omite e jamais discute essa questão. E a situação é mais preocupante ainda, pois o Brasil está prestes a ingressar num modelo ampliado em que milhões de consumidores poderão escolher os supridores da energia, sem que se tenha enfrentado corajosamente a falta de transparência dos modelos formados pelos computadores. Ou seja, vamos entrar num mercado de massa na área de energia elétrica, mas os preços não terão qualquer transparência.
Não se deve culpar apenas as autoridades do setor elétrico. É verdade que elas são as responsáveis pela condução do processo, mas é preciso também olhar para a omissão dos agentes econômicos envolvidos nas questões relacionadas com a formação de preços.
Tem muita gente boa e consciente no mercado de energia elétrica, mas não se pode deixar de apontar que muitos não querem perder a boquinha de uma espécie de “reserva de mercado”, na forma do conhecimento adquirido ao longo de muitos anos em rodar os modelos de formação de preços do SEB.
Esses especialistas, é lógico, dominam essa área e acabaram se transformando numa espécie de bruxos modernos. Só eles sabem o caminho das pedras e estão espalhados pelo setor elétrico de forma generalizada. No Cepel, no ONS, na CCEE, na EPE, na Aneel, nas geradoras, nas comercializadoras e em grandes consumidores de energia elétrica, sem contar o investimento feito em tecnologia e mão-de-obra nas empresas de meteorologia e consultorias especializadas nos modelos (os chamados modeleiros).
Toda essa turma ganha uma grana torta, porque sabe como os modelos funcionam (ou melhor, não funcionam, mas, enfim, eles têm solução para tudo, pois são gênios matemáticos) e está na cara que eles não querem concorrer com os especialistas do mercado financeiro que vem por aí.
Afinal, estes, quando passarem a atuar em larga escala no setor elétrico, com a provável expansão do mercado livre, vão nadar de braçada num mecanismo de formação de preços via mercado. Tudo indica que haverá um mudança no mercado da bruxaria e novos bruxos vão ocupar os lugares dos feiticeiros atuais.
Ou seja, toda essa turma que hoje vive ancorada nos modelos computacionais, provavelmente não vai ter o que fazer com todo o conhecimento adquirido nos últimos 20 anos e precisará se ajustar no mercado de trabalho.
É disso que se trata e o resto é conversa fiada para boi dormir. É apenas por isso que as coisas não vão para a frente e não se pode culpar apenas as autoridades do setor elétrico. O sistema é que não deixa a coisa funcionar.