Santo Antônio, proteja os consumidores de energia
No dia 13 de junho comemora-se o Dia de Santo Antônio, que não é uma esponja de Bombril, mas parece ter mil e uma utilidades. Além de padroeiro dos pobres, é considerado um santo casamenteiro e padroeiro de causas perdidas. É venerado não apenas na Igreja Católica, mas, também, na Umbanda, onde Ogum representa Santo Antônio. É um santo que tem força política no meio religioso, tanto nas igrejas católicas quanto nos terreiros.
Santo Antônio tem tudo a ver com o setor elétrico brasileiro, o qual precisa urgentemente se casar com a realidade. Além disso, o SEB precisa encontrar justificativa para um monte de ineficiências historicamente acumuladas que só mesmo um padroeiro poderoso como Santo Antônio, que também tem os pés na Umbanda, poderá talvez resolver.
Os tecnocratas que vivem nesta parte do Planeta já mostraram que são suficientemente incompetentes e insensíveis para tornar o SEB eficiente e mais barato para o consumidor brasileiro. Quase sempre, olham apenas para seus interesses corporativos, talvez para os gordos contracheques do final do mês, e estamos conversados. Para esses tecnocratas, consumidor é sempre um chato e apenas um mero detalhe, que só serve para atrapalhar. Mais ou menos como jornalistas.
No dia de Santo Antônio, por pura coincidência, o MME publicou uma portaria que divulga para consulta pública a documentação de um GT de um grupo constituído dentro do próprio ministério, que tem um nome pavoroso: Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico, a famosa Cpamp. Na Igreja Católica, como Santo Antônio, ou na Umbanda, como Ogum, ele deveria olhar com piedade para a tal da Cpamp.
Este site não quer sobrecarregar o bondoso santo, mas o fato é que a Cpamp se enquadra totalmente nas missões de Antônio. Em primeiro lugar, porque é uma causa perdida: ninguém sabe para que serve a tal comissão. Em segundo lugar, porque ela está totalmente descasada da realidade brasileira e o santo é bom nessa história de casamento. Em terceiro lugar, porque Antônio é o padroeiro dos pobres e abandonados. E pobres e abandonados estão os consumidores brasileiros de energia elétrica, que, entre outras inutilidades, precisam sustentar as atividades da tal da Cpamp.
Olhando num contexto mais amplo, nem se fosse ministro de Minas e Energia Santo Antônio conseguiria dar um jeito no setor elétrico brasileiro. Pois existe muita inutilidade que não está diretamente ligada ao orçamento federal. É privada e vive de orçamentos particulares, embora, no final, tudo acabe sendo bancado pelo pobre do consumidor.
De fato, inutilidade no SEB não é sinônimo apenas de Cpamp. O Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), que é uma entidade privada, reúne 27 organizações que representam segmentos diversos do SEB. Isso não é culpa do Fase, obviamente, que se limita a aceitar associações empresariais entre seus associados, caso seja atendido o previsto no estatuto social. Mas a pergunta que não pode deixar de ser feita é uma que não tem relação com o Fase diretamente: existem razões para a existência de 27 associações empresariais do setor elétrico no Brasil?
Não, a rigor não existem essas razões. Mas elas estão aí. Só associações de geradores, são 11. De grandes consumidores de energia elétrica, são duas. E por aí vai. Tem associação de tudo quanto é tipo. Este editor se sente à vontade para comentar este assunto, pois durante mais de 10 anos fez parte desse universo associativo e entende um pouco do assunto.
Entretanto, para aqueles que não conhecem os detalhes, deixou de ser há sete anos e, portanto, já tem período suficiente para falar e escrever o que quiser, considerando que a quarentena no setor público para servidor comissionado que vai para o setor privado é de seis meses. Pode-se dizer que este editor já cumpriu a sua quarentena há muito tempo.
Existem algumas associações que são absolutamente inúteis. Algumas já tiveram importância em algum momento, mas foram definhando, definhando e hoje não têm qualquer significado. Um presidente executivo de associação empresarial que acredita que está na ativa disse certa vez, seriamente, que odeia o trabalho dos jornalistas e que se pudesse jamais falaria com nenhum deles. Esse profissional é que ganha uma grana torta para representar os interesses dos seus associados, inclusive junto à mídia. Pergunta que não pode deixar de ser feita: o que seria das associações se não fosse o apoio do jornalismo, dentro do cumprimento de suas tarefas de informar?
Tem muita inutilidade dando sopa no setor elétrico brasileiro e nem todas estão no Governo. A Cpamp é algo que se destaca, mas entre os interesses privados tem muita bobagem sendo feita e os custos no final são bancados pelos consumidores. A pandemia deixou isso bastante evidente e o mais incrível é que foi suficiente apenas um refresco dado pelo Covid, para se voltar às mesmas práticas anteriores. Aparentemente, ninguém aprendeu as lições dadas pelo vírus. O dinheiro continua sendo jogado pela janela.
Quem olha com atenção percebe que o setor elétrico nada no dinheiro. Não é sem razão. A energia custa barato para ser produzida e torna-se caríssima quando vira uma conta de luz a ser paga pelo consumidor. No meio do caminho, encarecendo a conta, estão todas essas inutilidades (e outras mais) aqui relatadas.
Para quem não sabe, este editor não morre de amores por nenhum dos dois principais candidatos às eleições presidenciais. Entretanto, embora o editor tenha imaginado que para o País seria melhor outro tipo de privatização da Eletrobras, o fato é que o presidente Jair Bolsonaro marcou um gol de bicicleta ao tirar a União do controle da estatal.
Seu erro foi não ter feito isso antes. Ficou mais de três anos enrolando e amassando o barro. Só resolveu encarar a privatização da holding estatal do setor elétrico quando percebeu que estava sendo cobrado pela sociedade. Se dependesse exclusivamente dele, Bolsonaro, é provável que não haveria privatização alguma, mas aos trancos e barrancos acabou saindo e os consumidores agradecem.
Quando os gestores indicados pelos novos controladores da Eletrobras começarem a trabalhar, é provável que todos nós fiquemos assustados com as barbaridades administrativas que serão descobertas. Este site nem está insinuando nada em termos de corrupção e atividades afins, mas apenas do puro e simples desperdício. De folhas de pagamento inflacionadas, de compras mal feitas, etc e etc.
Enfim, de ineficiências. Por isso, no Dia de Santo Antônio, vamos levantar as mãos para os Céus e pedir ao santo casamenteiro que também olhe para os pobres consumidores do setor elétrico brasileiro, que pagam tantas contas que na verdade não deveriam pagar.