O que esperar de Sachsida
Completados dois meses à frente do Ministério de Minas e Energia, Adolfo Sachsida vai aos poucos imprimindo a sua marca.
Mesmo sem ter conhecimentos técnicos, ele vai se diferenciando de outros nomes que o antecederam, devido ao foco na eficiência do setor. Logo de cara afastou do MME nomes que passavam longe de qualquer critério de eficiência. De onde menos se espera, em muitos casos surgem boas soluções.
Ele já percebeu, há muito tempo, desde quando trabalhava no Ministério da Economia, que não adianta ter uma área de energia organizada e tecnicamente competente se ela não é eficiente e, ao contrário, é cara para os consumidores.
O setor elétrico brasileiro é bastante conhecido pela competência técnica. Ninguém discute. Mas também é conhecido por ser caro e por não dar muita bola para os interesses dos consumidores, que acabam bancando tudo.
O SEB, como em outros países, move-se lentamente. É um elefante africano, uma máquina pesada, extremamente avessa a mudanças. Tem dificuldade para perceber que vivemos a era em que os consumidores dão as cartas. E Sachsida já veio do Ministério da Economia com esse pensamento pronto: se não atende aos consumidores, é preciso mudar. Tem dado mostras do que pode ser feito. Em poucas semanas, sacudiu a área de energia com as suas investidas sobre as tarifas de energia elétrica e sobre os preços dos combustíveis.
O ministro de Minas e Energia tem um espaço enorme pela frente para fazer com que a sua área de trabalho seja mais permeável aos interesses dos consumidores e não somente das empresas. Se o governo do presidente Bolsonaro terminar no atual mandato, ele não terá tempo para colocar a sua marca na História.
Entretanto, se Bolsonaro ganhar a chance de um novo mandato e Sachsida permanecer à frente do MME, poderá contribuir bastante nessa tarefa difícil de olhar com mais carinho para os consumidores de energia elétrica. E também de combustíveis, por que não?
O setor elétrico brasileiro nunca teve muita preocupação com a busca da eficiência. Tanto que na sua estrutura há uma superposição de órgãos fazendo a mesma coisa ou trabalhando em situações afins que só levam ao encarecimento do produto final, o que acaba sendo bancado pelos consumidores.
Basta olhar para a estrutura das agências reguladoras e dos órgãos técnicos vinculados ao MME. O Brasil pode fazer a mesma coisa pela metade do custo e do número de técnicos. Basta ter vontade política de mudar.
Um segundo mandato de Bolsonaro poderia questionar toda essa estrutur e, aí, se for o caso, Sachsida teria um papel importante a desempenhar, mesmo não sendo um técnico originário do setor.
Ao indicar Sachsida para o posto, o presidente Bolsonaro pode ter atirado numa coisa e acertado em outra. É possível que, num final de mandato e sem outras opções, Bolsonaro aceitou logo a indicação de Adolfo Sachsida sem piscar, pois era necessário colocar alguém de sua confiança imediatamente na Pasta, no lugar do almirante Bento Albuquerque.
É possível, porém, que o presidente nem tenha tido tempo suficiente de pensar no que Sachsida poderia agregar em conteúdo para a sua gestão, visando não só o curto prazo, mas, também, uma segunda gestão, se ela se concretizar.
Com a sua preocupação pela busca da eficiência, o ministro poderá contribuir, num eventual novo governo, para destravar a proposta de modernização do setor elétrico, com a consequente ampliação do mercado livre. Este site não tem dúvida que o ML poderá ser algo positivo para o País em geral e moderniza um setor que está carcomido pelo tempo. Com a sua visão moderna da economia, Sachsida é capaz de entender isso num piscar de olhos.
Há mais de 20 anos, o mundo mais desenvolvido gira numa direção e os engenheiros eletricistas que controlam o SEB ainda pensam a mesma coisa que existia há 100 anos atrás, ou seja, geração, transmissão e distribuição. Não conseguem ver além disso.
O setor elétrico já evoluiu bastante, mas os gênios que atuam nos bastidores do MME ainda se apegam às formas tradicionais que aprenderam na escola de Itajubá ou durante o regime militar.
Está na hora de avançar e Sachsida poderá ser o nome que vai explodir as antigas estruturas. As suas atitudes, nos dois primeiros meses à frente do MME, oferecem credibilidade. Quem poderá ganhar com isso são os consumidores e o Brasil.