XP lança contrato financeiro de energia elétrica
Da Redação, de Brasília
A XP Investimentos, uma corretora independente com grande presença no mercado financeiro, lançou um produto que, se pegar, causará um agito no mercado de energia elétrica. Trata-se de um contrato financeiro, com registro na Cetip, mas que não se relaciona com a entrega física da energia, ou seja, não precisa passar pela burocracia do MME ou da Aneel. Como corretora, a XP já dispõe de autorização das autoridades do mercado financeiro para comercializar esse tipo de produto.
Sob determinados aspectos, o produto da XP é um achado e coloca o ovo em pé. Há vários anos, alguns especialistas da área de energia tentavam construir uma proposta desse tipo, mas sempre esbarravam no MME ou na Aneel, que entendem de energia, mas não têm a obrigação de saber como funciona o mercado financeiro.
Por isso, na área de energia os negócios são lastreados na entrega física e tem toda a cadeia negocial do setor, passando pelos geradores, agentes de comercialização e consumidores, com contabilização através da CCEE. É um mercado complexo, cujos preços consideram variações climáticas, formação de preços com base em modelos computacionais e projeções de oferta e demanda, numa parafernália matemática que assusta todos aqueles que estão acostumados com os mercados financeiros tradicionais.
Contrastando com o extremo formalismo das regras que imperam no mercado de energia elétrica, no mercado financeiro, é bom lembrar, muitas operações ainda são fechadas na base do “fio do bigode”, ou seja, fica valendo a palavra empenhada.
Agora, as instituições financeiras — fundos ou bancos, por exemplo — poderão adquirir o produto como uma alternativa de investimento, cujos contratos não formarão o preço da energia. Segundo explicou Rafael Carneiro, “head” da área de Energia da XP (que já trabalhou na área de energia elétrica antes de migrar para o mercado financeiro), “os dois mercados, no Brasil, agora ficarão mais próximos, como já ocorre sem problemas nos países mais desenvolvidos”.
De fato, já existem algumas instituições financeiras que participam de comercializadoras no Brasil, como são os casos, por exemplo, do BTG Pactual, que tem uma comercializadora muito ativa do mesmo nome; do Fundo Pátria (que está no capital da Capitale); e da australiana Macquarie (sócia da Nova Comercializadora). Na Sol Energias, de Campinas, a Equatorial tem 51% das ações e esta holding, por sua vez, é controlada por grupos financeiros, com destaques societários para a Squadra Investimentos, IFC (vinculada ao Banco Mundial), BTG Assets, Opportunity e o Norges Bank (que é o Banco Central da Noruega e controlador do sistema econômico do País).
Na avaliação de Rafael Carneiro, o novo produto significa um passo bastante significativo em relação ao mercado de energia e deverá, além de oferecer mais transparência, contribuir para aumentar a liquidez. Ele acredita que esses contratos, refletindo o que já ocorre em outros países, poderão negociar cerca de oito vezes o volume da energia efetivamente consumida. Garantindo a segurança das operações, estará a Cetip, onde os contratos serão devidamente registrados.
Algumas comercializadoras, conforme explicou o “head” de Energia da XP, já abriram contas na corretora e aguardam apenas a virada do exercício para iniciar os negócios. “Não temos dúvida que será uma excelente opção para os investidores. Há muito tempo, o mercado está na expectativa desse tipo de produto”, opinou. Nos cálculos da XP, o potencial anual de negócios envolvendo os contratos atinge quase R$ 190 bilhões.
Fora da XP já existe muito entusiasmo com a proposta. Quem a aplaude, por exemplo, é Cristopher Vlavianos, da comercializadora Comerc, o qual reconhece que o mercado carece de liquidez. “Não contamos com uma clearing no nosso mercado, através da qual possamos fomentar as operações”, disse Vlavianos.
No seu entendimento, iniciativas como as da XP Investimentos são bem recebidas. “Criar produtos que possibilitem o hedge de posições sempre é uma excelente iniciativa”, afirmou, frisando que produtos como o recém-lançado pela XP pode representar o início de um período de mudanças profundas no mercado de energia elétrica.
Como explicou, através do produto da XP uma comercializadora poderá vender para um cliente e se proteger dos riscos da operação no produto financeiro. Desse modo, haverá cobertura para uma eventual oscilação do PLD. Para o dirigente da Comerc, o mercado como um todo só tem a ganhar quando aparece algum player cujo propósito é fomentar as operações.