Por uma nova Eletrobras
Empresa de economia mista e capital aberto, controlada pelo Governo brasileiro, a Eletrobras é uma gigante para qualquer lado que se olhe. É responsável por um terço da capacidade instalada de geração do País, controlando ou participando em sociedade de 45 hidrelétricas, 125 termelétricas, oito parques eólicos e duas usinas nucleares. Através do Procel, coordena um magnífico programa de eficiência energética. Na área de sustentabilidade ambiental, mantém programas merecedores de aplausos. Também é possuidora de praticamente metade das linhas de transmissão em território brasileiro. É a maior empresa de energia elétrica da América Latina, mas está em crise.
A crise não é de competência operacional, pois, se tem uma empresa que conhece bem o que faz, é a Eletrobras (em conjunto com as suas subsidiárias). A crise tem nome e se chama governança corporativa. É para tentar resolver essa crise e repor a Eletrobras novamente no caminho da confiança e da credibilidade que se empossou na sua presidência, nesta semana, o engenheiro e administrador Wilson Ferreira Junior.
Em seu discurso de posse, em Brasília, o novo presidente foi mais do que claro: a Eletrobras é uma empresa pública, mas não pertence ao Governo e tem as suas responsabilidades não apenas com o ambiente em que opera, mas, também, com todos os seus acionistas. O Governo é apenas um deles.
Disse mais: a sua principal função será fazer com que a estatal recupere a credibilidade junto aos agentes econômicos e à sociedade, pois o seu nome esteve envolvido, nos últimos anos, não apenas em ineficiência administrativa, mas, também, possivelmente em situações ilícitas, as quais estão sendo examinadas por comissão especial sob coordenação da ministra Ellen Gracie, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
O fato concreto é que o Governo petista usou e abusou da Eletrobras. Reduziu-a a mero departamento do Palácio do Planalto. Nesse processo, alguns executivos que passaram pela estatal ou que davam as ordens no Ministério de Minas e Energia simplesmente se curvaram às decisões de natureza política, embora soubessem que tecnicamente eram um desastre e que haveria problemas pela frente.
É verdade que sob determinados aspectos o “ok” da estatal era fundamental, como no caso das usinas amazônicas, obras de grande porte para as quais a iniciativa privada não estava em condições de tocar isoladamente. Entretanto, hoje vê-se que havia um processo paralelo de decisões em alguns projetos que nem sempre estavam condizentes com as boas práticas de governança. A comissão especial tem até 11 de outubro para apresentar as suas conclusões.
Executivos de renome e respeitados do setor elétrico com certeza mancharam as suas biografias ao obedecer de forma irrestrita às determinações que vinham do Palácio do Planalto ou então de seus prepostos no MME. Mas outros tiveram a sensatez e a dignidade, como José Luiz Alquéres, de pegar o chapéu e rapar fora, para não serem cúmplices de uma política insensata de destruição da empresa. Algumas dessas pessoas que contribuíram para que a Eletrobras chegasse à situação atual tiveram a cara de pau de participar da solenidade de posse de Wilson Ferreira Junior.
Alquéres, que já havia presidido a estatal durante o Governo do presidente Itamar Franco, participava do Conselho de Administração da Eletrobrás no final de 2012, quando pediu demissão por discordar da forma como a presidente Dilma Rousseff interferia na empresa. Seguramente, ficou em paz com a sua consciência e agora volta à Eletrobras, na condição de presidente do Conselho de Administração. Na posse de Wilson Ferreira Junior, Alquéres lembrou a ignorância ou má fé daqueles que, em nome do Estado, contribuíram para destruir o valor de mercado da Eletrobras a partir da MP 579, de 2012.
Wilson Ferreira Junior diz que está preparado e motivado para dar a sua contribuição ao processo de recuperação financeira e de imagem da Eletrobras. A sua indicação foi uma espécie de mamão com açúcar para todos aqueles que acreditam que a Eletrobras tem ainda uma grande contribuição a oferecer ao País.
O novo presidente tem uma carreira que poucos tiveram a oportunidade de trilhar. Foi executivo na estatal paulista Cesp até que, nos 90, quando o ar soprou para o lado da privatização, passou a integrar o Grupo CPFL. Ficou 18 anos em cargos de alto nível em um grupo que é considerado dos mais eficientes do setor elétrico brasileiro. Sem dúvida, está à altura das exigências para se recuperar um grande grupo de capital misto como a Eletrobras.
Em seu discurso de posse, o novo presidente traçou as linhas básicas que pretende seguir. E está amplamente respaldado pelo atual poder político, com uma diferença fundamental: os novos gestores do MME já disseram que o Governo não vai mais interferir e apenas vai acompanhar as suas estatais através dos respectivos Conselhos de Administração. Wilson repetiu as palavras de João Saldanha: “treino é treino, jogo é jogo”. Agora, está na hora de jogar.