Cortes de energia de consumidores aumentam 100%
Da Redação, de Brasília
Um dos melhores termômetros para se avaliar a profundidade das crises que se abatem sobre a economia, o setor elétrico brasileiro dispõe de dados que mostram que a crise econômica atual é mais do que cruel. De acordo com os dados das próprias empresas de distribuição, no primeiro semestre de 2015 houve um aumento de 100% nos casos de cortes de fornecimento de energia aos consumidores, motivado pela inadimplência nas contas de luz.
A informação é da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Segundo seu presidente, Nélson Fonseca Leite, as empresas não só observam, no caso, a redução da receita, como também são obrigadas a aumentar os custos decorrentes de cada ação de desligamento de consumidores. Mas, no entendimento da Abradee, ainda há razões para um leve otimismo em 2016, devido a fatores como um regime favorável de chuvas no início do período úmido na região Sudeste e, além disso, as tarifas da usina de Itaipu, cotadas em dólar, devem se reduzir, diminuindo o risco hidrológico.
Nélson Leite e os outros dois integrantes da Diretoria-Executiva da Abradee (Marcos Delgado, de Assuntos Regulatórios, e Daniel Mendonça, de Relações Institucionais) apresentaram, no último dia 02 de dezembro, os resultados de uma pesquisa que mostram que as tarifas praticadas no Brasil estão alinhadas com aquelas observadas no mercado internacional. O levantamento foi realizado com base em dados de organizações internacionais, como Banco Mundial, Fórum Econômico Mundial e outros, cruzando-os com os dados disponíveis na Aneel, no IBGE e na própria Abradee.
De acordo com os dados revelados pela associação dos distribuidores brasileiros, mesmo diante de desafios, como a busca da universalização do acesso à energia, da modicidade tarifária e das oscilações de custos, as empresas, ainda assim, mantém um nível de fornecimento que é bem percebido pelos consumidores. Por exemplo: a média latino-americana de satisfação com a qualidade percebida foi de 74,5% no ano de 2014, quando a média brasileira no mesmo período situou-se na faixa de 77,3%.
Quando se compara o Brasil com os demais países que integram o grupo dos chamados Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) o Brasil tem a nota 4,1, o que o deixa na posição média. A Índia recebeu nota 3,4; a África do Sul, 3,6; a Rússia 4,8; e a China 5,2. Entretanto, quando se deixa o universo dos Brics, o Brasil ainda tem muito chão pela frente para melhorar, pois a nota do Chile é 5,4 e a dos Estados Unidos é 6,3.
O setor elétrico brasileiro é um colosso quando se compara com qualquer país. Aqui, a universalização atinge 99,6% dos domicílios, o que revela que apenas uma pequena parcela da população ainda não dispõe de luz elétrica dentro de casa. No período 2014/15, a receita bruta do setor de distribuição, que congrega 63 concessionárias, alcançou R$ R$ 186,7 bilhões, dos quais R$ 63 bilhões foram destinados aos encargos e tributos, o que dá uma ideia sobre a voracidade fiscal do Estado sobre um setor organizado da economia, que, pela sua capilaridade, é considerado uma espécie de galinha dos ovos de ouro.
O levantamento feito pela Abradee — que há 17 anos pesquisa a satisfação dos consumidores residenciais — mostra, porém, que o segmento está com as suas tarifas espremidas. No período de janeiro de 1994 a junho de 2015, o salário mínimo subiu 1.116% e os combustíveis 1.008%, enquanto o acumulado do setor de transporte foi de 760%. Mas a energia elétrica residencial subiu 687%.
Para Nélson Leite, a distribuição tem alguns riscos que não deveria ter, principalmente aqueles que são classificados como da chamada Parcela A das tarifas, que engloba os custos não-gerenciáveis. Os itens da Parcela A cresceram mais do que os itens da Parcela B, onde estão os custos gerenciáveis, aumentando os riscos para as distribuidoras.