Energia nuclear aproxima Brasil e Rússia
Da Redação, de Brasília (com apoio da Sputnik Brasil) —
Nesta segunda-feira (21), teve início o Fórum Internacional AtomExpo, que reúne os principais representantes da indústria nuclear mundial no Parque de Ciência e Arte Sirius, na cidade russa de Sochi.
Durante a sessão plenária do evento, o presidente da ENBPar, Ney Zanella dos Santos, disse que a recente revisão no marco regulatório das atividades nucleares brasileiras, que abriu espaço ao setor privado, possibilitará uma expansão mais rápida do setor.
“O foco é expandir as atividades nucleares no Brasil, não só a produção de energia, mas também a mineração [de urânio]”, disse Ney Zanella dos Santos, durante seu discurso. “Queremos não só Angra 3, mas também Angra 4, e estamos com um projeto de mineração em Santa Quitéria para, em parceria com a iniciativa privada, produzir urânio yellow cake no Nordeste brasileiro.”
Santos comanda a nova empresa estatal ENBPar, responsável pela gestão dos setores de energia nuclear e Itaipu, que não puderam ser privatizados com a Eletrobras. O CEO disse não acreditar que a mudança de governo no Brasil possa ter impacto negativo sobre os projetos de expansão da atividade nuclear.
“A política nuclear brasileira é de Estado. Os governos mudam […], mas o foco da energia nuclear nunca foi alterado, pelo contrário, expandido”, assegurou Santos. “A energia nuclear pode ajudar muito no monitoramento do meio ambiente, afinal temos uma Amazônia inteira para monitorar e cuidar.”
O presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha, concorda, e lembra que investimentos relevantes no setor nuclear foram feitos durante as gestões petistas.
“Foi na gestão de Lula que as obras de Angra 3 foram iniciadas, então retroceder nesse projeto agora seria um enorme equívoco”, disse Cunha à Sputnik Brasil. “O mundo precisa entender que sem energia nuclear não há transição energética.”
O presidente da Abdan relata estar em contato com membros do núcleo de energia do gabinete de transição para pautar o tema da energia nuclear, mas reconhece que “o novo governo tem uma infinidade de coisas para resolver”.
“Acreditamos que orçamento [para projetos do setor nuclear] tem. Mas o mercado privado também está aí para fazer acontecer”, considerou Cunha. “O Estado deve manter o seu trabalho e avançar nos projetos estratégicos, mas temos também como avançar com o apoio da iniciativa privada.”
Cooperação com a Rosatom
Em outubro de 2022, a ENBPar e a empresa estatal russa do setor nuclear Rosatom assinaram um memorando de entendimento para aprofundar a cooperação em áreas como construção, operação e descomissionamento de novas usinas nucleares de alta capacidade baseadas em tecnologias russas no Brasil.
“A parceria com a Rosatom veio em um momento favorável da expansão da atividade brasileira, até porque nossos projetos preveem uma expansão de entre 8GW e 10GW no setor nuclear nos próximos 30 anos”, revelou Ney Zanella dos Santos durante seu discurso na AtomExpo.
Celso Cunha, por sua vez, notou que a cooperação entre a Rosatom e o Brasil é consistente e teve papel relevante durante a pandemia de Covid-19.
“Durante a pandemia, a cooperação com a Rosatom garantiu a continuidade do fornecimento de radiofármacos, essenciais para o tratamento e diagnóstico do câncer”, disse Cunha à Sputnik Brasil. “A Rosatom fornece combustível nuclear não só para o Brasil, mas para diversos outros países no mundo.”
O diretor-geral da Rosatom, Aleksei Likhachev, revelou que os projetos de cooperação internacional da Rosatom seguem inalterados, apesar da nova realidade geopolítica.
“Mantivemos praticamente todos os vínculos comerciais e científicos com nossos parceiros, e vemos um desejo muito grande de superar juntos os desafios atuais”, declarou Likhachev. “O setor nuclear está sendo um oásis de cooperação e bom senso, enquanto em outras áreas o mundo parece estar se dividindo.”
A delegação brasileira na AtomExpo 2022 conta também com o presidente da Nuclep, Carlos Henrique Silva Seixas, o vice-presidente da Rosatom América Latina, Ruan Nunes, e com as coordenadoras de Relações Institucionais e Marketing e Comunicação da Abdan, Thayana Mello e Cristiane Pereira.
“A AtomExpo é uma excelente oportunidade de networking, de fazer contatos comerciais e até vislumbrar a assinatura de acordos e contratos de parceria”, declarou a diretora de Marketing e Comunicação da Abdan no evento, Cristiane Pereira, à Sputnik Brasil. “A nossa expectativa é muito positiva. A Rosatom tem um destaque como grande player da indústria nuclear, que realmente investe em inovação e tecnologia.”
O Fórum AtomExpo 2022 ocorre entre os dias 21 e 22 de novembro em Sochi, na Rússia, e reúne representantes de mais de 50 países, incluindo Belarus, Brasil, China, Egito, Hungria, Índia, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã. Realizado anualmente desde 2009, o fórum ocorre pela primeira vez desde 2019, quando foi interrompido por três anos em função da pandemia de Covid-19.
Fonte: Sputnik Brasil.
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