No MME, sobrou o pessoal do cafezinho
Maurício Corrêa, de Brasília —
Para quem ainda não teve oportunidade de ler, este site sugere a leitura da “Opinião do Editor” que está no ar no Paranoá Energia: “Cadê o MME do Lula?”. Esta nota está relacionada com aquela Opinião.
O fato é o seguinte: se vocês, leitores, entrarem no Google e pedirem o “quem é quem no MME” vão se assustar. É um vazio absoluto de nomes e ideias. E a culpa não é, com certeza, do ministro Alexandre Silveira.
Vale lembrar que, há uma semana, tão logo o atual Governo tomou posse, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, divulgou um listão com nomes de 1.204 servidores, que estavam sendo desligados de suas funções de confiança em vários setores do Governo. Muitos eram do MME.
Embora as razões da Presidência da República nunca tenham sido claramente explicitadas, qualquer um que vive em Brasília sabe que o objetivo dessa medida não foi economia. Mas, sim, aquilo que os governistas classificam como “desbolsonarizar” a alta administração pública.
Quando essa limpeza se dá em ministérios sem expressão técnica (a própria Casa Civil, por exemplo), não representa um problema de primeira linha. Você tira a turma do partido anterior e bota os seus companheiros. Aquele pedaço da máquina volta a funcionar normalmente, sob nova direção.
Mas, quando se faz o mesmo em uma Pasta como o Ministério de Minas e Energia, de grande complexidade técnica, e principalmente quando se indica um ministro político, sem conhecimento específico, o desastre vem a cavalo. É o que está acontecendo neste exato momento no MME.
A medida da qual o ministro Rui Costa tanto se orgulhou simplesmente paralisou o MME. E foi, sobretudo, uma iniciativa idiota, pois vários dos nomes que perderam os cargos de confiança no MME ali estavam sem qualquer conotação política e apenas faziam um trabalho técnico, de ótima qualidade por sinal, elogiado por especialistas de todos os segmentos do SEB.
É o que na linguagem do futebol se chama de gol contra. Talvez não entenda de futebol e é por isso que se orgulha do que fez, mas o ministro Rui Costa fez um belíssimo gol contra e deixou o seu colega do MME, Alexandre Silveira, totalmente órfão. Agora, Silveira está no desespero, tentando preencher com dificuldade as áreas vazias da sua Pasta.
E tem um agravante. Quais são as pessoas da área de Energia que Alexandre Silveira conhece? São aqueles especialistas que, enquanto era senador, Silveira recebia diariamente em seu gabinete, para tratar de emendas, projetos e outras iniciativas congressuais. Ou seja, eram lobistas.
Exercendo uma função absolutamente normal, por sinal. Não é corrupção um congressista receber lobistas, para discutir argumentos técnicos que envolvem as propostas que tramitam no Legislativo.
Neste momento, vários desses lobistas que visitavam o gabinete do então senador Silveira sugerindo mudanças neste ou naquele projeto, estão interessados na ocupação de funções de confiança do agora ministro Silveira.
A pergunta que o ministro provavelmente faz é: “Esse/a especialista é um/a lobista. Será que se eu o/a contratar ele/a continuará operando paralelamente em favor do seu antigo empregador, fazendo lobby dentro do meu gabinete?”. É lógico que cabe essa desconfiança, o que deve deixar o ministro apavorado a respeito de quem vai contratar. Enquanto isso, o tempo corre e deixa o empresariado um pouco aflito. O ministro, mais ainda.
Quando se despediu do MME, o ex-ministro Adolfo Sachsida escreveu numa mensagem que o MME é uma casa de lobbies. Ou seja, qualquer ministro titular da Pasta precisa ficar atento, pois os interesses empresariais na área de Energia são muito elevados e o lobby trabalha de forma incessante.
Quem não se lembra do projeto daquela gigantesca empresa de gás natural, que montou uma “Casa da Energia” no Lago Sul, em Brasília, para fazer lobby em cima de congressistas, seus assessores, jornalistas e profissionais do Poder Judiciário? Nunca mais se falou sobre o projeto de lobby da Eneva, mas a casa foi alugada e o projeto foi detalhado para associações do setor elétrico.
Somando todos esses fatores, as expectativas não são boas para o MME no curto prazo. Afinal, as empresas querem saber o que o Governo tem a dizer no setor e o MME simplesmente está patinando, por enquanto não tem agenda, e não sabe o que dizer. Acendeu uma luz amarela.
O mais curioso de tudo é que o ministro Rui Costa não é um gestor inexperiente. Passou pelo Governo da Bahia, que é um estado importante. Deveria saber que mudanças na máquina pública não são feitas assim, no atacado. Você tira um aqui, outro ali, um outro acolá. Mas mantém um grupo, uma espécie de núcleo, que tem memória sobre o que está sendo feito. Ele chegou tratorando no DF. No seu listão, fez uma limpeza no MME. Talvez tenha ficado o pessoal que serve o cafezinho.
Ninguém tem o que dizer sobre o assunto ao ministro Alexandre Silveira. Quem acha que tem alguma coisa a reclamar, deve seguir na mesma calçada, descer a Esplanada um pouco mais e bater na porta da Casa Civil.