China faz barba, cabelo e bigode em energia na América Latina
A China avança velozmente na América Latina, ocupando um espaço em projetos de energia que teoricamente poderia ser do Brasil, mas que, por uma série de erros políticos, de vários governos, o Brasil não fatura.
É verdade que o inesgotável recurso financeiro chinês, para financiar obras de infraestrutura ou entrar em participações societárias, é um adversário de peso, mas isso poderia ser compensado de alguma forma pelo dinheiro do BNDES.
O fato é que, sem dúvida, o Brasil está dormindo no ponto, graças a uma política externa sem rumo efetuada nos últimos anos.
É o que o Brasil, com atraso, aparentemente pretende corrigir agora, na expansão do gasoduto de Vaca Muerta, na Argentina, conforme anunciado pelo presidente Lula, em Buenos Aires, há poucos dias.
Os chineses estão alguns anos-luz na frente do Brasil, mesmo em países que fazem fronteira com o nosso País. A PowerChina, por exemplo, está terminando as obras da hidrelétrica de Ivirizu Sehuencas, de 290 MW, na Bolívia (veja uma nota na seção “O que se diz” deste site).
Entretanto, a presença chinesa em projetos de geração elétrica na região é muito mais ambiciosa, mostrando que a diplomacia de Beijing não brinca em serviço. E que a China está repetindo na América Latina o sucesso da política desenvolvida na África, envolvendo financiamentos, equipamentos e até mesmo mão-de-obra.
Hoje, a África é praticamente um canteiro de obras chinês, irrigado naturalmente com o farto dinheiro de Beijing. O Brasil nem chega perto. Em vários países tem as impressões digitais dos chineses, em obras de boa qualidade: escolas, hospítais, rodovias e até mesmo estádios de futebol. É coisa para superpotência.
No início deste ano, foi anunciado que na província de Jujuy, no Norte da Argentina, a mesma PowerChina desenvolve o projeto de Cauchari, que simplesmente é considerada a maior usina fotovoltaica do mundo.
Quando concluído, o projeto Cauchari contará com 1,2 milhão de painéis solares. Hoje, a usina tornou-se um cartão de visita para os empreendimentos envolvendo a China na América Latina.
Outro país vizinho para o qual os chineses olham com muito carinho é a Guiana. Desprezada pelo Brasil na nossa fronteira Norte, a modesta Guiana, que tem potencial de recursos minerais e energéticos, porém, atraiu a atenção dos chineses, que trabalham muito bem nos bastidores na dobradinha governo/empresas.
A PowerChina ficou em segundo lugar na licitação para construção de uma térmica de ciclo combinado com capacidade de 300 MW. Mas o gás natural que vai alimentar essa UTE será fornecido por uma empresa na qual outra companhia chinesa, a CNOOC, tem uma participação societária de 25%.
Aliás, essa mesma CNOOC já está presente no Brasil. Entrou como sócia da Petrobras no campo de Búzios, em 2022, e também tem um contrato com a estatal brasileira para escoar e processar o gás natural do pré-sal.
Ainda na Guiana, a PowerChina também está participando da licitação para construção da hidrelétrica de Amalia Falls, de 165 MW. A abertura dos envelopes está prevista para ocorrer em 2023.