O setor de energia pede socorro
Quando este site sugere uma manifestação das associações empresariais do setor elétrico a respeito da situação inusitada de hoje, quando o MME está há dois meses sem secretário-executivo, não está pensando, é lógico, numa porrada no presidente da República, na presidente do PT ou em algum ministro. Muito menos no ministro de Minas e Energia, pois este é totalmente vítima dessa espécie de complô organizado pelas lideranças petistas.
É óbvio que não se trata de algo desse nível. Afinal, as associações empresariais existem para fazer lobby. E lobby não se faz com paulada na testa. Ao contrário, é algo um pouquinho mais educado, movido a boas comidas, excelentes vinhos, restaurantes cinco estrelas e um argumento macio para seduzir quem precisa ser seduzido.
Neste caso, o Governo já passou dos limites e merece um puxão de orelha. Mas como as associações empresariais do setor elétrico não nasceram para isso, pelo menos poderiam fazer algum tipo de manifestação de alto nível, ponderando ao Governo tecnicamente porque o MME não pode ficar sem secretário-executivo. Talvez possa ajudar o Governo (leia-se Palácio do Planalto) a se conscientizar e fazer aquilo que precisa fazer, que é tomar uma decisão rápida.
Também é relevante compreender que o partido majoritário do Governo, o PT, não pode vetar todas as sugestões de nomes feitas pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
É bom lembrar que Silveira não se ofereceu para ser o titular do MME. Candidato a senador em Minas Gerais, na última eleição, e não reeleito, trabalhou bastante para angariar votos em favor do candidato Lula. No final, viu-se que a eleição em Minas Gerais foi bastante decisiva. Como os votinhos conseguidos por Silveira para o candidato Lula foram muito importantes, o presidente eleito o convidou para assumir o MME.
Quem teve a oportunidade de fazer o curso para ser oficial do Exército sabe que uma das primeiras lições que se aprende é a seguinte: quem dá a missão, oferece os meios. Ou seja, o comandante que determina uma missão ao subordinado diz que, para cumprir a tarefa, ele terá os meios tais e tais à disposição, seja de pessoal ou equipamentos.
No Ministério de Minas e Energia é a mesma coisa. O presidente Lula empossou Silveira como titular da Pasta, mas precisa lhe oferecer condições adequadas de trabalho. As organizações sindicais controladas pelo PT não podem, por exemplo, ficar detonando o ministro por indicações ao CA da Petrobras. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, não pode vetar nomes propostos por Silveira sob qualquer pretexto na ocupação de cargos no MME.
E Gleisi Hoffmann não pode atropelar o regime de coalizão e impor seus candidatos na presidência da Petrobras ou na direção geral brasileira da usina de Itaipu. São regras básicas da convivência política de um partido que é minoritário no Congresso e armou uma ampla coalizão para obter governabilidade. É assim que funciona.
Voltando às associações empresariais do setor elétrico, elas poderiam se manifestar em alto nível apresentando as ponderações técnicas pelas quais o MME não pode ficar do jeito que está. Só que a situação está tão ruim, mas tão ruim, que os dirigentes dessas associações aparentemente foram tomados por uma apatia generalizada e ninguém faz nada. Existe uma espécie de catatonia nas associações, motivada pela perplexidade de ver tudo isso acontecer.
Aí fica complicado. As associações não fazem nada. O Palácio do Planalto não faz nada. O ministro é impedido pelo PT de fazer qualquer coisa. Tudo está praticamente travado e as poucas coisas que acontecem na área estão longe de serem as mais relevantes.
Não é o que se prometeu na eleição. Socorro.