O Paradoxo da Abraceel
Se o mercado livre de energia elétrica no Brasil fosse uma fração do mundo científico, haveria o Paradoxo da Abraceel.
Como se sabe, um paradoxo científico é constituído por uma ideia bem estruturada e coerente, mas que apresenta elementos contraditórios em si mesma.
Nesse contexto, trazendo para o nosso mundinho brasileiro do setor elétrico, o que seria o Paradoxo da Abraceel?
Ora, a Abraceel defende com unhas e dentes, desde a sua criação, não só a ampliação do mercado livre, mas a portabilidade total da conta de luz, da mesma forma como hoje existe, por exemplo, nas contas de telefonia ou nos planos de saúde. Totalmente legítimo e ninguém contesta o direito dos comercializadores de aspirarem um dia a dispor da possibilidade de atuar nesse mercado livre de amarras.
Aí surge o Paradoxo da Abraceel. No mesmo tempo em que a associação reivindica essa abertura radical do mercado, a associação faz de tudo para impedir que as autoridades do setor elétrico (Aneel e CCEE) avancem na implantação do chamado “monitoramento prudencial”, que é uma forma mais sofisticada de acompanhar as comercializadoras, do mesmo modo como o Banco Central olha para a rotina dos bancos. Em bom português, os comercializadores querem mais mercado, mas também não querem o Poder público nas proximidades.
No paradoxo científico, uma ideia se opõe à outra. No caso da Abraceel, dos seus associados e do “monitoramento prudencial” isto está mais do que claro. Não é feito com truculência, mas basta acompanhar de perto o trabalho da associação e ver o teor das suas manifestações junto à Aneel, à CCEE e ao MME.
É difícil imaginar que o governo vai liberar o mercado dessa forma, quando os pouco mais de 10 mil consumidores atuais do mercado livre serão milhões, sem que as autoridades de fiscalização e controle possam estar atentas às operações e aos números das empresas que operam no ML Alguém vai ter que jogar a toalha.