Silveira e Lula falam a mesma língua
Maurício Corrêa, de Brasília —
O segundo e último ministro de Minas e Energia de Jair Bolsonaro, Adolfo Sachsida, ficou no MME apenas sete meses. Mas, nesse curto tempo, mostrou que tem um entendimento sobre a política bem acima da média. Elegeu a defesa dos consumidores como a sua estratégia de gestão e foi em frente, com relativo sucesso.
Deu um banho de bola, que o então presidente da República nunca conseguiu entender e por incrível que pareça desprezou numa difícil campanha de reeleição. Sachsida deu a Bolsonaro um presentão para a campanha, mas o presidente jogou pela janela. Preferiu falar daquelas coisas meio sem sentido que ele falou exaustivamente no cercadinho do Alvorada durante todo o seu Governo. Essas coisas acontecem na política e são muito interessantes para um psiquiatra.
O ministro Alexandre Silveira não fica atrás do seu antecessor em termos de capacidade de olhar para o Brasil, para o governo e para a Pasta que dirige. Depois de um período sofrido de 100 dias, em que foi escandalosamente sabotado por gente do próprio governo, por razões partidárias, Silveira não perdeu tempo e também elegeu o seu assunto preferido.
Sem esquecer outros aspectos técnicos do MME, que são importantes, mas que não dão visibilidade, o ministro deixou essa parte mais árida para ser tocada pelo secretário-executivo Efrain Cruz, e abraçou a tese que é fundamental para ele e o Governo: a transição energética é a nova agenda do desenvolvimento econômico. E nesse campo, o Brasil é um dos líderes mundiais.
O ministro de Minas e Energia do presidente Lula é um político rápido no gatilho. Ele sabe que o seu tempo no MME provavelmente será curto, caso queira, realmente, disputar a eleição para prefeito de Belo Horizonte em 2024, que poderia servir de trampolim para o Governo do Estado em 2026. Então, dispõe de mais ou menos um ano para colocar a sua Pasta trabalhando pesado em relação à transição energética.
A sua participação em vários eventos realizados nos últimos dias, em Goa, na Índia, no âmbito do G20, mostra que Alexandre Silveira não está para brincadeira. E sabe empalmar o Poder que lhe deram. Nunca se esquece de elogiar o presidente da República, que o colocou no MME menos por convicção de que seria um bom ministro e mais como um agradecimento pelos votos que Silveira e seu Partido, o PDS, deram ao candidato do PT, em Minas Gerais, na última eleição. Silveira trabalhou pesado nessa eleição em favor de Lula, mesmo sendo derrotado na sua vontade de continuar em Brasília como senador.
Lula tem vários defeitos, mas também tem qualidades. Uma delas é reconhecer e valorizar aqueles que lhe dão apoio. Tem muito político bom de voto por aí que não consegue entender que na Política o toma lá, dá cá é uma lei não escrita, que deve ser respeitada. Lula sabe ser grato, compreende a sutileza de como esse jogo é jogado e prestigia Alexandre Silveira no MME. É uma dobradinha que deu certo na última eleição, está dando certo no Governo e logicamente tem futuro.
O caos e a indefinição dos primeiros 100 dias de Silveira no Governo já fazem parte do passado. Agora o titular do MME já definiu o seu rumo e entende de transição energética mais do que qualquer outro colega de ministério. É verdade que o MME não é só isso, mas para isso ele tem um secretário-executivo no qual pode confiar.
Silveira tem total convicção e sabe que a transição energética é a direção estratégica correta a ser seguida.
Ele e Lula estão falando a mesma língua.