Sem surpresa, Cpamp joga a toalha
Maurício Corrêa, de Brasília —
Sem constituir qualquer surpresa, a Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico, mais conhecida pela sigla Cpamp, capitulou.
Com zero de respaldo, até mesmo entre aqueles agentes do SEB super-amistosos, que gostam de puxar o saco do Governo em tempo integral, a comissão realizou uma plenária por videoconferência, na manhã desta segunda-feira, 31 de julho, e simplesmente jogou a toalha, postergando a entrada em operação, que estava prevista para janeiro de 2024, do Newave Híbrido e da proposta de representação de cenários estocásticos de ventos.
Desde a sua adoção, os modelos matemáticos de formação de preços no setor elétrico brasileiro vieram aos trancos e barrancos, ao longo dos anos. Há muito tempo perderam a credibilidade. Até que vieram as mudanças climáticas, produzindo grandes secas, e surgiram com força as energias renováveis, fazendo com que as usinas eólicas e solares, com a sua intermitência na geração elétrica, detonassem um modelo que já era caótico.
É possível que uma das próximas iniciativas a respeito da Cpamp talvez seja o anúncio da sua própria dissolução. A associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, chegou à conclusão que a comissão já não tem qualquer necessidade de existir e pediu o seu fim, com a transferência de suas funções para a Aneel. A associação diz que não há transparência nos trabalhos da Cpamp.
Este editor não vai aqui perder tempo com o blá-blá-blá da Cpamp, pois em “N” oportunidades já tentou mostrar aos leitores que é uma parafernália tecnológica que só tem a função de enganar os mais desavisados. E, embora represente custos elevados para os consumidores, o Governo não tem a coragem política de tomar uma atitude mais séria, optando por paliativos. Entra Governo, sai Governo, ninguém quer sequer discutir o assunto.
É impressionante como a videoconferência desta segunda-feira, organizada pelo Ministério de Minas e Energia, drenou boa quantidade de energia, inteligência e tempo de excelentes técnicos da área de energia elétrica, pertencentes ao MME, EPE, ONS, Aneel e CCEE.
Houve 28 participantes na videoconferência, que poderiam talvez estar dedicando o seu tempo a alguma coisa mais mais relevante para o País. Mas, por um dever funcional, ficaram ali, provavelmente alguns ainda com sono e bocejando, ouvindo o que a Cpamp tinha a dizer.
Entre os participantes, este site destaca o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Luiz Carlos Ciocchi; o diretor de Planejamento também do ONS, Alexandre Zucarato; o superintendente de Mercado da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Alessandro Cantarino; a conselheira Talita Porto, da CCEE. E dois servidores de alto nível do MME: Fernando Colli Munhoz, que é secretário-executivo-adjunto, e Gentil Nogueira Sá Júnior, secretário nacional de Energia Elétrica.
Todos os participantes ficaram ali, naquela videoconferência, como se o assunto em discussão tivesse realmente alguma importância para o SEB e para o País.
O mais lamentável nisso tudo é que é uma geração de técnicos de certa forma perdida no tempo e no espaço. Os modelos computacionais que formam os preços do setor elétricos já estão em vigor há quase 30 anos e, por uma questão geracional (estamos falando de especialistas que cresceram estudando e acreditando nesses programas), enfim, profissionalmente, perderam um tempo precioso na carreira levando essa coisa a sério.
Nunca fizeram outra coisa na vida. Sempre acreditaram no modelo de formação dos preços por programas computacionais. Essa tem sido a verdade absoluta, que ninguém ousa contestar. Não querem correr o risco de virar uma espécie de pária no setor elétrico brasileiro.
Só que hoje é possível perceber que esse troço deu água. E um simples jornalista, como este editor, que não tem rabo preso com as panelas de engenheiros e economistas modeleiros que se formaram no SEB, pode entrar nessa seara e provocar. Por mais que os gênios matemáticos do Cepel e das consultorias contratadas pelo Governo inventem novas fórmulas, o que existe é um modelo insustentável. Já está passando da hora de arranjar algo melhor.
O pior de tudo é que eles sabem disso, talvez queiram acabar com essa bobagem dos programas computacionais, mas simplesmente não sabem o que colocar no lugar.
Então, empurram com a barriga, esperando que alguma ajuda venha do Céu e possa oferecer um fiapo de esperança ao setor elétrico brasileiro.
Enquanto isso não acontece, é lógico que alguém ganha um dinheirinho, tentando consertar o que não pode ser consertado. Afinal, os gênios não são estúpidos e não trabalham de graça. E sabem aproveitar as oportunidades e cobrar caro. Por isso, tem muita gente empurrando com a barriga um modelo de formação de preços que não serve para nada. É triste escrever isto, mas infelizmente é a realidade.