Luz no campo é anterior ao PT
Os governos, em geral, às vezes se comportam como se não tivessem apreço pela opinião pública. Sempre dizem que têm, mas no fundo acreditam que é algo a ser manipulado, como se todos fossem idiotas.
Só hoje, de diversas agências do governo federal, este editor recebeu 12 mensagens oficiais, dando conta do relançamento do Programa Luz para Todos.
É fácil compreender que, no governo anterior, houve uma clara negligência em relação a esse tipo de programa social, até porque os beneficiários eram basicamente da chamada agricultura familiar e esse segmento, na visão torta e desinformada do governo passado, estava identificado com a esquerda.
Enfim, uma bobagem ideológica total, como praticamente tudo o que se falou no famoso cercadinho do Palácio Alvorada.
Este jornalista considera importante o atual governo divulgar as suas ações, até porque mostra que tem gente trabalhando em assunto sério e da maior relevância.
Mas, como se costuma dizer em tom de brincadeira, “menas, governo, menas”. Os programas de eletrificação rural não foram inventados no Governo do PT, como o marketing excessivo dá a entender.
A energia elétrica, no Brasil, é o serviço público com maior universalização. Quase 100% dos brasileiros, há vários anos, têm acesso à energia elétrica. No entanto, num País continental como a Terra de Santa Cruz, com disparidades enormes nas áreas geográficas e sociais, há um número relativamente pequeno de consumidores, principalmente nas regiões Norte e Nordeste (considerando a população total do País) que não está conectado às redes de distribuição de energia elétrica.
As causas são variadas. Na Amazônia, são pequenas comunidades, distantes, que tornam economicamente inviáveis levar os fios de distribuição até elas. Seriam as linhas de transmissão mais caras do Planeta Terra. Há anos, essas comunidades são abastecidas por energia elétrica gerada localmente por motores a óleo, situação que está sendo pouco a pouco modificada com a implantação de pequenas usinas solares. E a floresta agradece.
Esses geradores são caríssimos e essa energia por eles gerada é bancada pelos consumidores de todo o País, num sistema de rateio, através de um subsídio denominado “Conta de Consumo de Combustíveis”.
No Nordeste, o problema se repete principalmente nas regiões mais áridas, onde pequenos agricultores de municípios paupérrimos e cujos habitantes basicamente vivem dos benefícios da Previdência Social não contam com a energia elétrica fornecida pelas concessionárias de distribuição.
Na eletrificação rural, repete-se a mesma situação de demagogia e apropriação indébita pelos políticos de iniciativas de interesse social. Ninguém pode negar, por exemplo, que a paternidade do programa de obras da transposição do Rio São Francisco tem o DNA do PT, pois nasceu no Governo da presidente Dilma.
Da mesma forma, o programa Minha Casa, Minha Vida, de habitações populares, surgiu no Governo do PT, e foi rebatizado de Casa Verde e Amarela pelo presidente Bolsonaro.
Na eletrificação rural é a mesma coisa. Vendo o material distribuído nesta quinta-feira pelos marketeiros do presidente Lula, fica a impressão que a preocupação com a área nasceu no Governo do PT. Mas não é exatamente assim.
Só para falar do Governo FHC para cá, nesse período foi criado o Luz no Campo, um razoável programa de universalização da rede rural de energia elétrica do Governo Federal. Surgiu por volta de 1999/2000 pelo presidente Fernando Henrique e atingiu boa parte da meta prevista.
Aí veio o Governo Lula, em 2003, com a preocupação de investir mais na área social, pois era uma promessa de campanha. O Luz no Campo mudou de nome e passou a se chamar Luz para Todos. O programa foi apenas rebatizado. E o trabalho simplesmente continuou.
É verdade que, com o Governo Bolsonaro, o programa continuou operando, mas não foi nem sombra do que tinha sido no período do PT, devido ao viés ideológico equivocado. Agora, sob o maior estardalhaço, é anunciado o relançamento do Luz para Todos, que já se chamou Luz no Campo. Essa turma aprendeu com Lavoisier que nada se perde, tudo se transforma.
Os políticos brasileiros poderiam ser um pouco mais responsáveis e deveriam parar de brincar com a opinião público. Façam os seus programas, façam as suas obras, gastem a grana do orçamento federal autorizada pelo Congresso Nacional. Mas, por favor, parem de enganar.
Não basta mudar uma vírgula aqui ou ali ou até mesmo o nome de um programa governamental para que as coisas possam fluir de outra maneira. Não é assim que funciona. Esse pessoal do marketing é muito criativo, mas “menas, marketing, menas”.