Palmas para o Novo PAC
Um belo dia, durante o Governo Sarney, o chefe da Assessoria Econômica e o chefe da Comunicação Social de um importante ministério da área econômica foram chamados pelo ministro ao Gabinete.
A conversa foi curta e grossa. O ministro disse mais ou menos o seguinte: “Senhores, revirem todas as gavetas do ministério (ainda era a época da papelada) e produzam para mim, em 48 horas, uma proposta de plano de desenvolvimento para marcar a gestão do presidente da República. Estão dispensados. Mãos à obra”.
Um olhou para o outro, o outro olhou para um. Aquela ordem inusitada era surpreendente. Ninguém fez pergunta. Os dois subalternos trabalharam como loucos e em 48 horas estava prontinho, nas mãos do ministro, um maravilhoso plano de desenvolvimento, cheio de projetos mirabolantes, dos quais a maioria obviamente nunca saiu do papel naquele Governo.
Alguns se transformaram em realidade décadas depois. Existe uma coisa chamada capilé e não se faz nada na face da Terra se não existir o tal do capilé. Parece que tem gente que não sabe disso ou finge que não sabe.
O ministro já virou fumaça há muito tempo, mas os dois assessores ainda estão por aí, bem derrubados, e podem testemunhar a favor deste editor.
Bem, é mais ou menos assim que funcionam programas como o Novo PAC. Muita coisa vai sair do computador, obviamente, mas muita coisa por enquanto é apenas ilusão ou depende de “N” fatores. Não há muita diferença entre o Governo Sarney e o Lula 3.
No Novo PAC está, por exemplo, o término da usina nuclear Angra 3. O projeto um dia vai ficar pronto. Afinal, vários governos já despejaram ali bilhões de reais e não tem qualquer sentido deixar Angra 3 sem gerar, embora faltem apenas outros poucos bilhões de reais. Se vai ficar pronta na gestão do presidente Lula aí são outros quinhentos, como se diz na roça.
Outra curiosidade listada no Novo PAC é a conclusão da refinaria Abreu e Lima, no Nordeste. Isso é uma dor de cabeça desde o primeiro momento, pois o projeto foi engendrado quando o Brasil nadava em dinheiro no início dos anos 2000. O dinheiro estava sobrando em escala planetária. Era uma ideia mirabolante, dentro dos sonhos da solidariedade latino-americana que existiam quando o PT assumiu o Governo Federal.
O então presidente Hugo Chaves, da Venezuela, que adorava essas ideias, principalmente quando o dinheiro não era dele, deu força e a Abreu Lima até hoje está na categoria de projetos inacabados. Mas está lá, bonitinha, dentro do Novo PAC.
Curiosamente, no Novo PAC está listado um projeto que certamente pode causar frisson político no Governo, que é a utilização de recursos públicos na exploração de três poços exploratórios de óleo e gás na chamada Margem Equatorial.
Algumas pessoas não perceberam, mas isso também está no PAC, quando todo mundo sabe que é uma tremenda bola dividida no próprio Governo, entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o pessoal que a assessora, e o grupo encastelado no MME, em torno do ministro Alexandre Silveira. O presidente Lula desistiu da ambiguidade e agora se declara inteiramente a favor do projeto.
O raciocínio é claro. Se está no Novo PAC, é porque o Governo já tomou a decisão política de procurar petróleo e gás natural na Margem Equatorial.
Em bom português, a ministra Marina Silva perdeu a batalha e não tem mais o que fazer no Governo, pois fica dizendo a todo momento que o projeto depende de autorização do Ibama, que estuda o projeto.
Ora, o Governo já considera a Margem Equatorial uma questão resolvida e a ministra Marina foi atropelada mais uma vez pelo presidente Lula. O melhor que poderia fazer a sua biografia é pegar a bolsa, ir para casa e voltar às caminhadas diárias no Lago Norte, em Brasília.