Saída de Wilson é atribuída a carta do MME
Maurício Corrêa, de Brasília —
O que está sendo considerado como a gota d´água que levou Wilson Ferreira Junior a se demitir da Eletrobras foi uma carta datada de 08 de agosto passado, assinada pelo secretário-executivo do MME, Efrain Cruz, através da qual o Governo lembra a sua condição de maior acionista da empresa e pede a suspensão do último PDV feito pela Eletrobras, até que sejam examinados documentos solicitados à companhia.
Este site teve acesso à carta, na qual Efrain Cruz lembra que o “Ministério de Minas e Energia é responsável por zelar pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia elétrica e, considerando a importância da Eletrobras na disponibilização da oferta de energia elétrica, externo a minha preocupação com o desligamento de um número expressivo de funcionário e com as suas consequências para a manutenção da confiabilidade do suprimento de energia elétrica”.
No início da carta, o secretário-executivo assinalou que o PDV tinha desligado 1.500 colaboradores, mediante um processo terminado no dia 21 de julho deste ano.
“Sendo a União o maior acionista da empresa, manifesto minha apreensão em relação à possível saída desses funcionários qualificados e treinados pela empresa no decorrer de suas carreiras profissionais, e o respectivo impacto no resultado da prestação de serviço adequado de energia elétrica para a sociedade brasileira”, assinalou Cruz.
No final da carta, ele “solicitou” a Wilson Ferreira Junior para suspender o PDV até que o ministério pudesse examinar dois documentos pedidos à Eletrobras: o plano de ação considerando a existência do PDV e o plano de investimentos para os próximos anos, nos segmentos de Geração e Transmissão, e como será possível executar o planejado sem a força de trabalho desligada através do PDV.
Segundo este site apurou, Wilson Ferreira Junior considerou a carta como uma iniciativa indevida do MME na gestão da Eletrobras, mesmo reconhecendo o seu papel relevante de acionista, e, diante de todas as pressões que já vinha sofrendo no campo político, preferiu pegar o boné e ir embora da empresa.
Carta de renúncia surpreendeu mercado elétrico
A Eletrobras publicou fato relevante, nesta segunda-feira, 14 de agosto, informando que Wilson Ferreira Junior apresentou uma carta de renúncia ao Conselho de Administração da empresa. Imediatamente foi eleito Ivan de Souza Monteiro como novo presidente executivo.
Ferreira Jr teria alegado razões pessoais para deixar a empresa. Seu sucessor ocupava a função de presidente do Conselho de Administração e, nesse cargo, foi substituído por Vicente Falconi Campos.
Amazonense, 63 anos de idade, graduado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio de Janeiro, Ivan Monteiro fez carreira no Banco do Brasil. Tendo sido nomeado como diretor financeiro da Petrobras, em seguida virou o presidente da estatal.
O novo presidente executivo da Eletrobras também trabalhou no Banco Credit Suisse e integrou os conselhos de administração de grandes empresas, inclusive da área de energia, como CPFL Energia e Votorantim.
A mudança na maior empresa brasileira de energia elétrica mostra uma certa instabilidade na cúpula. Afinal, Wilson Ferreira Junior foi anunciado como presidente executivo no início de agosto do ano passado.
Naquele momento, imediatamente, houve forte otimismo em relação ao seu nome, pois ele tinha sido o principal executivo na própria empresa durante todo o processo que levou à privatização. Saiu da Eletrobras, virou presidente da Vibra, e depois voltou à Eletrobras.
Então, o mercado acreditava que Ferreira estava em condições totais para tocar a nova Eletrobras, já privatizada e livre das amarras do governo, com base numa agenda de trabalho visando o aumento de eficiência, enxugamento de atividades não lucrativas e redução de alavancagem.
Só que as coisas nem sempre são lineares dessa forma. Antes mesmo de Ferreira Junior assumir a presidência da Eletrobras, a empresa foi fortemente bombardeada pelo presidente Lula, que, desde a eleição, sempre criticou a forma como a empresa foi privatizada.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fez coro com o presidente da República e também colocou a boca no trombone. Essa situação deixou Ferreira Junior em constante estado de tensão por motivos políticos. Como presidente da Eletrobras, ele passou o tempo inteiro sob pressão do Palácio do Planalto e do MME.