SEB tem nova associação
Foi anunciada a criação da Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (ABSAE). A associação conta inicialmente com quatro empresas associadas fundadoras: Micropower, Baterias Moura, Newcharge e UCB.
Este site não tem nada contra a constituição de qualquer empresa ou de qualquer associação empresarial. Desde que o ato de criação siga as normas legais, tudo bem. É um direito que está sendo exercido.
Entretanto, filosoficamente, o site “Paranoá Energia” se reserva o direito de alertar o setor de energia, desde o início das suas atividades, para a proliferação de associações empresariais.
Na visão do site, essa pulverização fragiliza a representação empresarial do setor de energia, facilitando o trabalho do Governo, que é uma espécie de adversário comum para as organizações de defesa do empresariado. O Governo, que é sempre muito forte, por pior que seja, simplesmente adora aquela velha frase: “Dividir para reinar”. Quanto mais diluído for o poder empresarial, melhor para os partidos e os políticos, que podem impor suas teses com mais facilidade. Tem 20 anos que o setor elétrico escorrega nessa casca de banana e não percebe.
Os comercializadores de energia conseguiram o grande feito de, ao longo do tempo, mesmo passando por momentos difíceis que quase levaram a um racha, manter o segmento unido em torno de uma única associação. O mesmo aconteceu com os distribuidores de energia, com o setor de gás canalizado e os transmissores de energia. Foi difícil manter a unidade, mas todos eles conseguiram.
Entretanto, na área de geração de energia é um caos, em termos de representação. São oito associações, representando os interesses de empresas que atuam em geração eólica, geração solar, biogás, grandes geradores hidráulicos, pequenos geradores hidráulicos, geradores térmicos, produtores independentes de energia e cogeradores. Total falta de harmonia e objetividade. O ideal seria que cada segmento tivesse uma representação e acima de todas elas haveria uma representação unificada.
A questão é tão complexa, que duas associações representam os interesses das pequenas centrais hidrelétricas. Atuando separadamente, ambas têm enorme dificuldade para superar os obstáculos que aparecem no dia a dia das PCH´s. Agora, a ABSAE vem disputar a representação do segmento de armazenamento de energia, onde já existe a Abaque.
No Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), já existem quase 30 organizações. É verdade que algumas delas não são atuantes e nem se sabe exatamente porque existem. Entretanto, no caso do setor de armazenamento, o que chama atenção é que o Brasil ainda está praticamente engatinhando nessa área (impossível por exemplo comparar o Brasil com o que já acontece em termos de armazenamento na Inglaterra ou não China) e já existem duas associações disputando o protagonismo na área.
Em muitos casos, a criação de uma associação é consequência apenas de uma questão de egos. Alguns egos são tão grandes entre executivos do setor elétrico, que o cidadão não aceita a liderança de outro dentro de uma só associação, cria uma dissidência e uma nova associação é apresentada ao mercado. Isso já ocorreu em vários segmentos.
Outra situação que explica a enorme pulverização de associações é o interesse associativo. Às vezes, um grupo de empresas associadas têm interesse num nicho de atuação e não se sente representado pela associação, que se orienta para outro nicho. Surge o racha inevitavelmente.
O “Paranoá Energia” saúda a constituição da ABSAE, mas faz a ressalva. Cada associação que surge, deixa menor ainda o poder político efetivo do setor elétrico. A nova associação vai brigar pelo seu nicho. Raramente vai se envolver em algo maior, que seja do interesse coletivo.
Além disso, esse jogo coletivo é arriscado, dependendo da situação. Um exemplo recente que se tornou clássico em termos de desastre foi a negociação em torno do PL 414, que trata da modernização das relações comerciais do setor elétrico, no âmbito do Congresso Nacional.
Especula-se no mercado que foi a atuação desastrada de uma associação, trabalhando em caráter isolado, que destruiu as chances de aprovação do PL, em junho de 2022, o que era considerado líquido e certo. O Fase trabalhava numa direção, essa associação teria inventado outra estratégia, por sua conta e risco, e deu no que deu. Até hoje, já atrasou a aprovação do PL 414 em apenas um ano e três meses. O setor elétrico, que gosta tanto de oferecer placas de homenagem, deveria entregar uma aos dirigentes dessa associação para lembrar o “fracasso do ano”.
Na visão do site “Paranoá Energia”, o modelo atual de representação é arcaico e ineficiente, embora trabalhe de forma dedicada na defesa dos respectivos nichos isoladamente. Este editor acredita que a representação se tornará mais eficiente e politicamente respeitada a partir do momento em que trabalhar de forma unificada, mais ou menos como a indústria, o comércio ou a agricultura, através de uma estrutura verticalizada semelhante às confederações empresariais. Parar de pensar pequeno e pensar grande.
Enquanto o setor de energia trabalhar politicamente com o atual modelo, pulverizado em “N” associações empresariais, será apenas desperdício de tempo e dinheiro. O resultado sempre será aquém daquele que poderia ser.