A importância do GNL para o Transporte Marítimo
Victor Arduin (*)
A regulamentação da IMO 2020 trouxe mudanças significativas para o comércio marítimo, obrigando navios comerciais a fazerem a transição do óleo combustível de alto teor de enxofre (HSFO) para opções mais sustentáveis, como o óleo combustível de muito baixo teor de enxofre (VLSFO) ou o Gás Natural Liquefeito (GNL).
Até então o VLSFO tem sido a opção economicamente mais vantajosa, mas os baixos preços do gás natural este ano tem mudado essa perspectiva e, com a expansão de refino expandindo em um ritmo mais lento, pode ser que o GNL se torne uma opção mais viável para embarcações comerciais.
Os estoques de gás natural estão atualmente em patamares consideravelmente elevados na Europa, diminuindo os riscos de escassez que poderiam resultar em aumentos rápidos nos preços do gás natural.
Além disso, os Estados Unidos emergiram como um importante produtor, aumentando sua produção nos últimos anos. Portanto, não há indicativos de que o GNL possa se valorizar rapidamente este ano, tornando ainda mais evidente o seu potencial como uma fonte de energia mais limpa e econômica para o setor de transporte marítimo.
Enquanto isso, esta semana tem o impacto sobre os dados da inflação nos Estados Unidos. O relatório do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) deve ser de particular importância antes da próxima reunião do Federal Reserve em 19-20 de setembro, quando o Banco Central dos Estados Unidos tomará decisões sobre a trajetória das taxas de juros no país.
Apesar da considerável melhora na inflação em 2023, alguns riscos inflacionários ainda estão presentes e podem trazer volatilidade ao mercado de energia.
Embora os fundamentos para o petróleo permaneçam sólidos, apoiados pelas restrições de oferta da Opep+, a possibilidade de taxas de juros mais elevadas pode resultar em um dólar mais valorizado, tornando a commodity mais cara para detentores de outras moedas, além de potencialmente desacelerar a atividade econômica, o que está intimamente ligado ao consumo de energia.
Os combustíveis representam uma das maiores despesas no transporte marítimo, e nos últimos meses, os preços desses combustíveis têm passado por mudanças significativas, introduzindo novas dinâmicas que não eram vistas há anos.
Com as regulamentações da IMO 2020, que visam reduzir as emissões de enxofre na atmosfera, a indústria de transporte marítimo se viu diante da escolha entre três opções: Very Low Sulphur Fuel Oil (VLSFO), GNL ou a instalação de sistemas de limpeza de gases (scrubbers).
Desde a implementação das regulamentações em outubro de 2019, o mercado de energia tem experimentado considerável volatilidade. Durante a crise da Covid-19, os preços das commodities energéticas diminuíram, tornando o uso de VLSFO mais viável.
Posteriormente, os preços subiram rapidamente, tornando a instalação de scrubbers uma alternativa atraente. Agora, em 2023, a diminuição nos preços do gás natural tornou o uso de GNL economicamente viável para as embarcações.
Por exemplo, o preço do GNL tem se mostrado mais vantajoso em comparação com o VLSFO no porto de Rotterdam, um fenômeno que não ocorria há mais de dois anos. As recentes restrições no fornecimento de petróleo por parte da Opep+ tem elevado o preço do petróleo, tornando o bunker uma opção mais cara para o combustível marítimo. Logo, navios comerciais poderão optar por qual combustível desejam usar, o que mostra-se uma vantagem importante.
De acordo com um estudo da Clarksons, há atualmente 936 navios comerciais com capacidade para operar com duplo combustível, e outros 876 estão encomendados.
A capacidade de utilizar ambos os tipos de combustível oferece uma flexibilidade valiosa, permitindo a escolha entre óleo combustível ou GNL, de acordo com as condições mais favoráveis do mercado, o que se revela como um grande benefício diante das flutuações de preços. Empresas do setor estão atentas a essa oportunidade.
(*) Victor Arduin, analista de Inteligência de Mercado da hEDGEpoint Global Markets, uma empresa que atua globalmente em consultoria, gestão de risco e soluções de hedge para a cadeia de valor global de commodities, com experiência nos mercados agrícolas e de energia.